A segurança do ciclista pode ser resumida
assim: motorista vê o ciclista, distância do automóvel para o ciclista, diferencial
de velocidade entre veículos, tempo de reação do motorista, tempo e espaço
necessário para evitar a colisão.
Quanto mais baixa a velocidade do
automóvel, menor a diferença entre as velocidades do automóvel para o ciclista,
portanto mais tempo para o condutor do automóvel reagir. Menor a velocidade,
menor o espaço de frenagem. Mas o motorista precisa ver o ciclista ou não há reação,
não diminui a velocidade, nem desvia. (E ver ciclista não significa ficar cego
com luzes muito fortes piscando no olho).
Pensando nisto foram criadas inúmeras
formas de diminuir a velocidade dos automóveis, o que é chamado no geral de
acalmamento de trânsito, como todos sabem.
Este desenho mostra algumas das inúmeras
soluções para acalmamento de trânsito.
A documentação sobre acalmamento de
trânsito é vasta e os dados internacionais não deixam qualquer dúvida sobre seus
resultados positivos.
Já foi testado de tudo, inclusive algumas não convencionais, como esta dinamarquesa.
Não precisa ir longe; das bem poucas coisas boas que
Haddad deixou em sua administração em São Paulo sem dúvida a redução da
velocidade foi de longe a melhor. Há uma técnica apropriada para cada
localidade, incluindo aí a implementação de ciclovias ou ciclo-faixas.
Fui e continuo sendo contra a implantação
indiscriminada de ciclovias e ciclofaixas. Falo sobre isto faz quase 40 anos. Parece
que agora começam entender porque. Os que defendem segregação tem um montão de
razões, mas cometem o erro de pensar a segurança do ciclista de forma
completamente cartesiana sem olhar as variáveis, dentre elas a vida externa à
ciclovia, e, nossa!, ela existe. Mais, nunca imaginaram que na ciclovia
pedalariam seres humanos sujeitos a erros, manias, e no caso do Brasil falta de
civilidade e cortesia.
É óbvio que ciclovias são necessárias, mas
onde são necessárias, não em tudo quanto é lugar. Aliás, dependendo do local, posição
e técnica de engenharia de trânsito onde se instala uma ciclovia ela pode ser
mais perigosa que pedalar junto ao trânsito. Tem muita gente chegando a esta
conclusão. Mas isto são outras histórias que ficam para uma outra vez.
De volta a Costa Carvalho:
Faz um bom tempo me contaram que iriam
fazer um alargamento da calçada que começaria na rua Natingui quase com Pedroso
de Moraes e se estenderia por toda a rua Costa Carvalho, e que o projeto tinha
"aprovação e entusiasmo dos moradores". Esta última parte eu guardo o
direito de duvidar sem rir, mas vamos lá, sigamos em frente.
A discussão sobre o que fazer na Natingui
- Costa Carvalho vem de longa data. Desde a primeira vez que ouvi a história
sempre disse que era contra o alargamento da calçada e preferia colocar
acalmamentos de trânsito, inclusive usando carros estacionados a 45º ou 35º como
barreiras, técnica comum nas cidades europeias. Muito mais barato que a obra de
alargamento de calçada e no caso da Costa Carvalho também mais eficiente. Hoje,
com a pseudo ciclo-faixa que está lá os carros passam tão velozes como antes e ainda
foram perdidas inúmeras vagas de estacionamento, o que deve ter deixado
comércio e moradores felizes da vida. Em alguns pontos o alargamento da calçada
até seria bem vindo, mas para as pessoas sentarem para tomar café, ler,
conversar ou mesmo fazer uma refeição, não como foi feito na rua Natingui que
serve praticamente só como ciclovia. Aí repito: não é sobre a bicicleta; é
sobre a cidade, é sobre a melhora na qualidade de vida de todos, não de alguns.
A Natingui poderia ser resolvida de outras formas, mais simples, baratas e que
deixariam todos felizes.
Como tudo nesta vida, carros estacionados
em 45º ou 35º tem seus prós e contras. Vai depender de uma série de fatores,
como o número e tamanho dos veículos estacionados, a distância entre o bloco de
vagas criadas, o que existe no entorno, pontos de destino, sinalização
horizontal e vertical....
Como cidadão que paga impostos e quer
vê-los bem aplicados gosto de soluções que tenham um custo/benefício, de
preferência a curto, médio e longo prazo e que possam beneficiar o maior número
possível de cidadãos.
O que não pode, nem deve, é não tentar,
não experimentar, não correr riscos, ou pior, experimentar com muita timidez, o
que beira a má fé.
Alguém soltou um comentário na rádio que
enquanto o planeta avança cada dia mais rápido nós, brasileiros, continuamos
pensando na morte da bezerra.
Ora, no planeta civilizado estão
trabalhando para extinguir as ruas como conhecemos. Ruas viram espaço público
onde tudo circula junto. Acabam as segregações para pedestres nas calçadas,
ciclistas nas ciclovias, e rua para automóvel. E nós? Vamos continuar copiando
o que eles fizeram há 40, 50 anos atrás?
Abre o Google Maps para ver a ciclovia que liga a rua Natingui com o bicicletário da Terminal Pinheiros. Ops, o que o Google Maps mostra não é o mesmo trajeto desta "ciclovia", mas o caminho mais rápido para o ciclista: Natingui, Costa Carvalho, Sumidouro e Gilberto Sabino.
https://www.citylab.com/perspective/2019/10/micromobility-urban-design-car-free-infrastruture-futurama/600163/
Lugar de todo e qualquer veículo é na rua, está escrito no CTB, portanto lugar de bicicleta, que pelo CTB é um veículo, também é na rua. Tirar espaço de pedestre ou espaço de convivência em nome das mobilidades para mim não é o caminho.
Gostei muito do artigo. Você, como sempre bem técnico e qualificado. Procuro ao máximo seguir seus conceitos e ensinamentos. Parabéns.
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