quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Como fazer errado um tostex de queijo e o custo do Brasil

Não existe qualquer segredo para preparar um tostex de queijo. Pega se duas fatias de pão de forma ou semelhante, adicione duas ou mais fatias de queijo bem estendidas e espalhadas sobre uma das fatias de pão, e sobre o queijo coloque a segunda fatia de pão, fechando o sanduiche no tostex. Leve ao fogo lento, tostando os dois lados do sanduíche por igual e sem queimar até o queijo derreter. Se meu querido irmão, o sujeito mais desajeitado que conheci, fazia, qualquer um faz um tostex. Neste Brasil tão pobre não é bem assim.

Acredite se quiser, tem quem não consiga colocar o queijo estendido no pão. Como a esperança é a última que morre, ainda acredito que não é por alguma deficiência mental, ou por puro desleixo, ou desinteresse, ou ainda pela total e absoluta ignorância, ou por ter sido contratada sem que lhe explicassem o que é um tostex. Uai! a miséria é tanta que a senhora contratada não nunca devia ter visto um tostex na vida. Acontece com muito mais frequência que se possa imaginar. 
Desconhecer é para todo mundo. Eu não fiquei estatelado a primeira vez que fiz uma compra numa máquina de cobrança automática, das que devolvem o troco em moeda escorregando por baixo sem fazer barulho. Minha avó, Carminho, não fazia ideia de como deveria abrir um saco de leite e só não fez um desastre porque entrei na cozinha quando ela estava com a tesoura na mão.

Descobri que mesmo uma dita e contratada chapeira de um dos cafés do Aeroporto de Guarulhos não faz a mais remota ideia de como se faz um tostex. Que pobreza! Pois releia o "Que pobreza! com os mais diversos entendimentos que quiser, de preferência não os ideológicos que só servem... só servem... só servem para que mesmo? Bom, para transformar qualquer problema em drama social, religioso, econômico... Repito: pobre! porque o que foi servido é de uma pobreza sem tamanho, em todos sentidos, e a bem da verdade, literalmente deprimente, a imagem deste Brasil, mais ainda, no GRU, Aeroporto de Guarulhos. É um realista "Bem vindos ao Brasil". 

Parece besteira, sacanagem minha, mas o horroroso tostex que nos foi servido no aeroporto pode trazer consigo várias outras análises do que acontece por trás do pano, todas simbólicas de um Brasil miserável que vivemos e convivemos, melhor, que construímos e pretendemos deixar para nossos filhos e netos. Miserável, de A a Z, com poucas exceções. 

Exagero meu?
Você tem uma parede construída na sua casa inclinada como a Torre de Pisa? "Eu não preciso de plumo. Sei como construir uma parede". De fato! Já teve o encanamento da pia da cozinha entupido por fita isolante jogada pelo eletricista que não sabia, não queria saber e não perguntou onde é o lixo? Já foi diagnosticado com uma doença que não tem? Já passou por situações nossas tão comuns que, para não ter um ataque de loucura, o fez desandar a rir repetindo sem parar "só pode ser gozação?". Pois então, não é, definitivamente não é! Este é o nosso Brasil.

É sabido que um dos principais consequências que a miséria gera é o famosíssimo e tão falado "Custo Brasil", que comparado a outros países, até os muito menos ricos do que nós, está fora da curva, pelo menos da que se considera aceitável. E todos sabemos que o ó do borogodó está na educação. Não conseguimos, eu diria melhor, não queremos resolver o drama da educação, ou já estaria resolvida. Quem quer, vai atrás. Quem quer consegue. Não há sinal que queiramos de fato uma educação melhor. Não estou falando de pagar escola particular para os filhos, mas de educação geral de todos com qualidade comprovada por resultados.

Hoje, em entrevista na Rádio Eldorado, Cristina Cruz, especialista em educação, falou que se precisa com urgência acertar a qualidade da educação mais básica, a das crianças mais novas, que é a única saída para boa parte dos problemas sociais que estamos tendo, dentre eles um baixo rendimento no trabalho. Não é mais horas trabalhadas, mais horas dentro de classe, mais matéria, mas fazer melhor, mais bem feito, ter qualidade, oferecer qualidade, entender qual a importância real da educação, da melhor possível.

O número de reclamações que ouço faz décadas sobre o despreparo dos alunos vindo de professores universitários é impressionante e só ficam mais graves. O número de vezes que ouvi sobre pais que entram furiosos na escola gritando que "eu pago, então vocês que resolvam (os problemas do filho ou filha)" é depriumente. Sexta-feira passada ouvi de um respeitado professor universitário que está farto destas ocorrências, ele dá aulas em uma das mais respeitadas universidades do país, pública aliás. Acontece igual.

A senhora que preparou o tostex errou feio porque ela vem da periferia ou talvez até de uma favela? Vá conversar com gente grande do Brasil produtivo e vai ouvir que até muitos dos novos contratados vindos de boas famílias, com boa condição econômica, saídos das melhores escolas e faculdades, viajados, etc... têm que ser corrigidos com frequência porque têm dificuldade no ler, escrever e fazer cálculos básicos. O buraco é muitíssimo mais em baixo, melhor, muito melhor: o buraco é muito mais em cima. 

Ou se corrige o ensino básico do básico, não só para a população mais pobre, ou...
Analfabeto funcional, adoro esta expressão. Não se preocupem, de certa forma me incluo aí.

Tenhamos vergonha na cara e lutemos para ter um Brasil minimamente educado, culto, refinado. Vergonha da cara!



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