segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Sentir-se seguro e estar seguro: não misturar coisas. O exemplo de Roma

 


O trânsito da Itália é a prova cabal que há uma diferença entre estar seguro e sentir-se seguro. O trânsito de Roma tem uma fluidez que parece caótica, e de certa forma é, que dá sensação de insegurança, o que não condiz com a verdade dos fatos. Eles param para pedestres! Ou deixam cruzar a rua! O que é quase a mesma coisa. No fim das contas, chega-se do outro lado da rua sem ser atropelado. Mas aqui em Roma, pelo menos até se acostumar com os usos e costumes locais, vida de pedestre é com alguma emoção.

Pelas ruas se vê ingleses, alemães, suecos, americanos e gente de outros países de trânsito bem organizado que ficam em pânico até entenderem como é o jogo. Em seus países o trânsito para nos dois sentidos no momento que o pedestre põe o pé  no asfalto até quando ele sobe na calçada por completo. É o correto? Sim. Pode ser. Talvez?

Em Roma não, os carros param só quando o pedestre está na linha de frente para o capo do carro. E o pedestre segue assim até chegar na calçada do outro lado. Saiu da frente do carro, ele começa a se movimentar. Não se preocupe com motos, scooters, patinetes, e bicicletas que vão passar pela frente e por trás e que só pararão quando for inevitável. Mas param. Parece uma loucura, mas acreditem, cruzar a rua nesta bagunça é seguro. As velhinhas simplesmente invadem a pista e seguem em frente. Mata a velha não rola por aqui. As "mamma" são tudo querida. Sem elas não tem macarronada!

Tem semáforo para pedestre em Roma? Tem, óbvio tão demorado quanto em Sao Paulo. Mas aqui o povo 'guenta até dar verde. E onde há, a brincadeira é exatamente a mesma de onde só tem faixa de pedestre. Não entedeu? Volte ao parágrafo anterior. Resumindo (e sendo educado), se a conversão for permitida os veículos só param se o pedestre estiver na mira.

Limite de velocidade? Creio que tenha, mas é um mero lembrete, ou coisa que o valha, como contei num outro post. As motos e scooters aceleram sem dó, nem ré, mi, fá. Sol, lá, si, do então... nem dizer. Seria muito mais agradável se não acelerarem tanto e tão rápido  e  mantivessem uma velocidade constante, baixa, de preferência. Menos a ver com, segurança, muito mais com incomodo sonoro.

Domingo passado saí  pedalando pela cidade, longe da área turística, que em qualquer parte do planeta sempre é complicada. Roma praticamente não tem ciclovias ou ciclofaixas. Perigoso? Não, aí sem piada. O mesmo que pedalar é Paris ou NY. 
 
O trânsito da Itália é uma loucura? Pode ser, depende de quem o vê.  O ideal seria que fosse menos fluído. Mas é inseguro? Pelo menos aqui em Roma não é, mesmo que pareça o contrário. 
Roma me fez entender mais uma vez que há uma enorme diferença entre parecer inseguro e ser inseguro. O ideal é que pareça é seja seguro. 

Num trânsito como o brasileiro, que no geral parece e é inseguro, o entender o que é insegurança fica complicado. O que leva a um segundo ponto, o da narrativa distorcida sobre o que segurança e mais distorcida ainda sobre como se construir um trânsito menos agressivo. Seguir acreditando que impor segurança goela abaixo de uma sociedade viciada trará resultados imediatos é de uma cegueira sem-fim. 

A saber, quanto maior o número do ranking, melhor é a segurança. Brasil é o 97°. Suécia o 174°. Holanda, uma de nossas referências prediletas, 172°




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