Em pleno domingo de av.
Paulista fechada para veículos e lotada de pedestres, ciclistas, crianças,
patinetes e outros circulando para todos lados, o semáforo do cruzamento com a
av. Consolação apagou. Rapidamente juntou um povão para cruzar a rápida e movimentada
avenida de trânsito que nunca para. Ao meu lado esperava uma brecha ou um golpe
de sorte para cruzar sem ser atropelado um professor de uma das principais
universidades do país. Impacientes com a demora sem fim, a massa se lançou pela
faixa de pedestres, uma alma bondosa parou seu carro, outra mais, e assim foi
indo até que todos conseguimos chegar sãos e salvos do outro lado. No meio
desta operação de guerra reclamei da situação precária dos semáforos de São
Paulo, o professor ao meu lado ouviu, concordou. Quando afirmei que não
trocarem os semáforos era responsabilidade direta da população que não faz
pressão, ele discordou e partir daí começamos uma longa e proveitosa conversa sobre
a situação geral que vivemos. Ele jogou a responsabilidade destes problemas
para os que tem poder de mudança, ou seja, governantes, e seguiu falando sobre a
situação da educação e da saúde, para ele prioridade absolutas.
Custo direto e custo indireto,
eis a questão. A bem da verdade sequer fazemos corretamente o cálculo de quanto
vai custar, o que dizer sobre projeção futura e suas consequências. E no meio
desta baderna generalizada fica muito difícil estabelecer as prioridades e
deixar para trás o que parece - e é - correto, mas pode e deve esperar mais um
pouco. Nunca consegui achar um livro sobre como são estabelecidas prioridades em situação
de guerra, informação que nos seria
valiosa nesta altura do campeonato.
Ele contou que alunos da cota
que tem que dormir em leito hospitalar porque não tem condição de voltar para
casa; o que é impróprio do ponto de vista da saúde e ilegal, mas fato. O drama
de não conseguir voltar para casa todos dias não é novo. Faz muito tempo que o
Centro de São Paulo está cheio de trabalhadores dormindo nas ruas porque não
tem condições, tanto por tempo quanto por custo, de voltar diariamente para
suas casas na periferia. O conforto de dormir em casa só nos fins de semana.
Junta-se a este drama que jovens
vindos de áreas pobres não conseguem pensar em futuro. Para eles fica bom estar
vivo mais um dia. Simples e trágico assim. No Jardim Ângela a média de vida da
população local é de 56 anos, quando a nacional é de 72. Jovens pobres e negros são as
principais vítimas da violência que é mais que notícia, é uma realidade brutal.
E estes são boa parte dos estudantes que dormem em qualquer canto para
conseguir terminar seus cursos universitários.
Os professores estão perdidos,
não sabem o que fazer com esta nova realidade, até porque formaram-se num tempo onde
a quase totalidade dos alunos vinham da classe média e sonhavam com um futuro –
até porque havia futuro. Hoje os problemas são críticos e imediatos.
O que significa gastar com
troca de semáforos? É prioridade? Mesmo no meio desta tragédia acredito que
sim. Tenho várias razões para tanto, não só a proximidade com o tema. A
primeira é diminuir os custos gerais da cidade, o que influencia diretamente no
custo de todo e qualquer cidadão. Para a saúde semáforos funcionando melhoram
significam uma sensível diminuição de atendimentos não só na ortopedia, mas em
todas áreas. Só o número de atendimentos de emergência já deve justificar dar prioridade para os semáforos, ou seja, o preventivo. Há uma relação direta entre congestionamento e violência de todos
tipos, o que se traduz em piora na produtividade no trabalho e escola,
problemas diversos de saúde, degradação urbana... Os benefícios de um trânsito mais organizados são incontáveis. É preventivo, não é gasto para remediar.
São Paulo vem perdendo
seu poder no cenário nacional e internacional, o que é uma tragédia não só para paulistanos. Porque investir numa cidade que
não funciona? Ou se trata os principais males da cidade ou a situação geral
fica muito pior que está. O mínimo que qualquer cidade tem que ter é fluidez ou ela morre sufocada.
Detroit: o supremo dos Estados Unidos bateu martelo definindo que a cidade deve ter prioridade sobre os problemas de seus habitantes. Exagero? Absurdo? Se o teto da tenda hospital de campo de batalha rasgar no meio de uma tempestade você continua tratando dos pacientes estragando equipamentos ou prioriza salvar o hospital para salvar muito mais vidas futuras?
Detroit: o supremo dos Estados Unidos bateu martelo definindo que a cidade deve ter prioridade sobre os problemas de seus habitantes. Exagero? Absurdo? Se o teto da tenda hospital de campo de batalha rasgar no meio de uma tempestade você continua tratando dos pacientes estragando equipamentos ou prioriza salvar o hospital para salvar muito mais vidas futuras?
João Batista, querido primo,
diz que lei de trânsito é o código social mais simples de ser entendido por
qualquer um. Está vermelho para, ficou verde segue, numa placa de pare deve-se
parar... Para mudar uma sociedade tão perdida e deturpada quanto a nossa é preciso dar um primeiro passo. Fazer fluir o trânsito com certeza que tudo vai continuar funcionando bem é um ótimo exemplo que as coisas podem funcionar. Os motoristas de ambulâncias vão agradecer.
Conversamos, eu e o professor,
o que seria o gatilho social para uma mudança perene no Brasil. Creio que o que
quer que seja está na forma de pensar do brasileiro. Não adianta investir no que quer que seja se o pessoal acha que depredar é normal. Para ver futuro ´necessário saber que você seguirá em frente com tranquilidade e segurança.
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