Medo do que? Do diferente? Ou
medo de mudar, de sair do comodismo?
Houve e continuará havendo uma
gritaria com esta privatização do Pacaembu. Ninguém sabe exatamente o que vai
acontecer, mas todos tem certeza que privatização assusta e se assusta deve ser
combatida.
Pacaembu faz parte não só de
minha vida, mas da vida de minha família. Meu avô Fernando de Azevedo morava
próximo, minha mãe ia pegar água na bica que lá existia e da qual resta uma
pedra retangular com cara de leão que da boca jorrava a água pura e
cristalina. Está largada no estacionamento do ginásio do Pacaembu e ninguém se
importa nem sabe o que é. Naquela época o Estádio do Pacaembu e seu complexo
esportivo sequer existiam.
Descobri a piscina quando
assisti meu irmão Murillo competir numa prova de natação. Ele queimou a
primeira largada e na segunda, de birra, largou bem atrasado e mesmo assim chegou
em terceiro, e se tivesse mais uns metros ganharia a prova; coisas de Murillo.
Nado nesta que é a única
piscina olímpica pública do Município de São Paulo desde 1974, época que entrei
na FAAP, e vi de tudo, principalmente muito descaso da coisa pública com o
Pacaembu, mas também e principalmente dos usuários. Eu não só nadei, mas
durante um tempo fiz parte de um grupo colocou chuveiros, saboneteiras, levou
material de limpeza e limpou os banheiros, colocou um relógio na piscina, e manteve
a piscina funcionando para todos. Eu amo tudo aquilo e por isto estou feliz que
seja privatizado. Pacaembu não merece o desrespeito com que foi tratado.
Sábado passado Poliana Okimoto
e seus amigos organizaram um abraço da piscina do Pacaembu. Quando
entrei na piscina dei de cara com quase 200 nadadores na água sendo treinados,
um mar de gente que nunca havia visto na vida lá ou em qualquer outro lugar.
Fizeram os 20 tiros de 50 metros previstos numa ordem de fazer inveja. Lá
estavam os garotos de Capão Redondo que por falta de piscina treinam na Represa
do Guarapiranga. Não tirei fotos, não consegui, a emoção não deixou. Não entrei
na água porque gosto de nadar só e na piscina do Pacaembu tive esta mágica
oportunidade inúmeras vezes.
Na quarta-feira nadei praticamente
sozinho, uma espécie de despedida de tempo que não voltam mais, pelo menos não
devem voltar. Na saída conversei com o pessoal que vai assumir o Pacaembu.
Acreditem, eles são humanos, são normais, e conversam feito gente. Segundo o
que me foi dito em 2020 não muda nada, os equipamentos esportivos do Pacaembu
continuam funcionando da mesma forma que vinham funcionando. Faz sentido, eu
acredito, mas vamos ver. Infelizmente vivemos num Brasil da desconfiança generalizada.
Aconteça o que acontecer o que não pode é o complexo esportivo Pacaembu seguir
lentamente caindo aos pedaços como vinha acontecendo na coisa pública.
Não importa se o espaço é
público ou privado de uso público. O que importa é que tenha qualidade e seja
cuidado. O poder público já deu provas mais que contundentes que não tem
capacidade de manter um mínimo de qualidade na sua prestação de serviços. É
triste dizer isto, mas é fato. Ter medo de privatização não faz sentido. Tenho
medo é do silêncio do povo e de individualização extremada dos brasileiros em
geral. Isto apavora.
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