O
resumo da ópera é o seguinte:
Trânsito
é um dos espelhos mais fieis de uma sociedade. Itália tem um
trânsito meio bagunçado, que não se preocupa com detalhes, vamos
dizer assim, mas que é tranquilo, civilizado num outro senso. Para
os ortodoxos ou politicamente corretos, aqueles que se preocupam
demais com a própria segurança em nome da segurança coletiva,
provavelmente assusta, mas funciona. Há respeito, há individualidade, há um
profundo senso de coletividade. E a Itália tem cidades, num sentido
mais amplo.
Trânsito
bagunçado? Velocidade máxima está nas placas para constar. Não
tente andar nos 110 km\h que está determinado pela sinalização da
estrada por que até os Smarts vão passar por você. Como se fosse piada
posso dizer que vi uma velhinha dirigindo bem enrugada, cabelo
branco, rosto grudado no volante, dirigindo um Fiat 500 antigo, 1980,
(não dá mais que 120 km\h, se tanto) carrinho pequeno, do tamanho
de um Smart, se tanto, rodando numa autoestrada à direita, na borda
do acostamento, no limite de velocidade, 90. Foi a única. Mesmo dentro das
cidades, até os mini-carrinhos, elétricos ou de dois tempos, vão
rápido. Motos então…, barulhentas, potentes, nada de CG 125,
aceleram forte. Mas….
Param!
Se perceberem que o pedestre está cruzando param; ou diminuem. Tão
seguro quanto Londres, NY, Paris, mas diferente. Nâo o “vejam
todos, eu parei, sou bom cidadão, sou correto, estou dentro da lei”.
Na Itália tudo se ajeita. Como na política. Eles tem sei lá
quantos partidos, fazem sei quantas coligações, não sei se parece
ou é uma baderna, mas a coisa vai. O mesmo no trânsito, bem mais
organizado. Na calçada do café tem um Jeep estacionado com duas
rodas na calçada. Não, olhando bem, tem mais alguns outros. Lá na
frente tem moto também na calçada, e scooters, monte delas, todas sobre as calçadas ou qualquer espaço onde se possa estacionar. Atrapalha o pedestre? Para os
puristas com certeza: a calçada é sagrada. Para estes cidadãos italianos é uma
situação dos tempos que vivemos. Para resolver, acordo!
Um
pouco além do fora de regra está a nova geração de ciclistas. Milão tem
bicicleta por tudo quanto é canto, a maioria bicicletas clássicas,
originais, de babar. Tem montes de femininas da década de 60 com
freio varão correndo por dentro do guidão, de enlouquecer. A
quantidade de ciclistas idosos é muito alta, maravilhosamente alta.
A maior porcentagem de ciclistas é adulta. Como em qualquer parte
do mundo pedestre sofre com os ciclistas mais jovens, e ai falo de
homens e mulheres jovens, da faixa dos 25 para baixo.
Como
tudo se ajeita por aqui, bicicleta circula em qualquer lugar,
incluindo áreas preferenciais para pedestres, entulhadas de
pedestres, onde os ciclistas que tem bom senso empurram. Ciclista
pedalando rápido no meio da Galeria Vitorio Emanuelle é um absurdo,
mas vê-se com certa frequência.
Interessante,
são poucos os skatistas. Patinete se vê, skate difícil.
Acabei de ver (mais uma vez) uma boa definição do que é o trânsito italiano. Eu estava num bonde, atrás vinha um furgão grande de entrega, que ultrapassou pela direita, parou em fila dupla atrás de um carro de polícia. O policial estava encostado no capô anotando algo num papel, olhou para trás, viu o motorista descer do carro, os dois se cumprimentaram educadamente, e o policial voltou ao seu afazer e o entregador foi fazer seu serviço.
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