Vício? O que é um vício?
Se está comemorando os 70 anos do Parque do Ibirapuera. Por incrível que pareça, lá, em 1973, fiz um racha de moto. A (estúpida) brincadeira acabou resultando num convite para correr uma prova de longa distância numa equipe. Fui até Interlagos, andei pela pista para olhar o pessoal pilotando, não fiquei impressionado, exceto com o garoto Johnny Cecoto. Talvez desse para brincar. Voltei para os boxes, achei divertido, mas fui embora. Parece piada, mas o pessoal só sabia conversar sobre moto. Que saco!
Mesmo no meio da bicicleta eu fico tonto. Reúne os malucos, pessoal que adoro, e só se conversa sobre bicicleta. O mesmo no meio de arte. E assim vai.
Sei, concordo, depende de com quem você está. Entre os mais fanáticos a coisa fica muito chata.
"É viciante!" dizem.
Vício.
Se for entrar por aí caminhamos para o infinito e além. Sobre o que estamos falando, sobre a definição de vício? Esta é fácil, pega o dicionário. Mas se estamos jogando a pergunta para o que vicia, aí a conversa se perde. Aliás, a conversa se perde qualquer que seja o caminho que se tome.
O que é viciante? Absolutamente tudo. O capitalismo que vivemos está intimamente ligado aos vícios. Será só o capitalismo? Capitalismo é uma ferramenta, nada mais, mas acusada por muitos de ser todos males na humanidades e planeta. Esta é uma outra história, que aqui só serve para mostrar até onde vai a discussão sobre vícios, ou vício.
Falando sobre o vício horroroso dos outros... Falar mal dos outros é esporte social do qual ninguém escapa, até porque faz bem para a alma. O politicamente correto veio aí para nos salvar, o novo vício purificante.
Os pequenos vícios do dia a dia servem para que? Para quem servem talvez seja mais fácil de apontar. Para que ou para quem sequer estão corretamente estudados e discutidos. E como tudo nesta loucura aceleradíssima de vícios velhos deletados para que vícios novos, fresquinhos, e deliciosos cheguem e nos preencha a vida, a nossa vida tãomonótona (que se dane o planeta).
Pelo que venho descobrindo, num passado distante, antes da revolução industrial, as pessoas não tinham escolha, viviam o que a vida apresentava e ponto final. A bem da verdade é bem possível que vício tenha uma relação direta a condição social e financeira. Pobre tem vício ou rotina?
Rotina é uma coisa, vício é outra. Transformar rotina em vício deve ser um bom negócio, suponho.
Olhando no espelho, quais são as rotinas e quais são os vícios?
Espremido entre a rotina e o vício, quem sou eu? (Aí fudeu!)
Respondendo aos que me perguntam com frequência: bicicleta e pedalar para mim não é nem vício nem rotina, é necessidade clínica tanto para a cabeça quanto e principalmente para equilibrar minha diabetes.
Um dos momentos mais alegres que tive recentemente foi quando um ciclista, destes com bicicleta cara, indumentária completa, histórias heróicas, conversa fechada, me contou que pegou a bicicleta feminina barata da namorada e simplesmente amou a experiência. Caiu a ficha que o negócio mesmo é o básico descomprometido. Ou seja, simplesmente viver.
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