Meus últimos dias em cidades
que eu gosto geralmente são melancólicos. Não o fim das férias, mas é o deixar
para trás a vida civilizada, o poder viver leve. Nossa vida no Brasil está
muito pesada, muito grotesca, com uma qualidade de civilização inaceitável.
Nada a ver com minhas paixões, Amsterdam, Paris, NY, Milão as preferidas, cada
uma a seu estilo, todas abertas para vida, todas olhando para o futuro, todas
cosmopolitas, todos cheias de liberdade, cultura, civilidade. Meus últimos
momentos em cada uma delas é melancólico. Saio para andar, sento num café ou
praça, me despeço de cada rua, construção ou monumento como numa despedida de
alguém muito amado.
No passado eu voltava para
casa cheio de ideias e esperanças; já faz um bom tempo volto com uma raiva que
só aumenta. Hoje em dia se um imbecil vier com aquela frase idiota "Se
fala mal do Brasil porque não vai embora?" com certeza vou
levantar a voz e responder "Por que quero lutar para derrotar os que
destroem o meu país". Esperança ainda não morreu, mas minha esperança
está se desvanecendo.
Todos nós temos problemas.
Minhas cidades preferidas têm problemas. Os cidadãos das minhas cidades amadas
têm um dia a dia com suas mazelas. Não é vida de turista, definitivamente não
é, onde quer que se esteja. A diferença para o que temos é a qualidade geral,
em tudo. Me veio a mente um monte de situações civilizadas e comecei a
digita-las; este texto estava ficando enorme e apaguei tudo. Não preciso
escrever nada, basta abrir o NY Times, o Le Monde, o El Pais em papel que tirei
do avião e estou lendo agora. Está lá, em textos com princípio, meio e fim.
Nossa imprensa sobrevive porque soube se curvar a mediocridade geral dos
brasileiros, nossos jornais são magros, nossos textos são curtos, as notícias
não conseguem fugir do moto perpétuo da violência, da política esquizofrênica,
do futebol 7 X 1. Pão e circo.
Meu irmão, Murillo, quando
voltou de sua viagem primeira viagem à Europa em 1969 desceu a escada do avião
(não existiam os fingers) e a primeira coisa que disse foi "De volta ao
bang bang!" Nossos problemas são de longa data e as soluções que foram
dadas a eles não deram os resultados esperados, digamos de passagem foram
medíocres.
Incluiria Buenos Aires e Rio
de Janeiro, e mesmo com todos seus problemas eu as amo. Com dor e confusão na
cabeça incluiria São Paulo, minha terra, cidade que conheci praticamente
inteira pedalando antes da devastação sofrida pela especulação sem limites
apoiada pela mediocridade geral de todos. As cidades brasileiras vêm num processo
de degradação lento e inaceitável. Digo e repito: Brasileiro não sabe o
que é uma cidade; brasileiro usurpa a cidade. A fala de Alexandre Garcia sobre
seu retorno das férias hoje na Rádio Eldorado - Estadão diz tudo.
Buenos Aires parece que está
chegando no ponto de retomada de sua grandeza porque o portenho vive com amor e
respeito sua Buenos Aires querida. Choro pelo Rio, todos nós choramos. São
Paulo? A Sampa que temos hoje pode bem ser definida pelo edifício patrimônio
histórico favela que desabou no Centro.
Nas primeiras pedaladas aqui
pensei neste texto e fiquei na dúvida se estava sendo muito duro. São Paulo,
dependendo de onde se esteja, não é tão ruim assim. Será? Ou estamos tão
acostumamos com o ruim e sem saída que apagamos rapidamente a normalidade?
Normalidade? Simples: é ver
John Carrie, Secretário de Estado dos Estados Unidos, segundo homem da
administração Obama, andando a pé com um amigo, sem segurança, com um cidadão
comum que agora o é, pelas ruas de Milão. Não entendeu? Ok, desculpe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário