segunda-feira, 14 de maio de 2018

De volta ao bang bang.

Meus últimos dias em cidades que eu gosto geralmente são melancólicos. Não o fim das férias, mas é o deixar para trás a vida civilizada, o poder viver leve. Nossa vida no Brasil está muito pesada, muito grotesca, com uma qualidade de civilização inaceitável. Nada a ver com minhas paixões, Amsterdam, Paris, NY, Milão as preferidas, cada uma a seu estilo, todas abertas para vida, todas olhando para o futuro, todas cosmopolitas, todos cheias de liberdade, cultura, civilidade. Meus últimos momentos em cada uma delas é melancólico. Saio para andar, sento num café ou praça, me despeço de cada rua, construção ou monumento como numa despedida de alguém muito amado.
No passado eu voltava para casa cheio de ideias e esperanças; já faz um bom tempo volto com uma raiva que só aumenta. Hoje em dia se um imbecil vier com aquela frase idiota "Se fala mal do Brasil porque não vai embora?" com certeza vou levantar a voz e responder "Por que quero lutar para derrotar os que destroem o meu país". Esperança ainda não morreu, mas minha esperança está se desvanecendo.

Todos nós temos problemas. Minhas cidades preferidas têm problemas. Os cidadãos das minhas cidades amadas têm um dia a dia com suas mazelas. Não é vida de turista, definitivamente não é, onde quer que se esteja. A diferença para o que temos é a qualidade geral, em tudo. Me veio a mente um monte de situações civilizadas e comecei a digita-las; este texto estava ficando enorme e apaguei tudo. Não preciso escrever nada, basta abrir o NY Times, o Le Monde, o El Pais em papel que tirei do avião e estou lendo agora. Está lá, em textos com princípio, meio e fim. Nossa imprensa sobrevive porque soube se curvar a mediocridade geral dos brasileiros, nossos jornais são magros, nossos textos são curtos, as notícias não conseguem fugir do moto perpétuo da violência, da política esquizofrênica, do futebol 7 X 1. Pão e circo.

Meu irmão, Murillo, quando voltou de sua viagem primeira viagem à Europa em 1969 desceu a escada do avião (não existiam os fingers) e a primeira coisa que disse foi "De volta ao bang bang!" Nossos problemas são de longa data e as soluções que foram dadas a eles não deram os resultados esperados, digamos de passagem foram medíocres. 

Incluiria Buenos Aires e Rio de Janeiro, e mesmo com todos seus problemas eu as amo. Com dor e confusão na cabeça incluiria São Paulo, minha terra, cidade que conheci praticamente inteira pedalando antes da devastação sofrida pela especulação sem limites apoiada pela mediocridade geral de todos. As cidades brasileiras vêm num processo de degradação lento e inaceitável.  Digo e repito: Brasileiro não sabe o que é uma cidade; brasileiro usurpa a cidade. A fala de Alexandre Garcia sobre seu retorno das férias hoje na Rádio Eldorado - Estadão diz tudo.
Buenos Aires parece que está chegando no ponto de retomada de sua grandeza porque o portenho vive com amor e respeito sua Buenos Aires querida. Choro pelo Rio, todos nós choramos. São Paulo? A Sampa que temos hoje pode bem ser definida pelo edifício patrimônio histórico favela que desabou no Centro.

Nas primeiras pedaladas aqui pensei neste texto e fiquei na dúvida se estava sendo muito duro. São Paulo, dependendo de onde se esteja, não é tão ruim assim. Será? Ou estamos tão acostumamos com o ruim e sem saída que apagamos rapidamente a normalidade?

Normalidade? Simples: é ver John Carrie, Secretário de Estado dos Estados Unidos, segundo homem da administração Obama, andando a pé com um amigo, sem segurança, com um cidadão comum que agora o é, pelas ruas de Milão. Não entendeu? Ok, desculpe.






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