sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Mossoró


Mossoró é uma cidade de quase 300 mil habitantes. Tem dinheiro, é fácil perceber. Fica mais ou menos entre Natal e Fortaleza, umas 4 horas sul ou norte por estradas boas, vários trechos recém duplicados. Cheguei com a cidade dormindo e o que chamou a atenção foi o grande número de edifícios novos, modernos e altos espalhados aleatoriamente no meio de construções muito simples. 
Na manha seguinte saímos, eu e Eric, para as avenidas e ruas de trânsito muito desordenado. Não ensinaram a este pessoal o que é uma linha reta. As conversões na avenida são realizadas à esquerda em aberturas oficiais no canteiro central, mas que como projeto viário é uma piada. O número de infrações que se vê é maluco, de todo tipo, da falta de capacete na moto à qualquer outra falta de bom senso. “Perdoai os Senhor, por que eles não fazem a mais remota ideia do que estão fazendo”.
A cidade, uma das poucas que tem dinheiro próprio no nordeste, poderia ser muito agradável, mas está muito curvada a vontade particular de cada um. As calçadas... se é que se pode chamar aquilo de calçada... é dos piores exemplos que vi: desniveladas entre si e em relação ao pavimento da via, algumas quase com um abismo para o asfalto. Sinalização de solo, faixa branca, amarela..., bom, existe, mas não me lembro de ter visto. Tachas, tachinhas e tachões isto tem. Carros, motos, ciclistas, os pouquíssimos ônibus (uma frota de 19 para toda cidade) de transporte coletivo, alguns caminhões, carroças e montarias circulam por todos lados e em toda e qualquer direção, algumas tantas vezes na contramão. Mesmo assim achei mais fácil pedalar em Mossoró do que em Curitiba, onde o trânsito é mais agressivo.  
(Estou escrevendo esta no aeroporto de Fortaleza e os mosquitos me devorando. Que merda! A menina do guichê está torrando os malditos com uma raquete elétrica e espalhando cheiro de sangue queimado no ar).

Voltando a Mossoró, morre muita gente no trânsito, os hospitais já chegaram a ter mais de 75% dos leitos ocupados por motociclistas arrebentados. Mesmo assim creio que é relativamente fácil melhorar esta situação num curto espaço de tempo e de quebra ter uma cidade chique, já que o traçado urbano está dividido em dois por um grande parque, uma reserva. Querendo dá para fazer.
Saímos num sábado à noite e fiquei impressionado com a tranquilidade e boa educação do povo nos bares e espaços públicos da avenida central. Conversam em voz baixa e sujam menos o espaço público que nós paulistanos. A pracinha próxima de onde fiquei fica lotada todo final de dia e é limpa.
Saí para pedalar pouco, só nos horários de menos calor. O racha coco do meio dia e começo de tarde é bem complicado. Todos me falaram barbaridades sobre os perigos de pedalar no meio daquela loucura, mas mesmo em horário de pico da tarde não tive mais problemas que em outras cidades, talvez por que eu seja previsível, sinalize e principalmente por que agradeço, sou cordial. Só tive um incidente com um carro virando à direita, mas se tem que dar desconto ao velhinho que estava dirigindo e que ainda pensa que está montado num jegue. Esqueceu de fazer o jegue zurrar e não deu seta com a orelhona do bichinho.
O número de ciclistas circulando é grande, de toda idade, principalmente mais velhos. Há bicicletarias sofisticadas e a moda já está na veia do pessoal mais abastado, que às terças e quintas-feiras acordam de madrugada para ir para estrada. Um deles que me disse que “se precisa fazer alguma coisa para parar as loucuras dos ciclistas pobres...” No dia a dia ciclista gente fina não é visto pedalando.
Fui convidado a dar uma palestra na Universidade Federal, outra na Secretaria de Mobilidade e um breve treinamento para alguns poucos ciclistas. Sai com uma boa impressão tanto dos alunos quanto dos funcionários da Secretaria. Bom sinal, tem gente querendo melhorar a vida da cidade.

Num final de tarde fomos, eu, Eric e Maria, filha de Eric, até o que seria uma praia paradisíaca. No domingo fomos a outra. A estrada duplicada e com ótimo asfalto é praticamente vazia. Passa um gato pingado muito de vez em quando. Não entendi para que tanta estrada, ou entendi, vai lá saber. Infelizmente passamos por muitos jegues atropelados e mais ainda soltos perambulando, prontos para morrer. A quantidade de lixo na beira das estradas é deprimente. Lembrei imediatamente das estradas que peguei na Turquia, impecáveis, limpíssimas, perfeitamente sinalizadas. A estrada para Fortaleza então... é deprimente, um lixão linear a céu aberto. E muita gente sentada a sombra. Triste!

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