Finalmente São
Paulo deve ter a primeira ponte sobre um dos grandes rios especialmente
desenhada para ciclistas, pedestres e pessoas com deficiência, no caso o rio Pinheiros.
Ligará a USP, de sua praça central, ao Parque Villa Lobos, exatamente onde este
tem limite de terreno com o Shopping Villa Lobos.
O
significado desta obra, caso ela realmente saia do papel, é imenso para o
futuro da cidade e da vida de todos paulistanos e, por que não dizer,
brasileiros. As mobilidades vivas não motorizadas ainda são relegadas à segundo
(terceiro, quarto, quinto...) plano, até mesmo aos olhos das leis, incluindo ai
o Código de Trânsito Brasileiro.
Sempre houve
inúmeros projetos de passarelas sobre os rios, que por diversas razões nunca saíram
do sonho, papel e tinta, e muita conversa fiada jogados no lixo, nada muito justificável.
Justificativa mais plausível e real sempre foi a falta de pressão popular, o
que é verdade. No passado falar em cidade para vida era coisa de louco,
sonhador, utópico, imbecil, este último adjetivo normalmente o mais usado. A atual
cidade brasileira foi formada principalmente por engenheiros e sua lógica um
tanto cartesiana, completamente apoiados por quem tinha e segue tendo o real
poder, construção civil e setor automobilístico, e uma população ignorante e
com um forte complexo de inferioridade.
Mesmo sendo
quase a realização de um sonho e de achar ‘bonito’ o projeto, gostaria de ter
visto mais inteligência, força, simbologia, algo bem mais marcante, afinal é um
marco histórico da nossa Inteligência.
Ponte –
passarela.... estaiada. O povão adora estaiadas, principalmente nossa classe
média e classe alta baixa. Acha chique, coisa de gente rica. Sabe como é? Faz
vista! É moderno. É mesmo? Mas custa algumas tantas vezes mais que uma ponte
normal. Não fosse estaiada sobraria para construir a ponte-passarela-ciclovia ligando
bairro e favela Real Parque com o Brooklin, necessidade social econômica urgente-urgentíssima.
Pontes
estaiadas roubam a perspectiva do horizonte, do ver longe. É uma intervenção vertical
sobre as águas, como a imensa ponte estaiada do Brooklin, que aliás não foi a nossa
primeira estaiada e que também desrespeita a lei por que não serve para
pedestres e ciclistas. Simbolicamente paulistana.
A futura ponte-passarela-ciclovia
faz par, isto sim, com a chiquérrima estação Santo Amaro do Metro suspensa
sobre o mesmo rio Pinheiros. Guarda as
mesmas linhas de todas passarelas das estações da CPTM. Forma um conjunto.
Oferece conforto de cobertura e certa proteção de ventos. No Ano do Dragão Chinês
parece o próprio. Ou remete as maravilhosas pontes cobertas, em particular a de
Zurique.
Não é por
que a maioria das nossas pontes e passarelas é um horror temos que descartar projetos
em concreto propendido em balanço, ou outras soluções de desenho leve, como se discretamente
jogadas no ar, e que interferem tão pouco na paisagem que a população
praticamente não as vê. Não confunda técnica mal aplicada com produto de baixa
qualidade. Não confunda frufru e geringonça com obra de arte. Estaiada discreta
é bem legal. Por que não com o estaiamento invertido?
Pelo que se
vê nos desenhos de divulgação fico com dúvidas sobre como será seu
funcionamento, se haverá horários de restrição, principalmente por que USP e o
Parque Villa Lobos tem horário de fechamento.
Ficarei
feliz, muito feliz, quando for inaugurado. Espero que eu olhe a obra final e
diga: “Cara, que texto eu fiz? Isto aqui ficou muito legal!”. Não tenho medo de
errar. Tenho medo de parar de sonhar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi Arturo,
ResponderExcluirmuito legal seu texto. Fiquei sabendo dessa ponte faz pouco tempo. Você sabe se teve concurso de projetos? Quais outras propostas teve? Eu uso a bicicleta e preciso atravessar a USP. Não preciso dessa ponte, preciso de uma ciclofaixa na Ponte Cidade Universitária ... e algo que interliga com a ciclovia da Avenida Faria Lima. Também fico preocupada com eventuais horários de funcionamento dessa ponte. Será que vamos construir mais um equipamento com recurso público que ficará fechado e até restrito para quem estuda na USP? Você já fez um pedido de informação para saber mais sobre o projeto?