quinta-feira, 9 de setembro de 2021

O coletivo tem que funcionar bem ou....

Numa coisa os pensamentos liberais, capitalistas, sociais, socialistas e até comunistas concordam plenamente: o coletivo tem que funcionar bem e para isto regras gerais devem ser seguidas ou ninguém sai ganhando. Até mesmo para os objetivos do anarquismo deve haver limites coletivos ou não se chega à plena liberdade individual almejada. Fato é que quanto mais desvios mais difícil chegar ao objetivo final. Muita gente não consegue acreditar, mas desunião não interessa nem mesmo ao mais liberal ou capitalista selvagem porque há limites para quanto um único alguém saia ganhando em cima do prejuízo do coletivo. Não interessa porque a conta não fecha imediatamente, a médio e principalmente a longo prazo, isto é líquido e certo. 

Interessante é que escrevi este parágrafo muito antes deste 7 de setembro e ele se encaixa perfeitamente neste pós vomitório de Bolsonaro.

O que o micro diz reflete-se no macro e vice-versa. A insanidade de um indivíduo no poder só existe porque é reflexo da insanidade de uma população; que por sua vez reflete-se no desenvolvimento de uma cidade; e assim por diante. 
O ponto comum, de união, é a aceitação da insanidade pelos interessados e também pelos contra. 
Se a base for boa a casa será estável e seus moradores viverão tranquilos. 

Não entendo como não conseguimos como coletivo, como cidadãos, como país, buscar o bom senso, ter sensibilidade para o que tem tudo para não dar certo. Conversando com uma amiga ela disse que não temos cultura e nem interesse, se tivéssemos olharíamos para trás, para o passado, como referência. Olhamos o passado como algo que passou e ponto final. Aí está. 

O progresso a qualquer custo, o progresso do "eu tenho direito" é burrice escandalosa. Como disse Eliane Cantanhede "somos um país de crentes". É; "meu Deus"; e nesta exclamação aparentemente inocente até Deus é individual, um "antes ele do que eu" para o outro que se "morreu". 


Sobre o que ia escrevendo para este texto faz um bom tempo?
A cidade é o espaço coletivo que tem que funcionar bem ou...

Como em qualquer outra parte da cidade os novos empreendimentos imobiliários pipocam e com eles a circulação de caminhões com entulho, terra, material de construção e concreto. Como não há controle do peso destes caminhões por onde passam estouram a calçada e todo pavimento das vias. Normalmente a calçada é reparada pelos responsáveis do empreendimento no fim da obra porque a lei diz que o responsável pela calçada é o lote lindeiro. O pavimento da rua não, este é de todos, portanto não é de ninguém, como se diz. A rua Paes Leme, que é rota de ônibus que saem do Terminal Pinheiros, está com todo seu concreto trincado e em alguns pontos afundando. Quem vai pagar pelos estragos? 
Mui provavelmente, com quase toda certeza seremos nós, os contribuintes.
Quem sai ganhando? Com certeza a curto prazo as empreiteiras e os empreendimentos que arcam com um custo bem menor com o transporte de entulho e material de construção. Passam um jato de água na saída do caminhão lotado e está tudo certo. Se cair um pouco da carga excessiva no meio da rua lá na frente ninguém viu, ninguém fala nada, não se pode provar quem foi o responsável. Muito menos pela deformação do pavimento. Recebem mais material por viagem, custo menor, o asfalto que aguente, e se não aguentar a obra está a acabar, dane-se, não serei eu, empreiteiro, a pagar.

Andei rodando em algumas estradas do interior paulista e em muitas o asfalto está numa condição ruim. A causa é fácil de identificar, basta ficar e olhar: caminhões com carga acima do permitido, o que é fácil de identificar tanto pelo "rebaixamento" da suspensão quanto pela dificuldade que eles têm para enfrentar mesmo subidas mais leves. Quem vai pagar o recapeamento? Mui provavelmente, com quase toda certeza seremos nós, os contribuintes. 
Este excesso de peso dos caminhões é ótimo exemplo de uma sociedade disfuncional em vários sentidos. O caminhoneiro carrega seu caminhão além do permitido para ganhar por viagem um pouco mais. Com isto vai ter um pouco mais dinheiro para ir ao supermercado, onde encontrará mercadorias mais caras por causa, dentre outras razões, do custo do transporte das mercadorias. O transporte das mercadorias fica mais caro porque quem transporta gasta mais com combustível e manutenção, tem que ir mais lento (tempo é dinheiro) e por isto cobra mais e na ignorância também pensa que está a ganhar mais. Como gasta mais não sobra dinheiro para trocar seu veículo de trabalho, o caminhão já obsoleto. Não trocando o veículo de trabalho emite mais poluentes e viaja com menos segurança o que faz com que o sistema público de saúde tenha mais atendimentos. Com o posto de saúde cheio a opção da família deste trabalhador caminhoneiro que só tem tempo para seu trabalho é ir até a farmácia da esquina comprar remédio sem prescrição médica, o que mais para frente vai gerar outros problemas clínicos. Como trabalha muito e só fica em casa quando está doente não tem tempo para descansar, para dar a devida atenção aos filhos. Crianças com problemas em casa tem menor rendimento na escola. O rendimento das crianças, dentre outras razões, é resultado do tempo sacolejando dentro do ônibus escolar caindo aos pedaços de tanto buraco. De volta para o lar a criança não brinca na rua, não usa a bicicleta que ganhou de aniversário, não conhece novos amigos, não se une... porque pode se machucar nos buracos. Com o tombo na calçada do vizinho velho se toma mais cuidados e se dá graças a Deus que há uma farmácia em cada esquina. E assim segue o maléfico círculo vicioso.

Em tudo há um ou mais pontos de convergência que podem ser produtivos ou destrutivos. A opção é...

Nenhum comentário:

Postar um comentário