terça-feira, 4 de julho de 2023

Implantar a segurança em círculos de virtude

Brasil é um dos países com piores índices de segurança no mundo. Como mudar esta situação?
Acredito que se tenha que parar de brincar de fazer o que manda a lei, o dito correto, para avançar respeitando os vícios existentes. Penso que deva ser como educar criança ou adolescente: quanto mais você diz não pode, mais eles são tentados a fazer, e acabam fazendo. 

Sempre vale a pena olhar para o que dá certo em outras áreas.
Uma das técnicas para ensinar a ler e escrever é começar pelas palavras que o aluno já consegue identificar, como Coca-Cola, Vivo, Claro, pare, metrô, etc... Em muitos casos é possível fazer o aluno sentir-se mais seguro, baixar a ansiedade, ou parar com a sua auto negação. 
É muito provável que exista uma pedagogia específica para ensinar e treinar procedimentos de segurança, mas provavelmente deve ter sido pensada para o público trabalhador, o que põe em jogo uma regra impositiva: se fizer besteira perde o emprego e com isto o salário.
Interessante é que esta mesma população que trabalha em locais que têm certificado ISO fora da área de trabalho não usa os ensinamentos, práticas e procedimentos que fazem a fábrica, por exemplo, funcionar bem e progredir.

No norte e nordeste boa parte da população usa moto sem capacete e sem respeitar qualquer regra de segurança que é, ou deveria ser, o básico do bom senso. Autoridade entrar de sola multando, aprendendo as motos, mandando para a moto escola, ou tomando qualquer outra atitude pouco ou absolutamente nada resulta, só dá raiva no povo que vai seguir fazendo as mesmas besteiras. Não funciona, simples assim. 

Vivemos numa sociedade que foi construída sob a força do medo imposto, uma forma secular de manter o povo controlado. A questão é que esta técnica a cada dia é mais contestada e menos eficiente. 

Segurança não pode ter qualquer relação com ansiedade, que por sua vez gera medo. 
Boa parte dos que não conseguem pedalar olham para a bicicleta e tem um surto de ansiedade. Se conseguir desviar o pensamento do aprendiz, e com isto enganar a ansiedade, ele sai pedalando. Tive um aluno que não conseguia pedalar mais que uns poucos metros. No meio de uma destas tentativas passou uma menina bem ajeitada e ele descontraiu, imediatamente mandei ele seguir aquela bunda e foi a primeira vez que ele pedalou com segurança.

É comum o uso inconsciente da negação para passar do medo gerador de ansiedade para uma liberdade inconsequente. Faz tudo sem avaliar, vai na louca, e se esborracha, o famoso "não vai acontecer comigo". Como frear o entusiasmo deste pessoal? Se conselho fosse bom seria vendido. 
 
Em qualquer escola de pilotagem para competição uma das regras básicas que é constantemente repetida é pilota relaxado. Se a mão começar a agarrar o guidão ou volante, relaxa, solta os dedos, solta a mão, os braços. Opa! não falei solta do guidão ou volante, falei solta, relaxa. Mas de novo, como ensinar?

Dados bem precisos confirmam que quanto mais relaxado está a pessoa mais segura também está. Relaxado, não desligado, repito; há uma sensível diferença entre os dois estados mentais. De novo, só estando relaxado é que se tem segurança; vale para tudo, não só dirigir, pedalar, pilotar.

Segurança não tem meu jeitinho, esta é minha forma, o que eu faço é seguro, mas..., infeliz e mortal vício brasileiro, mas... como reverter este nosso  jeitinho tão perigosamente peculiar?

A melhor forma de mudança é pelo respeito a verdade do outro, mas sem se curvar. É uma comunicação complicada que tem que dar bons resultados ou cai no vazio, quando não piora a loucura.

Uma coisa é líquida e certa: ainda não aprendemos a ensinar segurança. Urge criar círculos de virtude. 

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