quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Pedal Anchieta 2018 - o que melhorar?

O Pedal Anchieta 2018 foi bem organizado e correu tranquilo. Começando no melhor estilo brasileiro: Os 19 acidentes divulgados oficialmente, com dois acidentados graves, quando colocados frente aos mais de 30 mil participantes é um número baixo se for levado em consideração tudo que esteve envolvido.

O que tem que ser trabalhado para a próxima edição do Pedal Anchieta?


As autoridades acreditarem que bicicleta existe

Tenho longa vivência e pelo que vi e ouvi acredito que mais uma vez as autoridades não levaram a sério a força que a bicicleta tem. O trabalho das Polícia Rodoviária, PM e CET São Paulo, Eco Vias foram elogiáveis

Mas o que aconteceu em Santos mostra que teve autoridade que não acreditou no tamanho da brincadeira. Tanto é verdade que os comerciantes não sabiam o que estava acontecendo. É de uma inocência sem tamanho acreditar que os ciclistas chegariam no Valongo e lá ficariam, restritos ao Centro de Santos. Houve leve confusão na boca do túnel completamente desnecessária. 



Todos tiveram muita sorte que na noite anterior tenha chovido e que a meteorologia tenha previsto chuva para todo passeio, chuva que só caiu lá pelo meio dia. Melhor, temporal. Com tempo bom apareceriam muito mais ciclistas e aí teria sido bem complicado.

Mapear acessos ao passeio
Mapear e informar com antecedência os melhores e mais seguros caminhos para acessar o passeio se faz necessário. O próximo passeio deverá ser muito maior que este e não dá para continuar acreditando que ciclista é motorista que só pode acessar por um ou dois locais. Desculpem autoridades, mas creio que vocês deveriam levantar uma bicicleta para descobrir que bicicletas são leves e facilmente podem ser levantadas e colocadas do outro lado da barreira ou guard rail. 

Educar os ciclistas se faz urgente
Problemas de falta de civilidade, companheirismo e coletividade, foram muito menores do que eu esperava. Não se pode esquecer que são um mal nacional, não uma exclusividade dos ciclistas. A verdade é que a cultura do bom pedalar ainda não foi disseminada entre a população. Não se pedala a devida suavidade, sabedoria e inteligência. No mínimo os ciclistas precisam ser educados ou pelo menos informados sobre regras básicas de como pedalar civilizadamente. 

A imensa maioria se comportou bem, mas isto só não basta. Se faz tarde que esta maioria comece a pressionar os pregos, cabeças duras, mal-educados e irresponsáveis para que também se comportem devidamente. A mudança tem que começar em casa, nas ciclovias paulistanas, por exemplo, onde vale quase tudo.

A saber; no dia seguinte tinha bastante santista chateado com o comportamento dos ciclistas que vieram no passeio, a maioria paulistanos. Vi pessoalmente algumas cenas e digo que os ciclistas não fizeram nada mais que repetir o comportamento trivial que se vê nas ciclovias, ciclofaixas e ruas daqui, São Paulo. Pedalam sem se preocupar com os outros, param como querem e onde bem entendem, não se importando se estão atrapalhando a passagem de todos ou os colocando em risco. Pior, não sabem dizer "por favor", "com sua licença", "obrigado', e muito menos "me desculpe". 
Santos já tem um sistema cicloviário acanhado até para o movimento local e com a enxurrada de ciclistas do passeio foi gritante a falta de civilidade. Finalmente: pedestre tem prioridade e ponto final.

Desculpem se generalizo, mas foram tantas as besteiras que têm ser desta forma. Parabéns aos civilizados. Não fizeram nada mais que a obrigação.

Aconteceu bastante besteira na estrada, por parte da eterna minoria dos "eu sou o bom" e por parte dos "eu pedalo" (mas não faço ideia do que estou fazendo aqui).

Deixar fluir o passeio.
Pelo amor de Deus, para e anda, para e anda, não dá, ninguém merece. Coisa mais chata! Foi o ponto negativo do passeio pela Anchieta. Deve haver uma forma mais inteligente de controlar o fluxo que fazer todo mundo ficar numa 'fila de INSS'. Se não foi controle de fluxo foi o que então? As autoridades não acreditaram que desceriam 35 mil? Pois deram sorte de ter chovido até o meio da noite anterior ou teria fugido ao controle.
Acabei de saber que não foi controle de fluxo, mas erro grosseiro de engenharia de fluxos: tenda de apoio, banheiros químicos, desvio, acesso posicionados de forma errada. Provavelmente ou com certeza um projeto subdimensionado para a massa de ciclistas. 
Parabéns pelos pontos de apoio, que evitaram quem mais ciclistas precisassem de atendimento por falta de água e comida, mas que sejam melhor posicionados. Obrigado a SABESP pela água.

Conter quem estraga prazer.
Brasileiro tem que parar com esta burrice de passar a mão na cabeça de quem estraga prazer de todos. Dos 19 acidentes, quantos foram causados pelo pessoal sem limite? Vi Polícia Rodoviária parando "super ciclistas" que saíram do espaço estabelecido para o passeio para pedalar mais rápido no acostamento da via aberta aos veículos, e só tenho que parabenizar esta ação da polícia. Não dá mais para aceitar o "eu faço o que quero", "eu sou esperto", "vocês que se f...." como um grito de liberdade. Não é. Um evento coletivo deve ser respeitado como tal. Liberdade é uma coisa, imbecilidade é outra.

Descida:
Vendo o vídeo da Renata Falzoni sobre o Pedal Anchieta 2018 no Bike é Legal lembrei de um detalhe importantíssimo: a descida da serra, o ponto mais perigoso do passeio. Seria interessante que antes do passeio a pista fosse lavada, pelo menos nos locais onde há maior retenção de gordura, óleo, na pista. O ideal seria que lavassem toda descida. O que acontece é que no início da chuva ou, pior, com chuvisco, a pista fica mais escorregadia do que já é. O banho diminui a gordura aumentando a segurança dos ciclistas.

Faltaram banheiros químicos.
Como diabético vi pouquíssimos. Dois estavam posicionados no acostamento atrapalhando o fluxo, quando poderiam estar um pouco mais a frente num acesso. E vi nenhum depois da Represa Billings. Se havia faltou sinalização indicando "... a frente banheiros". 

Turismo:
Mais uma vez o turismo perde uma preciosa oportunidade. Deprimente. Os santistas poderiam ter feito um bom dinheiro com este evento.

A boa nota é que as empresas de ônibus aguentaram o tranco bem, trabalhando meio de um quase caos. Conversei com funcionários da Cometa e eles elogiaram os ciclistas. Já os ciclistas disseram que na rodoviária foi um caos de verdade. Parece que a experiência passada da última descida da Rota Márcia Prado foi esquecida ou não serviu para nada. É sempre assim, por isto não vamos para frente. 

Informações mais bem divulgadas
Informação houve, estava na mídia social, mas poderia ter sido mais divulgada ainda. A questão é que divulgam mais e o passeio tem grande possibilidade de crescer junto, até de sair do controle. O que fazer? A pensar.

Acidentes:
Oficialmente foram 19 acidentes; ou terão sido 19 atendimentos? Tenho um número, algo em torno de 40 atendimentos, que me parece mais realista. E tenho notícia que a maioria destes foi por falta de alimentação ou hidratação; não tomaram café da manha, não levaram comida ou água. 
Os dois acidentados sérios continuam hospitalizados, um em estado grave. Há uma filmagem que mostra um acidente gravíssimo na serra, com o ciclista capotando de frente porque caiu na valeta de escoamento de água da pista, que é bem profunda e perigosa. Vi um filme que um ciclista também cai, sem gravidade, nesta valeta. 

Enfim, quais as causas de cada um dos acidentes? Esta é a única forma de se melhorar a segurança geral. O resto é fofoca que só leva a outras bobagens e a futuros perigos. Segurança é informação precisa, não suposições.

Terminando: 
Discordo do jovem químico formado pelo Ita, a elite da elite de nossa educação, que disse algo como “por ser a primeira vez...” Inteligente, articulado e boa conversa, ele reflete ´na sua juventude uma verdade brasileira que trouxe este país a esta situação horrorosa que vivemos. Desculpe, mas tem que acertar de cara. A informação necessária para isto está aí a disposição de quem quiser. Basta usa-la corretamente. 

O Pedal Anchieta 2018 foi ótimo, mas poderia ter sido muito melhor. Sempre pode ser melhor. E será melhor no próximo. O que me deixou feliz foi saber que a primeira reunião de avaliação a fala geral foi "o que podemos fazer melhor..." Tenho certeza que farão. 
Parabéns aos organizadores. Parabéns aos participantes, a maioria deles. Parabéns.
De minha parte digo: muito, muito, muito obrigado a todos organizadores. Bravo! Bravo!




Contos brasileiros:
O embarque de volta para São Paulo foi complicado, com muita gente não respeitando o bilhete comprado com antecedência e na mão do próximo. Numa destas um grupo apresentou bilhetes, colocou as bicicletas no bagageiro, entrou no ônibus e na hora de sair deu com as bicicletas jogadas no chão. Alguém, que já estava dentro do ônibus, simplesmente abriu o porta malas e tirou as bicicletas de lá para colocar as próprias e seguir viagem. Se os donos das bicicletas que foram retiradas não tivessem percebido chegariam em São Paulo sem elas. Os responsáveis pelo absurdo? Sei lá? Dá para acreditar? Dá, ô se dá.

Vera saiu catando a grande quantidade de saquinhos de gel que ficaram espalhados pelo caminho. "Para que usar gel (energético) num passeio destes?" perguntava ela. A brincadeira de jogar no chão saquinhos com alimento, principalmente estes de gel, mata macacos, lagartos e outros animais silvestres. Segundo Vera, na descida Márcia Prado o número de animais mortos e autopsiados foi grande. Crime ambiental

Nenhum comentário:

Postar um comentário