Na esquina das ruas (avenidas) Funchal com Gomes de Carvalho um ciclista cabelo e barba brancos que vinha da Juscelino dobrou a esquerda sem olhar, cruzou o sinal vermelho. Um pouco depois foi seguido por uma mulher que também cruzou sem olhar. Dei um urro para pará-la ou iria enchê-la no meio, na velocidade que eu vinha seria acidente feio. O idoso parou um pouco mais a frente na Gomes de Carvalho, jogou a bicicleta e o capacete no chão ameaçadoramente e partiu para cima de mim gritando "Respeite minha mulher, respeite minha mulher, respeite minha mulher..." quando foi agarrado e seguro pela mulher. Eu fiquei distante gritando "Aprende a pedalar". Sair no braço, eu? Nunca em vida saí, não seria agora. Tive vontade de dar meia volta e discutir, mas o ciclista estava completamente fora de si.
Repassando o incidente em casa, a primeira imagem que tenho foi a do ciclista cruzando a Funchal (no vermelho) sem sequer olhar se vinha alguém. Não diminuí porque teria passado por trás dele numa distância segura, sem problema, que talvez ele sequer percebesse. Não ia dar em nada. Na fração de tempo que meu olho ficou acompanhando o ciclista, ela, a ciclista, também começou o cruzamento olhando para frente, acompanhando segura o ciclista, leve, livre e solta e sentindo-se segura. De uma colisão com ela não conseguiria escapar sem o urro que a fez frear.
O detalhe é que quando ele começou o cruzamento sequer olhou para trás para ver onde ela estava, se seria seguro para ela.
Daí esta carta aberta ao macho alfa:
Primeiro: falando em respeito, todo e qualquer ciclista deve respeitar os bandeirinhas que ficam nas esquinas orientando o trânsito, o que a cada dia acontece menos. Quando estes trabalhadores esticam cruzando a Ciclofaixa de Domingo suas bandeiras vermelhas com um bem visível PARE ao centro, deve-se parar, o que não ocorreu, mesmo que seja por simples respeito ao trabalho destes. Não aconteceu.
Segundo: quando o semáforo está fechado, no vermelho, como era o caso, ciclistas, que pelo CTB conduzem um veículo como qualquer outro, no caso a bicicleta, devem parar, como qualquer outro condutor de qualquer outro veículo.
Terceiro: eu estava pedalando na rua, o que segundo o CTB só é permitido quando o ciclista circula a pelo menos 50% da velocidade mínima estabelecida para a via, o que era meu caso. Pelo mesmo CTB, em havendo ciclovia ou ciclofaixa, como é o caso no local, como ciclista eu deveria estar pedalando na ciclovia e não na rua. O que se pode colocar em questão é que ciclovia não é lugar para treinar, ou pedalar em velocidade não compatível com a segurança dos outros ciclistas. Eu estava pedalando forte, uma espécie de treinamento, para continuar tentando recuperar minha saúde afetada pelo COVID. Em minha defesa tenho a dizer que era um domingo de férias, com ruas e avenidas praticamente vazias.
Quarto: viesse um carro ou moto elétrica, que não fazem qualquer barulho, a ciclista não teria escapado de um gravíssimo acidente, o pior deles para um ciclista, a colisão lateral, em muitos casos fatal.
Quinto: homem que é homem preocupa-se com quem está pedalando junto, aliás, regra de cortesia básica para todo e qualquer ciclista, seja homem, mulher. Quem guia o passeio tem que olhar pela segurança dos outros.
Último: macho que é macho, homem que é homem, não sai no braço como tudo indica que este ciclista queria e só não o fez porque a mulher o segurou pela mão, demonstrando que está acostumada aos ataques de fúria de seu companheiro.
"Discutir pode, brigar não pode" sábias palavras deixadas por meu caríssimo amigo Sérgio Luiz Bianco. "Você sabe com quem está falando" é muito simbólico do quem somos, não há como negar. Sair no braço é uma vergonha, deprimente, mas caiu em desuso...
Nos dias de hoje (Cartomante - Ivan Lins) é bom que se proteja, ofereça a face para quem quer que seja, nos dias de hoje esteja tranquilo, haja o que houver pense nos seus filhos...
... sair no braço é uma vergonha, deprimente, mas caiu em desuso... Tive sorte de não ter tomado uns tiros, que é o "você sabe com quem está falando" trivial e da moda. Cruzar no vermelho?
De minha parte faço votos que uma hora desta cruze com o ciclista e possa parar e conversar feito gente civilizada. Nada deixaria minha alma mais tranquila.
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