Tomei um café sentado ao lado
de um jovem pai segurando um lindo bebe de colo que não parava de olhar para
mim e rir. Elogiei a beleza da criança, perguntei de onde vinha o sotaque dele,
pai, e conversa vai, conversa vem, acreditem – a conversa acabou caindo no
pedalar na cidade. Ele trabalha numa empresa de logística (das grandes e
conhecidas) e vai para o trabalho pedalando, uns 3 ou 4 km. Metade do percurso
é por dentro do bairro e metade pela ciclovia da Faria Lima. "Seria melhor
se toda a cidade tivesse ciclovias. Eu me sinto mais seguro na ciclovia".
É lógico que seria, assim como faz todo sentido sentir-se mais seguro na
ciclovia, principalmente com toda a propaganda que fizeram e seguem fazendo.
Perguntei quantas vezes ele
teve incidentes com motoristas na rua e quantas com ciclistas, patinetes, e
outros quando pedalava na ciclovia. Ele parou, ficou com olhar perdido e
pensativo e disse nunca tinha pensado nisto, mas acabou falando sobre uns ‘probleminhas’
na ciclovia, sem deixar de completar sobre os perigos de pedalar na rua. Não
insisti, mas qual será o índice de incidentes e acidentes numa e noutra
situação? Do pedalar na rua o pessoal só lembra dos incidentes, mas quando
puxados começam a lembrar que foram poucos se comparado aos muitos quilômetros
tranquilos e prazerosos. Liberdade!
Quantos quilômetros os
ciclistas paulistanos estão fazendo pedalando nas ciclovias e ciclo-faixas quantos
no meio do trânsito? Ou ninguém tem que pedalar na rua para chegar até a
ciclovia?
As reclamações sobre ‘probleminhas’
nas ciclovias só crescem enquanto se ouve cada dia menos reclamações sobre
incidentes na rua. É lógico que depois de tanto martelarem sobre só existir
segurança para ciclistas em ciclovias a imagem está bem consolidada, assim como
é lógico que no meio do trânsito a bicicleta é o elo frágil e o ciclista está
exposto a situações mais perigosas, mas ainda não se pergunta onde é mais
perigoso.
Converse com um médico
especialista em atendimento de emergência e ele dirá que o atropelamento por
moto com velocidade de impacto a 25 km/h é muito pior para o pedestre que ser
atropelado por automóvel. A explicação é simples: motos são cheias de pontas
enquanto automóveis tem a frente lisa, sem pontas, com para-choque em plástico
e capô que amassa fácil, projetados para diminuir os ferimentos num
atropelado. Colisão contra uma bicicleta com velocidade resultante de
impacto 25 km\h machuca menos que uma moto, mesmo assim machuca para valer,
podes crer.
As ruas vão ficando cada dia
menos perigosas por duas razões simples: os motoristas estão acostumados com a
presença dos ciclistas na rua e principalmente os ciclistas estão sabendo
pedalar com mais segurança no trânsito. Interessante é que muitas destas
histórias sobre os malditos perigos das ruas e seus motoristas assassinos são
contadas por ciclistas que se você sair para pedalar atrás vai entender tudo.
Colocando tudo na balança o
que dá? É claro que ciclovias ajudam, mas tem lá seus problemas que a
propaganda e o discurso comum simplesmente abafam. Se queremos uma cidade mais
justa o caminho não é ter ciclovias em todas as ruas, mas onde são realmente
necessárias. E de preferência bem projetadas.
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