Sei lá da onde, mas no meio do manuseio do meu tablet, do nada apareceu um sei lá o que, imagino que deva ser um aplicativo do Android, que mostra todas as viagens que fiz nestes últimos anos, com todos caminhos, distâncias, todas as fotos georreferenciadas, dividas em pastas, tudo organizado. UAU!!!! Creio que não pedi para o treco (tablet ou celular) fazer uma coisa destas, e se fiz nem percebi. Ou ele (o tablet ou celular) tomou a inciativa sozinho para mostrar como é bonzinho, como a empresa que o produz é legal e só pensa em mim. Esta começa a ser a questão, mas ainda não é o ponto.
Uma pessoa muito querida está apavorada porque se sente vigiada em todos lugares e por tudo quando é coisa conectada na tomada. Incluindo no banheiro, e aí assusta! Ouve, sente cheiros? Apavorante! Como vou negar a verdade, se ela não está sendo vigiada, deve ser a única do planeta que tem este maravilhoso direito de não ser invadida em sua privacidade. Com sua licença, vou sentar no trono.
Tentei explicar para acalma-la que invasão de privacidade não é nenhuma novidade, que acontece faz muito, que o melhor é ela, minha querida, desligar, fazer de conta que está tudo bem, que a vida segue, faz de conta que não existe. Ou se ri da vida ou a vida ri de você. Ou de mim, ou de quem quer que seja, assim foi e assim será. Ou se surta legal.
Como disse, não há novidade em ser vigiada, bisbilhotada, sem privacidade. Nunca entendi porque sempre teve muito mais gente querendo fugir de regimes comunistas do que entrar para viver neles. Uma das razões que a documentada história conta é que, talvez, em certos regimes todos sejam obrigados a vigiar todos, ou seja, ou você se comportava como um bom comunista, ou estava frito, ou congelado. Não foi uma exclusividade dos sistemas comunistas, digamos a verdade, Pato Donald que o diga, o macarthismo foi uma idiotice. Fato é que comunistas e alguns que se diziam socialistas conseguiram caprichar na falta de privacidade.
Ser vigiada vem de muito longe: na Santa Inquisição era sábio ter orgasmos em silêncio ou se poderia acabar num pau pegando fogo, este literal e não de sacanagem. A Polícia da Moralidade iraniana, outra pérola da religião feroz, não se o que faz com os não fieis, mas não deve ser coisa boa e agradável. Também não fique se expondo para carolas, aspones, dedos duros... fofoqueiras, upa! fofoqueiras...
Sempre haverá alguém de olho em você. Uma boa fofoca vale ouro! para o bem e para o mal.
Continuando na tentativa de acalmá-la, disse a minha querida amiga que hoje temos pelo menos 5 bilhões de pessoas conectadas na internet, ou seja, mais da metade do planeta. Não sei quem é ou está mais louco: os que têm sua individualidade invadida ou os que invadem todas as individualidades.
Sim, de fato, e minha querida amiga está absolutamente correta, estamos sendo invadidos por todos lados e não resta dúvida que esta invasão de privacidade, que tem razões de todos tipos, nos está empobrecendo muito.
Todo mundo nú! Oba! Todo mundo nú! Oba! Todo mundo nú! Oba! Todo mundo nú... Nem neste comunismo sou chegado, muito pelo contrário. Já sentou na areia nú? Dizem que numa praia de nudismo ninguém olha (e comenta) o corpo do outro. Acredite quem quiser. A diferença para a Internet e rede social é que as ondas não são fake news, mas feitas de água salgada. Já tomou banho de mar completamente nú, com as ondas batendo em seus balangandãs? É mais ou menos parecido com ficar enterrado na rede social. Apavorante mesmo é sair do mar e sentar na areia molhado como um bom naturalista.
Esticar a canga na areia da praia de nudismo para sentar sobre ela é ou não é invasão de privacidade?
Não tenho dúvida que meus brinquedos, celular, tablet e notebook, têm, como o de todo mundo, o que chamam de robô, um treco que pega todas as minhas informações - sem meu consentimento - e transformam, ou querem transformar, minha vida em algo mais agradável. Eu sequer tinha digitado na pesquisa a palavra "pia de banheiro" e sei lá como começaram a aparecer anúncios de pias de banheiros. Não, não estou brincando, é verdade. É o maldito robô, o que quer que seja isto.
Vale dizer que - sem meu consentimento - na realidade deve ser com meu consentimento, já que se não clicar para aceitar o treco não funciona, simples assim. Puro advogues, ou seja, o que está escrito nem os advogados sabem explicar bem. Esta e a regra do jogo, simples assim.
Minha querida amiga, e como é querida, está apavorada com razão. O que ela diz em seus longos Whatsapp se pode assinar em baixo, mas não valem um surto. Sei bem disto. Algumas verdade na vida temos que passar por cima ou enlouquecemos, esta é a verdade.
Não faz muito tempo os amigos pediram para eu me controlar e parar de pegar lixo nas ruas, que furioso pegava e os jogava xingando na primeira lixeira que encontrava. Estou errado? Definitivamente não, estou absolutamente certo e todos estão errados. Sujar as ruas com uma lixeira logo ali é um absurdo. Num determinado ponto surtei, mas ouvi meus caros amigos e amigas e baixei a bola. Hoje me controlo e só cato um lixo de vez em quando. Acho deprimente passar e não catar, mas me sinto sadio. Ironia, não é?
Estou lendo "A Última Guerra Europeia, setembro 1939, dezembro 1941", de John Lukacs, 1976. Poucas vezes na minha vida senti um arrependimento tão grande quanto o de não o ter lido na época do lançamento. Conta a história dos bastidores e da vida da população europeia daquele momento terrível. Está mudando completamente minha visão de quem somos e porque somos. Só reforça o que sempre repito: somos todos humanos; e vivemos em ciclos, todos iguais, só com recheio do bolo diferente. Tenho gargalhado muito. É muito parecido com hoje.
Fazia tempo que estava procurando referências de boa qualidade sobre com foi a vida durante a Segunda Guerra Mundial. Pelos filmes, documentários, fotos e leituras o horror foi completo, e de uma certa forma foi, mas não como sempre contaram. É claro que no meio de destruição e mortes a vida continuou, tão normal quanto possível, aliás muito parecida com a nossa loucura de hoje.
O Big Brother está aí para vivermos e não exatamente é o circo de palhaços que passa na TV. A vida supera de longe a realidade.
Minha querida amiga está absolutamente correta em tudo que diz, mas surtou, surtou feio, pesado, não consegue entender que é assim, mas não é exatamente assim, que a vida segue. Nós, todas as pessoas que a amamos, não conseguimos frear o surto. O médico também não. Definitivamente não é a única. Outros muitos estão constantemente surtados e os aceitamos como normais.
Não resta dúvida que o número de surtados aumenta a cada dia, meus amigos psicólogos e psiquiatras que o digam. Estão exaustos.
Entulhe uma pessoa de informação que ela ficará completamente desorientada, diz a ciência. Pura verdade. Da desorientação para o surto é um passo? Deveria ser, mas não é? Por que? Deixo esta pergunta.
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