segunda-feira, 24 de junho de 2013

Piada: CET SP proíbe ciclistas em avenidas

A notícia que a CET vai proibir ciclistas trafegando em avenidas e vias expressas mostra como eles tem uma pequena dificuldade para compreender qualquer realidade diferente do fluxo de veículos motorizados.

Como já contei um milhão de vezes, em 1982 foi apresentado pela primeira vez o Projeto de Viabilização de Bicicletas como Modo de Transporte, Esporte e Turismo para o Estado de São Paulo, nome original. A ideia básica era tirar o ciclista de avenidas e locais, em especial cruzamentos, perigosos (http://escoladebicicleta.com.br/topicos.html).  Como experiência propunha fazer um sistema cicloviário completo de aproximadamente 255km, para começar, basicamente implantado dentro de bairros e todo interligado. Em comparação ao que se apresenta hoje era muito detalhado. Apresentei a proposta para o Covas, então Prefeito de São Paulo, que me mandou para o Getúlio Hanashiro, Secretário de Transportes, que por sua vez me encaminhou para uma reunião (na av. Faria Lima quase esquina com Euzébio Matoso) com um dos papas da CET, que daria a palavra final, que foi um sonoro “não”. “Não por que não quero!” e a reunião foi rapidamente encerrada. Covas reconhecia a importância da bicicleta por que era de Santos, mas era voz solitária na prefeitura paulistana.  
A CET foi criada por lei e existia para dar fluidez ao trânsito de veículos motorizados. Na época, segurança no trânsito para ciclistas era pensada única e exclusivamente como “ciclovias”, que quase via de regra eram projetadas em rotas estruturais, pensamento monolítico dentro e fora da CET. Urbanistas, arquitetos, ecologistas, alternativos, e todos outros apaixonados pela bicicleta tinham discurso uníssono: ciclovias! Ponto final. E os técnicos de trânsito provavelmente devia ter orgasmos por que este discurso de única palavra simplesmente inviabilizava a bicicleta como modo de transporte.

Simples: com toda a população aplaudindo as maravilhas do automóvel e as cidades sendo deliberadamente deformadas para melhorar a fluidez, pensar em tirar espaço para dar para ciclovias era coisa de idiota. E a CET não estava completamente errada. Quem não entendeu a realidade foram os minguados ciclistas.  
Foram mais de 20 anos tentando explicar para os ciclistas que o discurso “ciclovia” não funcionava, era tiro grosso no próprio pé. Nunca entenderam. A construção das ciclovias do Rio de Janeiro só piorou a rigidez do discurso paulistano pela ciclovia, pouco importando algumas sutis diferenças, como ter o trajeto à beira mar, não ter cruzamentos e portanto não atrapalhar o trânsito motorizado. Na época não se divulgou uma palavra sequer sobre o óbvio alto número de acidentes causados exatamente pela própria ciclovia, que era de conhecimento da comunidade de ciclistas. Enfim, fatos e sensatez não era interessante para os objetivos.

Todas documentações e manuais técnicos sempre afirmaram que o uso mais intensivo da bicicleta se dá em distâncias mais curtas, até uns 4km. Mas até hoje o pessoal que fala pelo ciclista pressiona por rotas de longa distância, o que atende em especial ao anseio dos próprios, uma minoria que aguenta pedalar qualquer distância. Rotas estruturais, ligando locais distantes, é onde está o trânsito mais pesado e onde acontece a maioria dos acidentes com ciclistas. Bicicleta fica invisível no meio de veículos grandes. Nestas vias é necessário, mas muito difícil ou até mesmo impossível implantar ciclovias. Mais um ponto para quem não saber de bicicleta. E muitos pontos a menos para a massa que só gostaria de ir pegar pão pedalando.
Felizmente está crescendo o número de ciclistas que entende e faz discurso que o caminho é o interno de bairro, a mãe, a criança, o prego, o gordo..., o não esportista.

A CET vir com esta que vai proibir ciclista em via de trânsito rápido, ou qualquer coisa no gênero, é risível. Será que alguém lá dentro acredita mesmo que eles conseguem controlar a entrada de ciclistas na vias expressas? Só pode ser um delírio.
De parte dos ciclistas começa uma reação contra a medida, mas duvido que junto com esta reação venha qualquer ação sensata e realista no sentido de proteger o ciclista que circula por estas vias por absoluta falta de opção. Vão pedir capacete?

O que está acontecendo agora é que a bicicleta ganhou vida própria, com ou sem Prefeitura, com ou sem CET, e, melhor ainda, fazendo e andando para discursos utópicos de ciclistas. Caiu a ficha que é pegar a bicicleta e sair pedalando, simples assim. E mais, que o bicho papão do trânsito é bem mais manso e inofensivo que faz crer o discurso dos terroriciclistas e da imprensa cega, surda, e medíocre.  


Recomendo a leitura do ótimo artigo da Vá de Bike assinado por Willian Cruz: http://vadebike.org/2013/06/cet-sp-quer-ciclistas-fora-das-avenidas-de-sao-paulo/

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog, pelo site e pela causa. Infelizmente boa parte das pessoas possui "pensamento em Quatro Rodas". É difícil para muitos fugir do paradigma do carro como solução para os deslocamentos urbanos, some-se a isso as agendas políticas ligadas a interesses de montadoras, perolíferas e toda uma gama de indústrias.

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    1. Joahnnes. Obrigado pelo comentário. Você só não citou o fator humano, que pesa muito em todo processo decisório. Quem assina o faz por que acredita, e este é seu direito; simples assim.

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