Faço um aparte para falar do Brasil. O mountain bike fez uma revolução em todo setor da bicicleta brasileiro. Antes do mountain bike, Monark e Caloi tinham praticamente todo mercado de bicicletas nas mãos. A base de vendas estava toda voltada para a população de baixa renda. As bicicletas eram de baixa qualidade, para dizer o mínimo, mas as vendas eram volumosas. Na década de 80 o Brasil era o 3° maior fabricante de bicicletas no mundo. A chegada das mountain bikes quebra um jogo muito bem estabelecido e o brasileiro descobre que "bicicleta não é coisa de pobre", como se dizia na época.
Se nos primeiros anos do mountain bike foi uma festa, inclusive com o número de competidores crescendo rapidamente, ajudando inclusive o ressurgimento do ciclismo de estrada, a intervenção com mão pesada da Confederação Brasileira de Ciclismo, leia-se Caloi, obrigando todos a cumprirem as regras da UCI, praticamente mata o que vinha bem e tinha futuro. O mountain bike de competição demorou anos para se recuperar, e com ele os lucros do setor. Infelizmente repetiram o mesmo erro grosseiro que haviam feito com o BMX. Era um esporte de família, praticamente desapareceu por interesses burros e mesquinhos.
Houveram mais crises no setor do que a que se apresenta agora. Aliás, trabalhar com bicicleta no Brasil é para quem tem estômago forte. Esta crise que vivemos é resultado de um erro grosseiro de avaliação de todo o setor, não só no Brasil, que embarcou numa bolha previsível, muito inflada pela pandemia mundial.
"Não é vender bicicletas. É vender uma ideia, mais, contextualizar um conceito sem cair na armadilha do óbvio, e sem acreditar em cenários que não se sustentam". A frase não é minha, a ouvi num almoço e digo que ela acerta na mosca.
Para que o setor da bicicleta no Brasil tenha a estabilidade esperada é necessário varrer os amadores, aproveitadores, e colocar no seu devido lugar os delirantes ideólogos. É preciso tratar como um todo, com princípio, meio e fim, e principalmente a manutenção de tudo. Falo do setor de produção e vendas, mas sobretudo os que definem políticas públicas. Aliás (de novo), educação não é a chave de tudo? Então porque esta verdade não vale para a bicicleta e os ciclistas? Ou alguém acha que se vai construir algo apontando o dedo para todos que estão em volta?
Apresentar números de crescimento sem detalhar é 'causo' para entrar no "Como mentir com estatísticas" do Darrel Huffy, sucesso editorial desde 1956. Brasileiros não são nada afeitos a números, dados, e menos ainda a verdades. Exagero meu? No caso das bicicletas tudo fica mais crítico porque bicicleta é apaixonante. Misturar paixão (que sempre é pessoal) com negócio ou política pública não dá certo, acho que já está mais do que provado.
Gostei muito da sua postagem! Seus insights são impressionantes. Por favor, escreva mais! Acompanhe entrevistas exclusivas com os desenvolvedores do Aviador em nosso blog.
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