Fui convidado para fazer uma palestra (que acabou micando) sobre “Mulheres, crianças e bicicletas”, tema que eu próprio escolhi. E foi ai que me dei conta meu conhecimento vai pouco além da vivência, de uma pouca leitura, e da preocupação por eles, mulheres e crianças (, pessoas com deficiência e idosos). E de um erro estratégico: minha paixão pelas mulheres. Paixão costuma maltratar a lógica.
Vivo dizendo que a transformação da cidade para a vida e construção sistemas cicloviários tem que ter um olhar especial sobre a mulher e a criança, ou provavelmente não cumprirá seu objetivo final. Bela e verdadeira frase, mas e ai? Dai para frente como fica?
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Cristina Ruano, em 1981, foi quem me mostrou a importância de ter um olhar especial sobre a mulher na construção de qualquer projeto cicloviário. Ela era uma menina magra, alta, muito atraente, cheia de vida (ainda o é), que usava a bicicleta para todos os lados; isto numa época que bicicleta era coisa (brinquedo) de menino e ponto final. Reclamava muito das passadas de mão ou, pior, dos tapas na bunda, algo frequente e perigoso. Descobri que muitas mulheres acabavam se machucando e largando a bicicleta por conta desta estupides. Pedalamos uns dois anos juntos, o que acabou me dando muita informação sobre a relação da mulher com a bicicleta, trânsito e cidade. Dar-lhes uma vida na cidade com mais qualidade vai muito além de evitar machismos imbecis.
A partir de Cristina o olhar ficou mais atento e creio que hoje tenha um bom conhecimento empírico sobre vários aspectos deste lado feminino, mas só isto não basta. Fazer com que elas tenham a opção de uma bicicleta própria, um dimensionamento de sistema cicloviário adequado, paisagismo mais refinado, que os detalhes da segurança sejam cuidadosos... ajuda muito, mas não basta. Há algo a mais, um que feminino, que homens não alcançam. Podem até tangenciar, mas não chegam lá. A solução, creio, seria a obrigatoriedade de participação de mulheres e mães na criação de qualquer projeto.
E as crianças? Infelizmente não fui pai. Infelizmente. O pouco que sei sobre os pequenos está relacionado ao projeto e qualidade das bicicletas próprias para cada idade. No Brasil a maioria delas, ou quase todas, são um lixo. Não há outra palavra. Lixo! São perigosas. O desenho não é adequado e os componentes, principalmente freios, são péssimos. A maioria das crianças se acidenta por que não consegue frear. Ridículo! Mas e a cidade para a criança? O quer fazer para ver nossas crianças indo de patinete para a escola, como é comum em Paris ou NY? Como dar-lhes a liberdade, o direito de aproveitar a rua, o parque, a cidade, a vida?
Comecei a fazer pesquisas e descobri que o assunto ainda não é pauta comum, fácil. A cidade do futuro é a cidade das crianças hoje. Quem aprende que vida está dentro de shopping tem valores de presidiário de luxo. Criança tem que ser livre, senhor de seus espaços, de sua cidade, de sua sociedade. O drama brasileiro é tão grande que a bicicleta, rito de passagem para a liberdade de minha infância, foi substituída pelo smart phone. Deprimente.
As mulheres sempre foram fonte de inspiração...estão por aí as obras do mestre Niemeyer! Agora, ciclovia é o primeiro caso que passo a conhecer. Boa, Arturo!
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