Faz uns dias um ciclista tomou uma jaca no meio da moleira - literalmente. Foi no Rio de Janeiro, na Vista Chinesa. Uns dias antes parado numa esquina esperando o sinal abrir tomei uma goiabada na face e ombro. Era hora do almoço, fome, o cheiro da goiaba delicioso, mas não deu para seguir, tive que fazer meia volta para casa para trocar a camisa e lavar o rosto. Lendo a notícia sobre a jaca da Vista Chinesa lembrei de minha goiabada e me perguntei se seria uma jaca mole ou dura. Rachou o capacete, devia ser dura.
Estou lendo "Adeus, Columbus", livro de estreia de Philip Roth, um dos melhores e mais renomados escritores americanos. Já é tarde, pelo menos para mim, 23:10 h, e abri o computador para escrever o croqui deste texto, coisa que antes de ir para cama não faço mais. De qualquer forma não vou conseguir dormir depois de ler de uma tacada só o segundo conto do livro, A conversão dos Judeus, história de um adolescente e a relação com sua mãe e seu rabino. Me faz lembrar minha pré adolescência no colégio de padres, o que não foi uma experiência muito fácil.
Normalmente leio mais de um livro por vez. O outro é "Competência social: mais que etiqueta uma questão de atitude" de Lícia Egger-Moellwald e Hugo Egger-Moellwald. O título diz tudo; o livro é divertido, fala sobre obviedades que nem sempre as fazemos óbvias. Deveria tê-lo lido quando pequeno e tudo teria sido bem mais fácil. Se há uma coisa que não tive foi competência social. Melhorei muito, mas ainda continuo duro de roer. O custo foi e continua sendo alto.
Lá pelo começo dos anos 90, naesquina da avenida Ipiranga com São Luís, também parado esperando o sinal abrir, com um motoboy a minha esquerda e um (ônibus) elétrico a minha direita fui bombardeado no ombro com um omelete completo. Olhei para os céus, procurando em conjunto com o motoboy e o motorista do ônibus, e vimos o urubu cagão. Caímos os três na gargalhada, daquelas de lágrimas nos olhos e tirar o fôlego. Quando cheguei em casa minha mãe teve dois ataques, um ao ver o estado de minha camisa e o segundo, às gargalhadas, ao saber da causa.
Já engoli mosca - literalmente - pedalando. Morro abaixo, freio solto, a milhão, boca aberta, o inseto bateu no fundo da garganta, dói e dá nojo. Dizem os médicos e treinadores que não se pode mastigar; ou cospe inteiro ou engole. Engoli. Bah! Não sou sapo.
O livro Competência social tem sido um pesadelo para mim. Me senti como se estivesse no confessionário e o padre por trás da treliça estivesse lendo os primeiros capítulos e perguntando "Meu filho, você já fez este pecado (toca leitura do competência social)" e eu, profundamente consternado, suando frio, respondo "Sim, fiz, fiz, fiz!" com dor no estômago e uma série de filmes, Pesadelo 1, Pesadelo 2, Pesadelo 3... passando pela consciência.
A falta de cuidados básicos com as formalidades sociais me fez comer muita mosca, quando não engolir sapos. Jaca na cabeça seria moleza, dura ou mole, a jaca, não a cabeça.
Olhando para trás na minha vida vejo os erros que fiz pela vida e me arrependo muito, muito mesmo. O tempo não volta. E neste exato momento, depois da leitura do conto de Philip Roth, uma maravilhosamente bem escrita paulada na minha cabeça, vejo que com relação à bicicleta e ao pedalar fui bem correto, o inverso do que fiz com meu social. Como ciclista urbano me arrependo de pouco, o que me deixa feliz. Daí talvez o porque da necessidade de pedalar e a liberdade que me traz.
Li de enfiada o "História politicamente incorreta do mundo" de Leandro Narloch que me aliviou a angústia no peito das duas outras leituras diminuindo meu sentimento de culpa com meu passado. Deveria ter lido quando novo e não teria cometido tantos erros porque não teria mistificado tanto pessoas e situações.
Amadureci, isto é que importa.
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