Pedalei na ciclovia do Rio Pinheiros com um professor universitário especialista em meio ambiente que dá aulas em uma das mais importantes instituições do país. Lógico que a conversa foi "o Pinheiros tem jeito?". Tem, segundo ele, que deu explicações técnicas sobre a situação atual, pelo jeito uma situação menos dramática que tinham pintado para mim. Perguntei como está o esgoto lançado nos córregos que afluem no Pinheiros ele respondeu que não sabe exatamente, mas que é baixa. Tem que se recuperar os córregos ou não adianta fazer grandes obras no rio.
Fato é que mundo afora foram recuperados inúmeros rios com situação semelhante aos dos rios Tiete, Pinheiros e Tamanduateí. Estive em NY agora e as águas dos Hudson e Easr River estão recuperadas segundo as autoridades. Devem estar porque vi o pessoal fazendo turismo em jetski. Pareciam patinhos seguindo o guia. Só se recupera com pressão pública, trabalho sério e tempo, muito tempo, nada muito complicado, fora a paciência. O mais difícil aqui no Brasil é manter a pressão pública. Das nossas frases prediletas está o "não vai dar em nada"; daí é que não dá mesmo.
Fato é que mundo afora foram recuperados inúmeros rios com situação semelhante aos dos rios Tiete, Pinheiros e Tamanduateí. Estive em NY agora e as águas dos Hudson e Easr River estão recuperadas segundo as autoridades. Devem estar porque vi o pessoal fazendo turismo em jetski. Pareciam patinhos seguindo o guia. Só se recupera com pressão pública, trabalho sério e tempo, muito tempo, nada muito complicado, fora a paciência. O mais difícil aqui no Brasil é manter a pressão pública. Das nossas frases prediletas está o "não vai dar em nada"; daí é que não dá mesmo.
Um pouco depois da inauguração da ciclovia do Rio Pinheiros encontrei pedalando o Fábio Barbosa que na época tinha alguma relação próxima, não me lembro qual, com o pessoal que estava trabalhando pela recuperação do rio. Ele contou que o mais surpreendente não era o número de ciclistas pedalando e se divertindo ali, mas o incrível aumento das reclamações e pedidos de providências ao poder público para trazer de volta a vida ao rio.
Quando a população de Amsterdam saiu as ruas em 1972 para dar um basta na total liberdade que o automóvel e seus motoristas tinham então é possível que não fizessem ideia de todos benefícios que a retomada do espaço público e fomentar o uso da bicicleta trariam. Em relação às bicicletas, que a partir daí se transformou em ponta de lança de uma série de mudanças, a quantidade de benefícios é tão ou mais surpreendente do que poderiam imaginar, alguns hoje fartamente divulgados outros poucos conhecidos, dentre eles a proteção às águas.
A poluição nas águas causada pelo automóvel começa pela emissão de gases e segue nos pingos de gasolina, óleo e graxa, nas partículas de borracha desprendidas pelo pneu, na transferência de detritos e poeiras, na morte de insetos, sapos, pássaros e outros animais, no que se joga discretamente ou não pelas janelas... A bicicleta pode até poluir e polui, mas numa escala infinitamente menor. A diferença mesmo vem através da baixa velocidade que circula o ciclista, o que faz com que seu olhar, cheirar e sentir na pele o faça mais atento, crítico, conectado ao meio ambiente. Hoje se sabe que relacionar diretamente a bicicleta com as águas deve ser uma das prioridades numa política de mobilidades e ambiental que seja séria.
Falo aqui sobre "as águas" porque são canais, córregos, rios, lagos, represas, charcos, mangues, mar.
O caminho das águas costuma ser o melhor caminho para os ciclistas. A criação de parques lineares junto aos córregos dá aos ciclistas caminhos menos acidentados, mais agradáveis, ligando-os à preservação das águas, portanto da vida. Leva os moradores do bairro para junto da água estabelecendo um senso crítico importantíssimo para a sobrevivência de todos, não só os locais, mas de toda a cidade. Estes parques lineares transformam-se em corredores de alimentação para as ciclovias principais.
Infelizmente nossas grandes cidades, que normalmente são recheadas de córregos e rios, optaram por usar os caminhos dos córregos e rios para implantar ruas e avenidas. Não só e pior, esgoto. O maravilhoso trabalho desenvolvido pela ONG Ruas e Rios mostra o a situação atual.
Assim como cano de esgoto que não se vê, boa parte de nossos córregos também não se vêem ou porque estão canalizados ou porque correm entre construções que os escondem, situação muito comum em favelas, mas não só. O Shopping Center Iguatemi fez uma grande obra de correção para colocar um trecho do córrego Iramaia ao lado de sua construção. Durante décadas o córrego corria por baixo de um dos estacionamentos cobertos. Em ótima entrevista José Bueno do Ruas e Rios explica bem o que acontece.
Assim como cano de esgoto que não se vê, boa parte de nossos córregos também não se vêem ou porque estão canalizados ou porque correm entre construções que os escondem, situação muito comum em favelas, mas não só. O Shopping Center Iguatemi fez uma grande obra de correção para colocar um trecho do córrego Iramaia ao lado de sua construção. Durante décadas o córrego corria por baixo de um dos estacionamentos cobertos. Em ótima entrevista José Bueno do Ruas e Rios explica bem o que acontece.
17 de Outubro de 2019
Notas e Informações | A3
Apenas o básico
Seja lá quais forem as conquistas e expectativas dos brasileiros em relação ao crescimento econômico do País, se o Brasil não promover um choque de produtividade no saneamento básico, seguirá reputado como um bolsão de injustiça social e miséria. Afinal, quaisquer avanços em índices de qualidade de vida são irrisórios quando parte expressiva da população permanece alijada do básico para a subsistência: água limpa e esgoto.
Com 35 milhões de brasileiros sem acesso à água tratada, 100 milhões sem coleta de esgoto e 4,4 milhões sem qualquer forma de esgoto, apenas 12% da população é servida por um sistema de saneamento irrepreensível. Com justiça, o País ocupa a 102ª posição no ranking de saneamento da Organização Mundial da Saúde.
(segue ao parágrafo final)
É um velho adágio no meio político que "cano enterrado não dá voto". Cabe à sociedade pressionar a atual legislatura, invertendo a lógica desse refrão não só velho, mas carcomido e perverso: político que não mostrar empenho redobrado em pôr fim à tragédia humanitária da falta de saneamento deveria ter sua ambição à vida pública morta e enterrada.
A bicicleta pode ajudar e muito mudar esta situação histórica. Basta ter um olhar mais amplo e social que se tem hoje e começar a falar sobre a cidade.
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