São Paulo Reclama
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O Estado de São Paulo
Colaborar com a elaboração do Plano Diretor? Já colaborei várias vezes, agora, cansado com os intermináveis problemas que se acumulam nesta cidade, eu definitivamente não quero ajudar a escrever um conto ficcional lançado no papel como os que vi no passado. Se os Planos Diretores do passado não foram ficcionais, se dizem que os resultados foram alcançados, que provem. Quanto do delírio da cidade "perfeita", ok, desejável, escrita ali se realizou? Quem foram os verdadeiros beneficiários? Eu quero que se estabeleça um plano para consertar os inúmeros problemas perenes que a cidade tem e pelo visto seguirá tendo. Para que adianta um projeto mirabolante futuro quando muito do que temos está descuidado, mal conservado, caindo aos pedaços ou nunca termina, a verba é curta e não foi programada? Sequer temos semáforos que funcionem, o básico do básico, e não sabemos quando os teremos, é literalmente ridículo. A ficção contratual vale nada para muitos e muito para poucos, está provado. Eu quero poder sair andando, sim caminhando a pé, de um ponto ao outro sem ser obrigado a fazer um caminho que só interessa à segurança jurídica das autoridades. Eu quero que se revise todos Planos Diretores passados para ver o que saiu do papel, o que funcionou, para quem funcionou, que vantagem nós, cidadãos, tivemos nesta história, quem saiu ganhando, quem foi beneficiado, quem perdeu, o que foi um erro brutal para a vida futura da cidade, como aconteceram e pagamos o erro até hoje. Novas avenidas, viadutos, mudanças de zoneamentos, edifícios, condomínios e bairros repaginados com suas suas propagandas irrepreensíveis não remediam problemas atávicos. Leis cruciais para a vida do cidadão que foram assinadas e publicadas há décadas, como a dos ônibus Padrão de 1983, crucial para um transporte público de qualidade, continuam no papel ou foram derrubadas. Plano Diretor assinado, carimbado, publicado vai valer na próxima administração e legislatura? Plano Diretor? Eu quero quero andar, quero, como todos desta cidade, ter o direito a liberdade de ir e vir, andar sem ter que desviar meus caminhos por razões que nunca deveriam acontecer ou que deveriam estar resolvidas há décadas. Eu quero uma cidade, não mais um conto ficcional chamado "Plano Diretor". Gostaria que minha filha e outros inúmeros brasileiros, paulistas e paulistanos, não tivesse ir morado fora do país para ter um mínimo de qualidade de vida urbana, portanto um futuro.
Moro vizinho à Estação Terminal Pinheiros e tive que cruzar o rio Pinheiros para comprar um tapete da Tok&Stok que fica na cabeceira da Ponte Euzébio Matoso. Fui a pé, poderia ter ido pedalando. Voltei deprimido. Começaram a instalar uma ciclofaixa na rua Eugênio de Medeiros entre a rua Paes Leme e a Butantã, onde termina do nada. A intensão é tentar evitar que ciclistas cruzem a Ponte Bernardo Goldfarb, o caminho mais lógico e a vista mais linda do rio Pinheiros. Não vai funcionar, disto não tenho a mais remota dúvida, ciclista não é idiota como eles devem pensar que seja. Continuando minha caminhada dou com muito lixo, moradores de rua queimando fios elétricos, os elevadores da passarela sobre a Euzébio Matoso que não funcionavam há muito tempo foram roubados, forte cheiro de excremento, pessoas vivendo em baixo e dentro da passarela. Mesmo que tudo estive em ordem, o trajeto que um pedestre tem que fazer é absolutamente pouco convidativo. Está implícito para todos que se quiser cruzar o rio Pinheiros terá que pegar um ônibus ou metrô. Não interessa a praticidade e prazer do caminhar ou pedalar, interessa a segurança jurídica das autoridades apoiada num CTB que ainda é rodoviarista. É só aqui em Pinheiros? Definitivamente não, situações como esta se repetem por toda a cidade. Não saia de noite para fazer compras no supermercado ou farmácia, o Largo da Batata estará lotado de jovens, o que é ótimo, mas a música é literalmente ensurdecedora, o que facilita a vida de ladrões. Conforme o dia mesmo pedalando fica difícil cruzar Vila Madalena. Não sei como o pessoal em volta consegue dormir. O Centro, ah! o Centro; que tristeza... Largo da Concórdia, Celso Garcia, av. do Estado, acesso ao terminal Grajaú, sair do Jardim São Luís, M'Boi Mirim, av. Dr. Assis Ribeiro, ponte - viaduto Av. Santos Dumont...
Desde que me conheço por gente vejo os Planos Diretores atenderem a certos interesses, alguns bem particulares, vários anacrônicos. São Paulo hoje é uma cidade de nichos, alguns com ares medievais, que agradam um determinado grupo social específico. A última ideia genial aplicada ao plano diretor permite que se construa edifícios imensos próximos aos corredores de transporte de massa, o que vem descaracterizando tradicionais bairros e avenidas. O edifício entre a Ponte Euzébio Matoso e o Jockey Clube (portão 9) é uma excrescência urbanística, basta olhar sua localização. A ideia era boa em 1970, época em que Jaime Lerner organizou o crescimento de Curitiba. Os tempos mudaram e sequer se sabe bem como ficarão os transportes no futuro.
Desde 1898, em NY, as grandes cidades do mundo se reúnem para trocar experiências de qual é o melhor caminho a seguir. Não nos interessa. Tenho uma filha que está morando em Roma, que é uma cidade cheia de problemas para o padrão hemisfério norte. Lá ela consegue andar pelas ruas com seu filho de três anos tranquila, mesmo falando no celular a trabalho. Detalhe: mora a uns 500 metros da Roma Termini, a estação central de trens, local onde em todo mundo é mais tenso.
Não entendemos ainda que crescer a qualquer custo é uma estupidez. Que seguir em frente deixando muitos problemas para trás é uma opção mais que perigosa, é disfuncional, burra. Não há almoço grátis.
Ok, que a cidade tenha um Plano Diretor, mas que este obrigue a consertar os infinitos eternos problemas que temos no dia a dia.
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