High Line de NY deve ter nascido muito antes de receber os primeiros passos de cidadãos extasiados com a ideia genial; provavelmente germinou quando conseguiram equalizar as inúmeras distorções do funcionamento da cidade. Não sei em que estágio de ideia ou projeto o High Line estava quando colocaram em funcionamento as “ruas sustentáveis de NY” na Broadway (2007), praticamente fechando o trânsito de automóveis para dar espaço a pedestres, ciclistas e voyeurs pacificamente sentados em 20 quarteirões até então congestionados. Também não sei a cronologia do projeto desta nova Broadway, mas bato aposta que não teriam ariscado tanto se antes não tivessem dado um jeito na baderna generalizada da Times Square e redondezas varrendo as contravenções e contraventores, extinguindo a bandidagem geral, batedores de carteiras, assaltantes, traficantes, prostitutas, revitalizando teatros e cinemas que a muito viviam de pornografia e outras questões mais que afastam o grande público.
O sucesso costuma estar na qualidade dos detalhes, não no grande feito. Tolerância Zero de NY cuidou dos mínimos detalhes.
Aqui em São Paulo todos se perguntam sobre o destino da obra mais simbólica de Maluf: a Via Elevada Presidente Costa e Silva, o vulgo "Minhocão". Não resta dúvida que o Minhocão é o principal responsável pela profunda degradação não só das áreas em seu entorno como também do Centro de São Paulo. Mesmo a alegação que deu fluidez ao trânsito fazendo uma ligação rápida e necessária entre as zonas leste e oeste não se justifica em vista dos altíssimos custos gerados pelos inúmeros e graves efeitos colaterais.
Num ato de inteligência sem tamanho a esquerda renomeou esta obra tão polêmica e criticada para “Via Elevada Presidente João Goulart”, mas o minhocão continua.
Por tudo que li, por conhecer e gostar do High Line de NY, por ver que o viaduto de velhos trilhos desativados resultou num passeio agradabilíssimo entre e por dentro de edifícios, com vistas para o rio Hudson, espreguiçadeiras, bancos, cadeiras, floreiras, arbustos, seu entorno reurbanizado, e olhando para o que temos aqui em São Paulo no Minhocão, acredito que o melhor, mais sensato e barato será desmontar o Minhocão, e reaproveitar suas vigas em outro lugar, o que já foi proposto, com dados e números apresentados. Mas o povo não quer; quer ter seu sampa's high line, mais uma vez quer copiar o que está lá fora sem saber exatamente sobre o que se trata.
Fazer do Minhocão um parque suspenso parece bacana, mas é brincar com a falta de inteligência da população, pão e circo, e não falo do povão, mas dos instruídos, dos que conhecem, que tem leitura, viajados. Vai continuar dando sombra onde não deve, diminuindo a circulação de de ar, quebrando a visualização da avenida São João e Amaral Gurgel, o que é mais grave que possa parecer, abrigando um estacionamento (na curva) que poderia ser um parque... Vai rolar uma dinheirama na reforma, instalação de mobiliário. Vai custar mais caro que o desmonte, mais caro ainda para o poder público se pensar que as vigas podem ser reutilizadas em outro local. E aí entra a manutenção, opa! a manutenção de tudo, oba! Aos que apoiam o parque suspenso peço que lembrem dos mui frequentes problemas que historicamente temos com a manutenção de coisas públicas. Vou mais longe sobre manutenção: isto se for realizada. Quem vai controlar para não rolar um PF mágico? O dinheiro da obra é numa tacada, o da manutenção é permanente. Você prefere bolada ou pingado?
Pergunta final:
Quanto tempo duraram os equipamentos novos que foram colocados com a reforma da praça perto de sua casa? Deterioram, desapareceram ou foram roubados?
O sucesso de um empreendimento está nos detalhes. Relembro mais uma vez que Janette Sadik-Khan fez umas 2.000 reuniões oficiais, muitas delas no meio da rua, para ajustar os detalhes para implantação do sistema cicloviário de NY. Provavelmente fizeram um monte de reuniões com os afetados pela transformação da Broadway. E o mesmo com o High Line. Mais, com certeza eles têm o custo e os resultados sociais e financeiros no papel; curto, médio e longo prazo. Detalhes.
Cópia é a mesma coisa que o original? Pode ser. Pode até ser melhor que a original, basta usar a inteligência e fazer as mudanças necessárias.
São Paulo vai novamente virar NY como quis a geração cidade do automóvel ou desta vez vira Amsterdam com quer a geração ciclo ativista? Resposta no próximo capítulo de Plano Diretor da Cidade... Pelo quanto o que temos é que a especulação imobiliária segue cada dia mais alta alcançando os céus e a propaganda diz que como mobilidade ativa está na moda o caminhar e o pedalar tudo salvará. Será?
Nenhum comentário:
Postar um comentário