quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A lógica da sustentabilidade das cidades

 

O modelo de cidade que temos não se sustenta mais?

Amyr Klink em entrevista brilhante para o Provoca de Marcelo Tas e TV Cultura disse com sabedoria 'que o plástico não vai acabar, que o problema da poluição não é o plástico em si, mas a consciência de seu uso. O problema não está no que a gente vê, mas no que a gente não vê'

A bicicleta foi usada para transformar a vida nas cidades porque diminui a velocidade do trânsito na rua. Este é o ponto básico, diminuir a velocidade. Menos velocidade, mais vida, mais vida mais economia, mais vida mais integração social: unidos venceremos. Mas parados ou muito lentos perderemos. Há uma relação entre velocidade e economia, velocidade e crescimento, velocidade e desenvolvimento, velocidade e bem-estar social; relação para o bem e para o mal. A documentação sobre isto é farta e extremamente bem fundamentada. Num determinado ponto as curvas se cruzam e o que era benefício passa a ser custo. "É a economia, estúpido!", dito em 1982 por James Carville. Óbvio.

Poluição, lixo, assim como o dito grande vilão de nossos urbanos problemas, o automóvel, são pauta de discussão e busca de soluções faz muito. Nas cidades (e países) mais adiantados (e, portanto, educados) já se fez muito para solucionar estes problemas, pelo menos a olhos vistos. Mas como diz Amyr Klink, o problema mesmo está no que os olhos não veem. O automóvel está aí em cada centímetro de nossas vidas portanto é mais fácil acertar com pedras atiradas. O lixo nem tanto porque depois que sai de casa desaparece como por milagre pelo trabalho dos lixeiros. Sumiu, acabou, resolvido. Resolvido? Lixo não vai acabar e fiquem certos o automóvel também não, aliás são dois problemas que só aumentam.

O lixo gerado por vários países ricos continua sendo empurrado para debaixo do tapete ou para bem longe onde não possa ser visto ou sentido por narizes empinados. Lixo descartável não raro segue viagem sem visto nem passaporte para países pobres. Ou, se recicláveis, iam para a China que parece que não vai mais aceitar os ditos recicláveis. E reciclados voltam para nossas casas com tigelas, embalagens... A reciclagem, que ainda é muito baixa e ineficiente, ajuda e muito, mas continua sendo um problema urbano grave. "É a economia, estúpido!", dito em 1982 por James Carville. Óbvio.

Como diz Amyr, plástico é artigo básico para nossa civilização e é óbvio que sem ele nossa estrutura de sobrevivência não funciona, a individual, a coletiva, portanto a urbana. Esta é uma das cidades que não vemos, se não vemos não conhecemos, se não conhecemos, portanto, não existe, não é problema nosso.

Mesmo tendo vasta experiência passada que nos deu soluções funcionais o drama de nossas vidas urbanas segue a passo de lesma, em alguns casos de ostra, para uma solução. Aí não é uma questão econômica, mas pura estupidez coletiva.

O mercado imobiliário está a toda. Vai gerar muitos empregos de baixo valor agregado. Isto é bom ou não? O dito progresso será visível em edifícios cada vez mais altos. Bom para a economia de quem? Pelo que diz o plano diretor será bom para diminuir os problemas do transporte e facilitar as mobilidades. O que há por trás disto que não vemos, que não sabemos, que não nos interessamos.
Aqui em São Paulo, na esquina das ruas Pará com Itacolomy, vão ser colocados abaixo quatro ou cinco casas para a construção de mais um prédio que ainda não se sabe comercial ou residencial, provavelmente residencial, pouco importa. A questão é que nestas casas estão instaladas dois restaurantes, um consultório, e mais sei lá o que. Qual o problema? 
Primeiro, a esquina é um ponto de encontro da população local, pelo sim ou pelo não é um polo gerador de empregos, e carrega o que resta da memória do bairro. Vai ser demolido e com ele acabam empregos diretos e indiretos, geração de impostos, vida e principalmente geração de riquezas não visíveis que de alguma forma beneficiam quem precisa, mas é ou parece invisível.

O progresso que as grandes capitais do mundo vinham tendo antes da pandemia agora está sendo questionado. Como será a cidade ideal para todos? Mais uma vez estamos num impasse sobre para onde vai a humanidade que em sua maioria vive em cidades. É uma questão econômica, simples assim? Não é só, mas ou a cidade tem suas finanças equilibradas, no positivo, ou se está degradando tudo e num futuro não muito distante vai se distribuir pobreza e violência. Ok, não é simples assim, mas a história mostra que é o que acontece.
Londres perdeu 300 mil habitantes durante a pandemia que não conseguem renda para continuar na cidade. Uma barbaridade de nova-iorquinos saiu da cidade no mesmo período. Mesmo antes já havia uma discussão sobre as cidades ficando cada vez mais caras e os pobres sendo empurrados para longe, um problema que não é de hoje. As soluções não são fáceis e não há fórmula mágica. O único que podemos fazer é procurar ver o que não está na cara. 

Uma coisa me parece absolutamente clara: a solução, principalmente aqui em São Paulo e no Brasil, definitivamente não é demolir e reconstruir. O que geramos de entulho é absurdo, inaceitável. A perda da memória, das referências, num país onde a violência é epidêmica, uma selvageria completa. Num país que de certa forma silenciou com a morte de 600 mil concidadãos talvez explique.



Ideias geniais podem se transformar em mágicas perigosas. Bom exemplo é esta febre de construir casas com containers. O vídeo a seguir diz que...

 

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