quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Justiça, o correto, e atitude da população

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A desconfiança generalizada sobre nossa justiça tem como base o aceitar convenientemente injustiças e ilegalidades em causa própria, nosso telhado de vidro de cada dia. O título de uma notícia velha que pipocou no meu celular pode ser tomado como uma ótima referência: "'Não podem massacrar como estão fazendo', diz a mãe de aluna que gastou R$13mil que eram da própria turma da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria)". A aluna em questão usou a arrecadação para a festa de formatura de sua classe com gastos pessoais, segundo a justificativa da mãe "(dinheiro gasto) em parte com alimentação de sua família (provavelmente mãe incluída)". Ainda segundo a reportagem do Diário de Santa Maria a mãe afirmou que "Já depositamos R$ 1mil e a gente vai pagar, mas do jeito que a gente pode"; traduzindo toda história - que se dane os prejudicados, eles não têm o direito de ficarem furiosos. Até entendo a situação e o posicionamento dos pais, entendo também que não tenham como pagar, mas está aí um bom exemplo do fenômeno generalizado deste Brasil que contamina, distorce e esculhamba o conceito de como vemos justiça. O justo vai muito além do cumprimento das leis. O bem deve ser praticado por todos e para todos, não quando em benefício próprio. Primeiro eu? E os meus direitos? Pequenos deslizes? É comum não reagir e acomodar pequenos deslizes, ilegalidades ditas menores, sem importância, mesmo quando praticadas por outros. É geral a acomodação do que possa criar constrangimento por menor que seja. Nem pense em repreender quem joga lixo no chão das ruas; provavelmente ouvirá impropérios furiosos. Políticos, juízes, autoridades, servidores públicos, são tão brasileiros como qualquer um de nós, ou seja, são voz comum, o reflexo de um todo. Os problemas da nossa justiça e que são acusados pela população no geral, algo que se espalha pelo país, tem nome: o mais puro e brasileiro corporativismo praticado por todos de todas espécies e gêneros. Eu calo, tu calas, ele cala, nós calamos, mas sem sombra de dúvida vós sois culpado e eles são culpados; incluindo aí o dedo em riste para dizer que a culpa é da Justiça no Brasil que não funciona e eu sou bonzinho e não tenho nada a ver com isto.


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