Boa parte das linhas e
estações do metro de NY estão interditadas, em funcionamento parcial, lentas
nos fins de semana para manutenção ou em reforma, parte de um programa
bilionário de modernização não só do metro, que receberá de US$ 52 bi, como de
todo sistema de transportes públicos da cidade. Dar um jeito no metro é a
grande novidade para os novaiorquinos. Na superfície todas as outras mudanças,
que são muitas, expressivas e constantes, não surpreendem mais. NY é a cidade
que não para, diz a famosa canção, e nada mais real. Das maiores e mais
importantes metrópoles é a que tem as mudanças mais profundas e radicais.
Trânsito, transporte e mobilidades, além do repensar os espaços públicos para a
convivência, estão sendo trabalhados numa rapidez e com uma qualidade de tirar
o folego e fazer inveja.
Ontem, sábado, esqueci que a
estação 79th da linha vermelha 2 do metro estava fechada. No caminho para a
estação 72th, que estava aberta, dei de cara com a pista de 4 faixas da av.
Broadway sentido Harlem fechada para os carros entre a 77th e 75th Street,
criando mais um espaço para a vida da população local. Bem próximo, a 200
metros, está o Central Park. Isto num sábado, não domingo. Uma funcionária do
departamento de trânsito que estava ali para conversar com a população e fazer pesquisa
contou que a prefeitura já tem implantados 69 espaços como este pela cidade;
69! e aos sábados! Domingo o babado é outro. Perguntei se estavam usando o
mesmo processo de audiências públicas que foi usado por Jeanette Sadik Khan
quando introduziram o sistema cicloviário e a resposta foi sim, tudo está sendo
feito em comum acordo com a população. Lembro que Jeanette fez mais de 2.000
audiências públicas oficiais para explicar, ouvir e acertar detalhes do que seria
feito antes de implantar as ciclovias, ciclofaixas, reduzir espaço para
automóveis e amplia-los para pedestres. Num dos cartazes explicativos sobre o
que se pretende nesta interdição da Broadway se vê uma avenida completamente
tomada por pedestres, ou seja, completamente interditada para veículos
motorizados.
Foi na Broadway que tudo
começou, mas entre a 42th até a 34th, com o que se chamou de Broadway Boulevard.
Pouco tempo depois estive lá e já começava no Columbus Circus, na 59th.
Acompanhei o processo e vi primeiro a rua com grandes pedras para evitar a
invasão dos carros e asfalto pintado delimitando espaços para ciclistas e
pedestres. Depois vi a praça do Times Square em obras para passar da pintura
para calçada definitiva. Agora não existe mais ciclovia, na praça e em mais uns
dois quarteirões sentido sul, entre a 47th e a 42th, porque o espaço criado foi
completamente tomado pelos pedestres. Os ciclistas hoje circulam junto com o
trânsito de veículos. A saber, a área do Times Square tem um policiamento
próprio, educado, eficiente, com autoridade. O espaço é para pedestres; ponto.
Como resultado da mega
intervenção do mega projeto imobiliário Hudson Yard finalmente terminaram o The
High Line, uma extinta linha férrea construída sobre um elevado que foi usada
pelas indústrias que existiram no local. Se transformou numa mágica passarela
ajardinada para pedestres. Passa no meio de uma mistura de velhos, novos e
moderníssimos edifícios, uma muito bem-sucedida integração de uso de espaço de passagem
e vivência pública com propriedade privada. Vai até o Meatpacking District,
mais um local deteriorado que revivido. Quem te viu, quem te vê, e eu vi o que
era e como ficou.
Pensando em mobilidades, High
Line é um parque linear e imagino que pouco deva servir como área de passagem
para pedestres porque, mesmo tendo alguns acessos, é necessário reeducar a
população, que via de regra prefere o caminho mais curto e mais rápido. Subir e
descer escadas ou sair um pouco mais adiante requer repensar muito mais que
simplesmente o melhor caminho, requer repensar o tempo, o que nos dias de hoje
urge. O High Line é tão agradável que até os vícios encrustados podem estar
sendo vencidos.E eu estava quase esquecendo: por todas partes de NY agora se vê faixa exclusiva para ônibus, a maioria com horários para funcionar. NY é um tanto bagunçada, com um sério problema de entrega de mercadoria, e é comum os caminhões e vans pararem sobre a ciclofaixa ou em fila dupla, dentre outras. Como sei como funciona o policiamento novaiorquino tenho certeza que na hora marcada de funcionamento da faixa exclusiva de ônibus ninguém se mete a besta. A multa por invasão é de US$ 130,00, uns R$ 500,00, e lá eles aplicam mesmo. Na 14th e na 23th os carros estão praticamente banidos; só ônibus, como se vê na foto.
Eu precisaria de vários textos para contar a revolução que NY está passando. Está claro que a população e a administração da cidade entenderam que ou se faz uma grande mudança ou estão fora do jogo.
Nova estação do World Trade Center |
estação de subway Lincon Center - típica |
a bicicleta circula junto com os carros na Times Square |
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