terça-feira, 1 de maio de 2018

Mestre, Veneza

Mestre:
"O que é isto no meio desta rua? Um bonde de trilho único?" e a imaginação correu solta. "Não pode ser um monotrilho com duas rodas em linha. Como se equilibra?" A resposta estava logo a frente, um bonde, ou VLT - veículo leve sobre trilhos - normal, mas, olhando bem de perto, sobre rodas pneumáticas que usa o trilho como guia e segundo polo do sistema elétrico. A fiação é aérea e ele tem uma 'antena' para fazer contato.
O interessante de ser trilho único é que a rua fica visualmente mais limpa. A existência de bondes, VLTs, não fica tão marcante como quando se tem dois trilhos por linha, ou quatro trilhos na rua para a circulação deles nos dois sentidos. O som deles com rodas pneumáticas é muito mais baixo que com rodas de aço, o também faz muito diferença para o ambiente e o prazer de  estar na rua. Ciclovia e calçada estão separadas do espaço dos veículos e entre si, mas não é raro ver ciclistas circulando no espaço de pedestres mesmo com a ciclovia logo ali. Como o espírito italiano é bem mais calmo que do holandês, o trânsito geral também o é. Ciclista italiano pedala com uma tranquilidade invejável, deliciosa. Parecem felizes.  É normal e frequente ver ciclista parando para o pedestre passar ou se ajeitar.
Gostei muito de Mestre, mais que poderia imaginar. Tem traços de cidade moderna, é bem uniforme, com espaços públicos pensados para a população local. Praças gostosas, as verdes e as cimentadas para convívio, comércio local básico, nada agressivo, quase sem grandes grifes. Pero de onde fiquei há uma biblioteca pequena, instalada numa bela construção restaurada, com um interior aconchegante e sempre frequentada. Algumas construções de época preservadas, não uma cidade histórica, mas uma cidade com história.
Veneza fica logo ali, uma viagem curta ou de bonde ou ônibus, quase sempre cheios, em horário de pico lotados. Dá para ir pedalando ou mesmo a pé. Dentro de Veneza nem bicicleta circula, muito menos automóvel ou motos. Todas rodas param e estacionam no terminal da Praça de Roma de onde se pega o transporte por barco para qualquer parte de Veneza.
O transporte público por barcos de Veneza está subdimensionado. Suas barcos quase sempre circulam cheias; perigosamente lotadas nos horários de pico, isto quando não se tem que esperar a próxima.
Infelizmente Veneza virou um shopping center a céu aberto, lotado, maltratado. Recebe 30 milhões de turistas \ ano, um absurdo que se está colocando em discussão. Não dá mais para continuar assim. Vi agora uma Veneza fora de temporada e fiquei muito assustado com que vi. Em vários momentos foi desagradável. Num deles dei meia volta e quis voltar para Mestre, felizmente dobrei uma esquina e fugi dos malditos turistas (incluindo eu próprio). Não posso nem quero imaginar como fica em alta temporada.
Agradável é ficar distante das rotas turísticas e caminhar na Veneza residencial, calma, charmosa, silenciosa, colorida, um labirinto sem fim com poucos pontos de comércio local. Perto da Igreja de São Francisco della Vigna, quase de frente a Ilha e cemitério de San Michele, bem longe dos turistas, almocei na tratoria Ale do Marie, que vive de atender a piãozada local. Simples, ótima, saborosa comida com jeito de caseira. 
A Piazza San Marco estava longe de lotada, mas já chata. Para onde se olha tem alguém fazendo self, excursão, ou barracas vendendo bugigangas. Barracas de bugigangas no meio da San Marco? Incrível! Aquela maravilhosa história contada por aquelas construções indescritíveis não merece toda esta porcaria. Cheguei em barca muito emocionado com a maravilhosa visão do Palazzo Ducale. No meio da praça e daquela bagunça agradeci a Deus por estado ali em 1976 e ter a sorte de poder dizer que eu vi Veneza. Hoje, aquilo é Veneza?
Renata Falzoni me recomendou com vários elogios ao ficar em Lido, a longa ilha que fica ao sul de Veneza, e terminou dando a entender que prefere Lido a Veneza. Agora entendo perfeitamente. Não foi desta vez, quem sabe no futuro. Lido é um balneário que preservou suas casas e pequenos palácios, lugar que remete a um passado delicioso, mas perdido.
A Veneza não pretendo voltar. Espero que coloquem um limite no número de turistas circulando e cobrem ingresso, exatamente como se faz nos mais importantes museus do mundo. Este tipo de turista não é educativo para ninguém.
No Duomo di Siena, La Catedrale, que é de uma beleza raríssima, entrei, dei de cara com uma jovem mulher fazendo self, visitei com calma, uma meia hora depois quando eu saída, dei de cara com a jovem exatamente no mesmo lugar fazendo self. Eu não sou tão democrático: imbecis não devem ser permitidos em certos lugares. Eles não tem o direito de arruinar a história da humanidade.

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