segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Espaços públicos e as mobilidades de NYC, primeira parte

Boa parte das linhas e estações do metro de NY estão interditadas, em funcionamento parcial, lentas nos fins de semana para manutenção ou em reforma, parte de um programa bilionário de modernização não só do metro, que receberá de US$ 52 bi, como de todo sistema de transportes públicos da cidade. Dar um jeito no metro é a grande novidade para os novaiorquinos. Na superfície todas as outras mudanças, que são muitas, expressivas e constantes, não surpreendem mais. NY é a cidade que não para, diz a famosa canção, e nada mais real. Das maiores e mais importantes metrópoles é a que tem as mudanças mais profundas e radicais. Trânsito, transporte e mobilidades, além do repensar os espaços públicos para a convivência, estão sendo trabalhados numa rapidez e com uma qualidade de tirar o folego e fazer inveja.
Ontem, sábado, esqueci que a estação 79th da linha vermelha 2 do metro estava fechada. No caminho para a estação 72th, que estava aberta, dei de cara com a pista de 4 faixas da av. Broadway sentido Harlem fechada para os carros entre a 77th e 75th Street, criando mais um espaço para a vida da população local. Bem próximo, a 200 metros, está o Central Park. Isto num sábado, não domingo. Uma funcionária do departamento de trânsito que estava ali para conversar com a população e fazer pesquisa contou que a prefeitura já tem implantados 69 espaços como este pela cidade; 69! e aos sábados! Domingo o babado é outro. Perguntei se estavam usando o mesmo processo de audiências públicas que foi usado por Jeanette Sadik Khan quando introduziram o sistema cicloviário e a resposta foi sim, tudo está sendo feito em comum acordo com a população. Lembro que Jeanette fez mais de 2.000 audiências públicas oficiais para explicar, ouvir e acertar detalhes do que seria feito antes de implantar as ciclovias, ciclofaixas, reduzir espaço para automóveis e amplia-los para pedestres. Num dos cartazes explicativos sobre o que se pretende nesta interdição da Broadway se vê uma avenida completamente tomada por pedestres, ou seja, completamente interditada para veículos motorizados.
Foi na Broadway que tudo começou, mas entre a 42th até a 34th, com o que se chamou de Broadway Boulevard. Pouco tempo depois estive lá e já começava no Columbus Circus, na 59th. Acompanhei o processo e vi primeiro a rua com grandes pedras para evitar a invasão dos carros e asfalto pintado delimitando espaços para ciclistas e pedestres. Depois vi a praça do Times Square em obras para passar da pintura para calçada definitiva. Agora não existe mais ciclovia, na praça e em mais uns dois quarteirões sentido sul, entre a 47th e a 42th, porque o espaço criado foi completamente tomado pelos pedestres. Os ciclistas hoje circulam junto com o trânsito de veículos. A saber, a área do Times Square tem um policiamento próprio, educado, eficiente, com autoridade. O espaço é para pedestres; ponto.
O parque linear do rio Hudson existe a tempo, mas dá prazer ver como está bem cuidado. Cheguei a pedalar junto com os pedestres, mas agora o borde do rio é só para pedestres. Ciclistas tem uma larga ciclovia que é muito usada para transporte durante a semana. Corre uns trechos sob a imensa estrutura metálica do viaduto da via expressa que acompanha o rio e que serve de teto para quadras de basquete. Este e outros viadutos foram limpos e repintados, o que torna muito mais agradável a vivência de seus espaços. Nos dois rios, Hudson e East, os deques foram reformados, alguns redesenhados, modernizados, os velhos galpões e edifícios estão sendo restaurados, alguns reformados. Os espaços de trânsito de passageiros das barcas melhoraram muito.
Como resultado da mega intervenção do mega projeto imobiliário Hudson Yard finalmente terminaram o The High Line, uma extinta linha férrea construída sobre um elevado que foi usada pelas indústrias que existiram no local. Se transformou numa mágica passarela ajardinada para pedestres. Passa no meio de uma mistura de velhos, novos e moderníssimos edifícios, uma muito bem-sucedida integração de uso de espaço de passagem e vivência pública com propriedade privada. Vai até o Meatpacking District, mais um local deteriorado que revivido. Quem te viu, quem te vê, e eu vi o que era e como ficou.
Pensando em mobilidades, High Line é um parque linear e imagino que pouco deva servir como área de passagem para pedestres porque, mesmo tendo alguns acessos, é necessário reeducar a população, que via de regra prefere o caminho mais curto e mais rápido. Subir e descer escadas ou sair um pouco mais adiante requer repensar muito mais que simplesmente o melhor caminho, requer repensar o tempo, o que nos dias de hoje urge. O High Line é tão agradável que até os vícios encrustados podem estar sendo vencidos.
E eu estava quase esquecendo: por todas partes de NY agora se vê faixa exclusiva para ônibus, a maioria com horários para funcionar. NY é um tanto bagunçada, com um sério problema de entrega de mercadoria, e é comum os caminhões e vans pararem sobre a ciclofaixa ou em fila dupla, dentre outras. Como sei como funciona o policiamento novaiorquino tenho certeza que na hora marcada de funcionamento da faixa exclusiva de ônibus ninguém se mete a besta. A multa por invasão é de US$ 130,00, uns R$ 500,00, e lá eles aplicam mesmo. Na 14th e na 23th os carros estão praticamente banidos; só ônibus, como se vê na foto. 
Eu precisaria de vários textos para contar a revolução que NY está passando. Está claro que a população e a administração da cidade entenderam que ou se faz uma grande mudança ou estão fora do jogo. 
Nova estação do World Trade Center

estação de subway Lincon Center - típica



















a bicicleta circula junto com os carros na Times Square 

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