quarta-feira, 20 de março de 2024

Setor da bicicleta em crise: Brasil

Faço um aparte para falar do Brasil. O mountain bike fez uma revolução em todo setor da bicicleta brasileiro. Antes do mountain bike, Monark e Caloi tinham praticamente todo mercado de bicicletas nas mãos. A base de vendas estava toda voltada para a população de baixa renda. As bicicletas eram de baixa qualidade, para dizer o mínimo, mas as vendas eram volumosas. Na década de 80 o Brasil era o 3° maior fabricante de bicicletas no mundo. A chegada das mountain bikes quebra um jogo muito bem estabelecido e o brasileiro descobre que "bicicleta não é coisa de pobre", como se dizia na época.

Se nos primeiros anos do mountain bike foi uma festa, inclusive com o número de competidores crescendo rapidamente, ajudando inclusive o ressurgimento do ciclismo de estrada, a intervenção com mão pesada da Confederação Brasileira de Ciclismo, leia-se Caloi, obrigando todos a cumprirem as regras da UCI, praticamente mata o que vinha bem e tinha futuro. O mountain bike de competição demorou anos para se recuperar, e com ele os lucros do setor. Infelizmente repetiram o mesmo erro grosseiro que haviam feito com o BMX. Era um esporte de família, praticamente desapareceu por interesses burros e mesquinhos.

Houveram mais crises no setor do que a que se apresenta agora. Aliás, trabalhar com bicicleta no Brasil é para quem tem estômago forte. Esta crise que vivemos é resultado de um erro grosseiro de avaliação de todo o setor, não só no Brasil, que embarcou numa bolha previsível, muito inflada pela pandemia mundial.

"Não é vender bicicletas. É vender uma ideia, mais, contextualizar um conceito sem cair na armadilha do óbvio, e sem acreditar em cenários que não se sustentam". A frase não é minha, a ouvi num almoço e digo que ela acerta na mosca.

Para que o setor da bicicleta no Brasil tenha a estabilidade esperada é necessário varrer os amadores, aproveitadores, e colocar no seu devido lugar os delirantes ideólogos. É preciso tratar como um todo, com princípio, meio e fim, e principalmente a manutenção de tudo. Falo do setor de produção e vendas, mas sobretudo os que definem políticas públicas. Aliás (de novo), educação não é a chave de tudo? Então porque esta verdade não vale para a bicicleta e os ciclistas? Ou alguém acha que se vai construir algo apontando o dedo para todos que estão em volta?

Apresentar números de crescimento sem detalhar é 'causo' para entrar no "Como mentir com estatísticas" do Darrel Huffy, sucesso editorial desde 1956. Brasileiros não são nada afeitos a números, dados, e menos ainda a verdades. Exagero meu? No caso das bicicletas tudo fica mais crítico porque bicicleta é apaixonante. Misturar paixão (que sempre é pessoal) com negócio ou política pública não dá certo, acho que já está mais do que provado. 

Um comentário:

  1. Gostei muito da sua postagem! Seus insights são impressionantes. Por favor, escreva mais! Acompanhe entrevistas exclusivas com os desenvolvedores do Aviador em nosso blog.

    ResponderExcluir