Corpo humano inclui cérebro e suas funções? Pode-se dizer que escala humana é escala mental, e em última instância é sobre o que se trata quando se fala em retornar a vida nas cidades.
É inacreditável que eu esteja
digitando no celular meu primeiro texto a ser publicado aqui neste blog. Estou
no hospital esperando que meu pai seja chamado para fazer uma tomografia e a
cousa vai longe. Ou fico assistindo a porcaria de baixíssimo nível que está
passando na TV ou faço algo útil. Tento digitar e consigo, melhor que esperava.
(pensamento de velho? talvez)
Enquanto digito me vem a imagem do Leandro digitando num celular uma reunião
de trabalho na SVMA SP como se fosse tradução simultânea para alguém que não
pode comparecer. Naquela época, acho que 2005, sequer existia smart phone, era
no tecladinho mesmo. Foi o primeiro ser humano que vi digitando com toda aquela
velocidade, dois dedões enlouquecidos, pior, sem olhar para o teclado, ainda
por cima conversando e fazendo comentários sobre o que discutíamos ali. Dei uma
espiada no texto e simplesmente não pude acreditar no que estava vendo:
perfeito e sem abreviações. Hoje é comum, mas ainda me espanta. Um dia vou
conseguir? (Uma década e meia depois estou conseguindo. Retardado? Talvez,
depende da referência)
Justo agora que estava dando certo minha tosca digitação, lei de Murphy, fomos
chamados para a realização da tomografia numa rapidez sem precedentes, uma hora
antes do marcado e previsto. Finalizo pelo quanto com dedões erráticos e olho
no corretor. Terminarei em casa no computador.
Chego em casa às 2h30 da madrugada, pego o celular exausto, impulsionado pelo entusiasmo com meu progresso, digito mais alguma coisa que não é salva, sei lá por quê. Fosse máquina de escrever não aconteceria. Pensamento infame! (Mãe, olha que bacana, ele digita e já sai impresso)
Escala humana, o que será hoje? O espaço do celular, fronteira final onde
nenhum humano jamais esteve?
Conflito de gerações? Com certeza, conflito de inteligências, mas
definitivamente não de biologia. Aí somos todos iguais. Escala humana.
O celular acelerou tudo, mudou
a mente das pessoas, faz tudo passar numa rapidez de fazer inveja a uma Ferrari
numa autobahn onde não há limite de velocidade. Antigamente, não tão
antigamente assim, olhar a paisagem pela janela do carro acalmava, deixava os
"pobrema" para trás. Hoje não sei mais para que tem janela, os
passageiros vão olho grudado no celular ou no tablete que faz parte do painel ou
está grudado nos bancos para os passageiros de trás. O próximo passo será não
ter mais motorista, que assim também terá o direito a enterrar seus olhos e
mente no tablet mais próximo, quem sabe até ver uma série no Netflix. Paisagem?
que paisagem? Quando não, seus dedos estarão digitando mais rápido que a pobre Ferrari.
Paisagem? para que? É chata. Escala
humana? O que é isto? Aplicativo novo?
Um dos milagres que a bicicleta oferece é sua escala humana, coisa que a velocidade do automóvel (mal-usado) atropelou. Quantos bits por segundo?
Na mesa ao lado um casal, cada um com seu celular a mão e aos olhos, almoça conversando sabe-se lá com quem. De seus dedos suponho que devam estar saindo mensagens. De suas bocas nada, bocas que só abrem na presença do garfo. Escala digital.
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