domingo, 27 de outubro de 2019

O elo perdido no senhor dos anéis

Qual seria o elo perdido que daria ao Brasil um futuro de fato melhor? Esta é a pergunta que muitos se fazem neste país do futuro que não só nunca chega, mas que a cada dia parece mais e mais distante do tão esperado futuro melhor.

Da mesma forma que o jeitinho brasileiro de um passado distante, aquele do fazer as coisas de uma maneira diferente, com inteligência, desprendimento, para chegar a um resultado bom, surpreendente, mudou de bom vinho, boa cachaça seria melhor, para água podre e fedorenta, firmado e afirmado depois de uma propaganda, a famosa "lei de Gerson", simbolo de sacanagem, a má esperteza, desvio, má fé. Deve haver algo que leve ao caminho contrário, do negativo para o positivo.

No fim do filme sobre a vida de J. R. R. Tolkien, o escritor de Senhor dos Anéis, ele recebe a mãe de um de seus colegas de escola que morreram durante a Primeira Guerra Mundial. Ela senta na cadeira onde seu filho se reunia com os amigos da escola e diz, muito emocionada, que tinha perdido dois filhos e que uma outra mãe, amiga sua, tinha perdido três para aquela guerra. Morreram 9 milhões de combatentes e 7 milhões de civis na maior carnificina da história. Duas décadas depois mais outros entre 50 a 70 milhões entre civis e militares na Segunda Guerra Mundial. 
O contexto no qual milhares de mães perderam seus filhos nas duas Guerras Mundiais foi da luta do bem contra o mal de verdade, não o imaginário, da liberdade contra a mais cruel ditadura, contra a barbárie, contra o fanatismo sem limites, sem razão. As perdas, mesmo dos próprios filhos, apontavam para um futuro de esperança. Esperança!

Não sei qual é o número proporcional de mães brasileiras de periferia que perderam seus filhos de forma violenta, mas é alto, inadmissível. Não tenho medo de dizer que foram vidas e mortes vazias, sem sentido, pior, sem qualquer esperança. Na estupidez generalizada que vivemos a violência não faz mais qualquer sentido. Não há uma luta do bem contra o mal, mas tratar de manter-se vivo no dia a dia, nada além disto.

Um dos documentários que vi sobre a reconstrução da Alemanha pós Segunda Guerra Mundial fala sobre adolescentes que foram ou ficaram escondidos, não quiseram ou não se interessaram em ajudar na reconstrução das cidades e da vida de todos. Quando descobertos foram executados pela própria comunidade no meio da rua. Não se deve colocar esta brutal cena histórica sem contextualiza-la, mas dá para avaliar o que é o valor da esperança como prioridade absoluta para um futuro de paz.

Somos animais com uma capacidade quase sem igual de adaptação e acomodação ao meio ambiente. O ser humano se acostuma com o ruim, principalmente quando não tem referência sólida do que é bom, correto, eficiente, digno, racional. Nossas periferias e favelas têm uma qualidade de vida precária, em muitas localidades miserável, indigna, degradante. Aliás, vou mais longe, nossas cidades têm no geral uma qualidade urbana ruim, muito longe dos parâmetros definidos pela UNESCO como saudáveis e dignos. Como boa parte da população brasileira não conhece outra opção, o que é ruim passa a ser o normal, quando não referência, e por isto mesmo parte da identidade coletiva.

"Quanto pior melhor" foi e continua sendo usado como princípio político partidário em discurso e ação ideológica. Esta posição visa por um lado confirmar as identidades locais e individuais deslocando as mazelas para os próximos, de preferência para os "inimigos", reais ou criados, a maior parte deles criados. Uma luta do bem contra o mal, exatamente como nas religiões mais distorcidas e fanáticas. Muita gente ganha com o Brasil bipolar, e aí toda nossa verdadeira esperança é derrotada.

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