quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Ciclofaixas na av. Rebouças?

Para quem não é de São Paulo, av. Rebouças é a continuação da av. Francisco Morato, que por sua vez é a continuação da Rodovia Regis Bitencourt. É um dos eixos que ligam norte - sul. É uma das avenidas mais movimentadas da já muito movimentada capital paulista, dia e noite. 

A primeira coisa que me veio à cabeça quando vi as ciclofaixas implantadas na av. Rebouças foi "E os motociclistas, como ficam? O espaço para eles circularem entre os carros já era estreito, agora como fica?" Começo por aí.

Errado, eu estava errado. 
... e este texto ficou um bom tempo no Rascunho do Blog, um bom tempo, e aí me pergunto: Ou não, eu não estava errado?

Normalmente demoro para soltar os textos para fazer correções, quando não até modificações no sentido do que estou pensando e escrevendo. É o que deve acontecer aqui.

A circulação de ciclistas pela av. Rebouças é um fato consumado, e vem aumentando principalmente depois que implantaram as ciclofaixas na av. da Consolação, algo que eu não teria feito. Bom, e daí, o que fazer com a Rebouças? Implantar a ciclofaixa seria uma das possibilidades, mas... confesso que não gosto, me preocupa. E lá está ela.

Pedalei subindo e descendo pelas ciclofaixas implantadas e foi tudo tranquilo. Desci pensando no que ouvi um pouco antes de um ciclista: “Não gosto de ver ciclista descendo a milhão neste estreito cheio de tachões...”

Hoje almocei com Renata Falzoni, Fabio Minori e... e... uma simpática menina (que mais uma vez não sei o nome), e Teresa D'Aprile. Conversamos exatamente sobre implantar ciclofaixas ou alcalmamento de trânsito e eles defenderam pesado a segregação repetindo em moto perpétuo "tenho filho, tenho neto, tenho medo, agora não dá, mais para frente...". “Tenho medo” é mote generalizado e até entendo, mas os números não dão razão para tal. Aliás, estranho que haja tanta história sobre acidentes em ciclovias e ciclofaixas e curiosamente também não haja números, estatísticas.

Considero segregação um erro que vai cobrar um preço mais para frente. Eu só segregaria onde não há outra alternativa, o que pode ser o caso na Rebouças; mas...

Aprendi pela vida que usar a inteligência faz bem. Aceitar o que parece óbvio nem sempre é a melhor opção. Pensar não mata ninguém. (Ou mata?) Pavlov responde? Quem sabe?

Fui diversas vezes acusado de ser "ciclista profissional (obrigado pelo elogio indevido) que não sabia ver (creio que era esta a palavra) a segurança do ciclista comum".

Caraca! pelos critérios de segurança para os ciclistas que estão adotando hoje não tenho a mais remota sombra de dúvida que eu tinha muito mais preocupações do que os que me chamavam de "ciclista profissional (agradeço, é chiquérrimo, mas é indevido)" que não pensa no ciclista comum. Eu não teria culhões para implantar muitas destas ciclofaixas estão espalhadas pela cidade, muito menos na Rebouças. Agora está quase pronta a da av. Diógenes Ribeiro, ex Estrada da Boiada, uma insanidade.

O que teria feito na Rebouças? Acalmar o trânsito, diminuindo a velocidade na descida e sinalizar a obrigatoriedade do motorista que trafega na faixa da direita de se manter atrás do ciclista até a av. Henrique Schaumann onde começa o plano, aliás, o que acontecia quando não existia a ciclofaixa. O diferencial de velocidade entre ciclista, até os mais lentos, e motorizados não é grande.

O maior problema para a segurança do ciclista é o diferencial de velocidade entre ele e o automóvel. Quanto maior o diferencial, maior a possibilidade de acidente e mais grave o resultado. Numa descida o problema é a velocidade do ciclista em si. Ciclista em alta velocidade deve manter-se longe de obstáculos. Pedalar a milhão junto ao meio fio dá arrepios em qualquer ciclista que tenha um mínimo de conhecimento do que é uma bicicleta.

Os veículos na Rebouças passam pelo HC, onde a avenida é mais larga e há um ponto de ônibus no canteiro central, em alta velocidade, e logo diminuem bem velocidade tanto pelo estreitamento da avenida quanto em razão de um radar existente próximo a al. Lorena, uns 300 metros abaixo do HC. Este trecho sempre acomodou os ciclistas entre os carros.

Deveria ser instalado um semáforo com faixa de pedestres para os inúmeros pedestres que trabalham no Hospital das Clínicas acessarem o ponto de ônibus, o que chegou a ser recomendado pelo ITDP e Michael King. Hoje os que saem pela avenida do HC cruza pela passarela e muitos trabalhadores que saem por baixo do HC, 100 metros abaixo, se arriscam no meio dos carros. Este semáforo poderia ser o acalmamento de trânsito que os ciclistas necessitam.

Subida da Rebouças: o problema é que ciclista sobe muito lento e a diferença de velocidade para o trânsito motorizado é alta, o que em termos de segurança no trânsito não é recomendável. Me preocupa a situação do ciclista, mesmo circulando em faixa segregada. 

A novidade, previsível, é que os ciclistas estão descendo a milhão pela ciclofaixa de subida.

O ciclista sobe quase na velocidade do pedestre. A calçada é bem larga em quase toda a subida, com exceção da proximidade com a Gabriel Monteiro da Silva. Na esquina da Oscar Freire tem a estação metro Oscar Freire e o cruzamento de pedestres na Rebouças é agitado, mas há espaço na calçada para trânsito partilhado. Alargar a calçada sobre a ciclofaixa e segregar o ciclista sobre a calçada, fazendo com que ele subisse o resto partilhando a calçada?

Mas, é óbvio, os ciclistas estão descendo a milhão na contramão da ciclofaixa de subida, um PQP de perigo. Como não fazer com que os ciclistas desçam a milhão pela calçada, o que já acontecia? Com acalmamentos. Ou usando o bestunto para pensar em outra solução. Educação com certeza, mas provavelmente educação dá menos ibope que ciclofaixa, então seja o que Deus quiser.

E a Rebouças no plano, entre a Brasil / Henrique Schaumann e a Euzébio Matoso, esta sim já faz tempo com muito ciclista circulando? Minha resposta está no que escrevi: a Euzébio Matoso, esta sim já faz tempo com muito ciclista circulando. As ciclofaixas terminam antes da Faria Lima e, pior, antes da Euzébio que tem um trânsito pesadíssimo. Bom, também não lembraram da ponte.

A ciclofaixa está implantada, diminuiu o espaço para os motociclistas, e olhando com calma não sei se isto será bom ou ruim, se aumentará ou diminuirá a segurança deles. Provavelmente vão demorar mais para cruzar a Rebouças, o que também não sei que consequência terá. Bom ou ruim só se definirá com a coleta de dados sobre os acidentes. À primeira vista os motociclistas estão trafegando mais devagar, o que deve diminuir os acidentes, mas esta é uma observação empírica, ou seja, sujeita a erros crassos.

Sobre a segurança dos ciclistas? Quem sou eu para falar? Como ciclista fui desqualificado; como cidadão ainda posso me manifestar e digo que o tempo dirá: o que estão fazendo é um erro. Repetindo sempre: não é quanto, é de que forma, é com qualidade. A história não mente. 




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