sábado, 19 de outubro de 2013

Orlando e a bicicleta


Brasileiro falou em Orlando vem direto a imagem dos parques da Disney, Universal, compras, outlets, mais compras, fila do caixa, gente apinhada de pacotes como burros cargueiros felizes, geralmente brasileiros, malas imensas, entra no carro, sai do carro, vias expressas ou avenidas, direto pro hotel, dormir e repetir a dose até acabar a excursão. Eu tinha uma visão muito ruim de Orlando. Mas, é lógico, existe uma cidade até bem interessante, preservada, limpa, verde, rica, que vale a pena ser conhecida.

Parte do sul da cidade é muito espalhada, talvez até um pouco mais que a média americana, principalmente por conta dos parques temáticos, outlets, shoppings e rede hoteleira. Esta é a Orlando que os excursionistas voltam se gabando de ter estado lá. Pensando bem é uma periferia para gente de periferia que vai com vontade às compras, nada mais do que isto.

Ai a ligação entre praticamente tudo se faz por largas e saturadas avenidas, vias expressas e viadutos, ambiente desagradável para os ciclistas. Nestas vias praticamente não há sombra, mesmo tendo um ajardinamento, até com árvores, muito bem cuidado. Em toda a cidade é possível pegar um ônibus e levar a bicicleta no rack dianteiro de duas vagas, mas a maioria dos pontos de ônibus não tem cobertura, principalmente os de vias expressas. O passageiro frita a espera na borda do asfalto. O número de ônibus circulando é baixo.

Há ciclofaixas e sinalização por toda cidade, mesmo que se veja pouquíssimas bicicletas circulando. Pela forma técnica como foi implantada a sinalização fica claro que tiveram que colocar algo ali meio a contra gosto. Caminhar, pedalar e transporte coletivo carrega uma imagem muito forte de coisa de pobre, mesmo que tudo seja muito bem feito, limpo e bem cuidado. Passando por revenda de carros um pouco desta realidade se explica: há muitos carros não tão velhos com preços abaixo dos US$ 1.500,00 parcelados em infinitas prestações e com boa garantia. Não tem carro quem não quer ou está numa muito ruim. Carro velho, que não é lata velha, vê-se com facilidade; pedestres, ônibus e ciclistas são bem mais difíceis de ver circulando nas ruas. Dentro de parques e shoppings beira o empurra-empurra.

Impressionou o número de bicicletas brancas, ghost bikes, espalhadas pelas vias expressas. Mesmo com um trânsito muito organizado e disciplinado pedalar não é convidativo. Nestas vias os que vi com bicicleta é gente muito simples, latinos ou negros. Ciclista ‘chique’ ou vestido de franga com bicicleta cara não vi um sequer, pelo menos na área dos parques, outlets e shoppings. No centro e ao norte de Orlando o número de ciclistas cresce e o perfil também muda. O zoológico fica completo.

O Centro é pequeno, com bem pouca gente circulando mesmo em hora de almoço, mas é limpo e organizado, cortado por um corredor de ônibus grátis todo ajardinado, até um pouco kitsch. O Centro está colado num bairro de residências típicas americanas de classe média, muitas das décadas de 20 e 30, datadas na porta, provavelmente tombadas, bem preservadas, em ruas estreitas, calmas, com praças e lago próximo, entre elas e o Centro, um luxo. Por dentro dos bairros dá para ir até Baldwin Park, bairro de gente rica, e Winter Park, no mapa outra cidade, com sua rua central chique, simples, e muito agradável. É um outro planeta, uma Orlando bem agradável.


Estranho é que muitos ciclistas circulam pela calçada, até pedalando rápido, mesmo nesta rua principal de comércio, restaurantes e cafés, o que não é legal. Ter medo do trânsito daquelas ruas calmíssimas é patético, ou doentio, muito doentio.

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