Recebi uma carta notificando que fui mais uma vez multado na Itália, desta vez em Bolonha. Não é novidade, ser multado na Itália é fato corriqueiro e só não recebe um bilhete quem nunca dirigiu lá. Virou piada, cara por dizer, conto para alegrar toda uma mesa, gozação sobre quem são os italianos, povo tão amado, país tão lindo, delicioso, mas pródigo em histórias esdrúxulas.
Minha primeira multa foi em Florença. A locadora onde peguei o carro para ir a Siena fica uns quarteirões atrás da estação ferroviária, dentro da área histórica. Quando voltei para devolver o carro segui o GPS e fui pelo único caminho apresentado. A multa foi por circular na área histórica. Bom, e daí, como faço para devolver o carro? Pelo que entendi todos que alugam carros naquela locadora são multados em algum momento. Genial.
Em Bolonha fiquei no Hotel Aemilia, um dos maiores da cidade, fora da área murada, a histórica, restrita. Para encurtar a história, o acesso ao hotel e seu estacionamento se faz por uma única e calma rua. Pelo que entendi eu poderia ter chegado e saído do hotel com o carro, mas no entremeio não poderia ter saído do estacionamento, o que fiz para visitar outras cidades. Contestei a multa e veio uma explicação que a rua é exclusiva para transporte coletivo e táxis, portanto eu não poderia estar circulando ali. Como? Não posso entrar e sair do hotel com o carro e mesmo assim ele tem estacionamento liberado pelas autoridades de trânsito? Táxis só os que pegam os hóspedes. Ônibus? Saí inúmeras vezes caminhando do hotel e não me lembro de ter visto um ônibus sequer. Nem ouvi um do quarto.
Um detalhe que me ocorreu agora, depois do texto publicado: as autoridades de Bolonha afirmam que tem imagem do carro circulando na via dia 02-05-2018 / 10:15:00. OK. Se eles tem câmera na via porque não fui multado as outras 3 vezes que passei com o carro ali? Estacionei no hotel, fui multado quando sai para conhecer outras cidades próximas, voltei para o hotel, e finalmente deixei o hotel e Bolonha. Por que uma única multa?
Qual é o critério destas multas? Aumentar o orçamento? Pegar turista trouxa? Muitos dizem que é golpe. Outros dizem para não pagar. Muitos dos que alugaram carro na Itália receberam multas "estranhas".
Fato é que tive a oportunidade de viajar muito nesta última década, rodei para valer e multa só estas italianas. Dizem para não me preocupar que é assim mesmo.
Ou é golpe ou é...
CRITÉRIO:
Na revisão do texto veio o exemplo máximo de um critério errado: O Ministro do Supremo Marco Aurélio uso a lei no literal e liberou um dos traficantes mais perigosos do Brasil. Errou pesado no critério.
No Brasil, portanto aqui, este senhor que está presidente e tem filhos queridos (para ele), assinou mudanças no CTB para atender seu eleitorado. Por trás de toda esta história está um velho problema que afeta o trânsito do Brasil assim como a Itália: "critério". Quando o critério usado parece esconder segundas intenções por trás a crença na ordem é afetada, para dizer o mínimo. O reflexo mínimo desta dubiedade, por assim dizer, é a queda no respeito à autoridade, o que se reflete numa diminuição no respeito às regras e leis.
Aceitar que errou não é algo trivial, não é da índole humana. Ter que engolir a seco que tomou uma multa que cheira a pegadinha é de lascar, deixa qualquer um puto com total razão. Estabelece-se segurança quando os critérios são claros, não há dúvida sobre a intensão final.
O trânsito brasileiro é cheio de pegadinhas. Melhor, o trânsito brasileiro está cheio de critérios duvidosos, seja por falha da lei, por falha da aplicação das normas e regras, por falta de bom senso, ou completa inépcia de engenheiros e autoridades.
Brasileiro não acredita no CTB e tem montes de razões para tanto. Critérios estranhos ou duvidosos abrem portas para insegurança, causam acidentes, vítimas, mortes, incapacidades permanentes. Pior, muito pior, agora, no meio deste surto de ignorância, serve ao maior perigo de todos: populismo da pior espécie. Corre a fofoca que o CONTRAN vai criar uma sinalização específica para motoristas não caírem no espaço quando a terra plana acabar.
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