quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A morte do ciclismo de estrada e o fechamento da Ford

O UOL publica reportagem sobre a morte do ciclismo de estrada no Brasil e por ironia no mesmo dia a Ford fecha suas portas no ABC Paulista. Mostra exatamente o país que temos, e não falo de agora. 

O ciclismo de estrada no Brasil chegou onde chegou porque os erros cometidos vêm de muito longe, muito mais longe que esta reportagem diz. Fazer acontecer de maneira não correta uma hora vai dar problema. Tendo trabalhado na Bicisport entre 1988 e 1990, e em outros órgãos de imprensa, sempre tendo contato com os bastidores soube de histórias nada promissoras cujo resultado ai está.

Por outro lado, os governantes, todos eles, ainda não entenderam o que está acontecendo no planeta. Não sei o que pensam sobre a bicicleta, mas tenho impressão que pensam errado, são completamente anacrônicos. Não vou falar sobre política esportiva porque vivemos num 7X1 que não conseguimos deixar para trás. Como escrevi no texto sobre o Pedal Anchieta 2019 os governantes e políticos brasileiros não conseguiram ainda entender o que é pão e circo, o verdadeiro, não esta tragicomédia porca que temos aí.

A saber, creio que o IBGE não esteja fazendo a contagem das bicicletas, mas todos do setor e mais algumas autoridades calculam, em cima dos números existentes, que temos mais de 40 milhões de bicicletas rodando pelo país. Portanto: bicicleta é fato, existe, ninguém pode negar, nem a mais desinformada autoridade que dirige olhando para o celular. Só aqui no Município de São Paulo pedalam para o trabalho algo em torno de 360 mil ciclistas/dia e vão para as ruas mais de um milhão de ciclistas nos domingos de sol, fora aos sábados.

A Ford está fechando sua fábrica no ABC Paulista, uma das primeiras do país. É uma tragédia dolorida, mas previsível, tanto pelo número absurdo de fabricantes que entraram no país principalmente nos anos PT, como pelos estímulos dados para salvar o setor que até um imbecil como eu sabia que seria um tiro de arrancar o pé fora. E arrancou. O resultado está aí. Primeiro, encheram as cidades de automóveis o que aumentou os problemas urbanos, inclusive a violência; e encheram as estradas de caminhões sem uma política de transporte de longo prazo, o que empobreceu e muito os caminhoneiros, não resolveu os graves problemas de logística, aliás piorou, e de quebra levou a uma greve geral da qual o pais ainda não se recuperou por completo. E... não resolveu o problema dos sindicatos e sindicalizados do setor; nem poderia, nem que quisesse, nem em delírio, já que o setor caminha para a mecanização completa da linha de produção, caminho irreversível. Acabou, ponto final!

O Brasil não tem uma política de estado de longo prazo para os transportes. Nem sequer para a logística de escoamento de nossas super safras agrícolas. Não temos uma diretriz para os transportes urbanos. Não temos nada. Vai tudo no pontual, na persona, no tiro no pé, um atrás do outro.

Enquanto lá fora já se falava em redimensionar, mudar o rumo e até mesmo frear o setor automobilístico, aqui no Brasil a política foi no sentido contrário. 

Enquanto todo planeta está eletrificando, o Brasil, um dos países com melhores condições para o setor elétrico, traz tecnologias obsoletas e tacha os elétricos. Protege o Pré Sal? Será possível?

Enquanto as bicicletas e o esporte ganham cada dia mais importância na qualidade de vida e produtividade dos países que caminham a passos firmes rumo a este futuro que chega numa velocidade impressionante, nós continuamos emperrados num passado desordenado, improdutivo, obsoleto, pobre, pobre, pobre. 

O desaparecimento do ciclismo de estrada e o fechamento da Ford tem um denominador comum: o país bipolar que dá mais atenção a surtos psicóticos dos dois lados do que em planejar um futuro melhor para todos.


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