A partir do momento que eu parei de reclamar dos erros dos outros no trânsito passei a pedalar muito mais leve e seguro. De novo, as pesquisas não deixam qualquer dúvida que minha sensação tem fundamento. Quanto mais tenso estou, mais suscetível estou para erros e acidentes.
Na romaria dei com um senhor tentando consertar um vazamento no banheiro. Era um trabalho complicado porque para resolver ele teve que trabalhar pelos dois lados da parede, sem fazer muito barulho. Estávamos num hotel. No momento que fui ver o que acontecia, ele estava parado, olhando o cano que ainda pingava, pronto para descer e ir tomar um cafezinho. Contou que tinha chegado o momento que estava perdendo o equilíbrio emocional, com uma vontade imensa de estourar tudo para se acalmar. "Conserto deste lado, começa a vazar do outro. Estes canos estão velhos, tinha que trocar tudo, mas é impossível. Tenho que dar jeito. Vou tomar um café e depois volto para olhar isto com calma". Contei alguns dos meus 'causos' de quando perdi a cabeça por não conseguir resolver o problema. Demos muita risada com nossos causos, ele se acalmou, desceu para o cafezinho, voltou e finalmente resolveu o vazamento.
Num jantar ouvi de Ricardo que ele estava indo à academia. Não aguentava mais sair da cadeira de trabalho uma hora sentindo dor no ombro, outra nas pernas, outra... Falei para ele aproveitar a bicicleta que está na garagem e dar umas voltinhas curtas. "Não me sinto seguro. Não tem onde pedalar. Não dá para ir ao Ibirapuera. Demora. Lá me sinto seguro". Tentei convencer o contrário, mas não consegui. Os seus dogmas estão muito bem encrustrados. Não é seguro e ponto final. Minha esperança, vã, diria, é que uma hora ele se dê conta que precisa de um chute para mudança assim como precisou para ir à academia.
Você sabe com quem está falando? Ou será o complexo de vira-latas? Nossos, digo. Segurança, colaboração, empatia, são parte de nossa cultura? Em que grau?
Uma camera de segurança pegou um motoboy sendo assaltado e tomando um tiro no pescoço com uma dezena de pessoas em volta. Caiu no chão, esticado, as pessoas olharam e se afastaram. O assaltante saiu corrento, mais andando rápido que correndo, sem muita preocupação em ser pego. Tem prática, sabe que ninguém reage. Um outro motoboy deu a volta com sua moto, parou dpasmano lado do corpo estendido no chão, olhou, acelerou e sumiu. Segurança? Empatia? Colaboração com a segurança pública? A sequência foi pasmante. Aquele corpo agoniante estendido no chão não significou nada para todos que estavam em volta. Segurança, colaboração, empatia? Zero.
Somos todos assim? Não creio, não quero acreditar. Então, por que deixar a bandeja sobre a mesa da praça de alimentação? O que uma bandeija deixada numa mesa tem a ver com um corpo estendido no chão? Tudo. O grande começa no pequeno detalhe. Deixar a mesa porca para o outro tem tudo a ver com não querer socorrer o próximo. "Pobrema dele!", foda-se o mundo.
Segurança, colaboração, empatia.
Unidos venceremos! Pense nisto.
Há documentação farta sobre segurança, em todas áreas. Há documentação farta sobre qualidade de vida, em todas as áreas. Há documentação farta sobre a diferença que faz o comportamento individual no coletivo e o coletivo no individual. Todas as documentações, todos os dados, todas as pesquisas não deixam a mais remota dúvida que empatia e colaboração é o caminho para conseguir resultados positivos, em tudo, para todos. Segurança é fruto da colaboração. Segurança é fruto de empatia. Segurança, a real, não a falácia, tem tudo a ver com "unidos venceremos". Segurança sem colaboração, empatia, é uma retabilíssimo negócio.
Tenho batido nesta tecla a exaustão e espero que um dia as pessoas entendam esta verdade. Não é a minha verdade, até porque ela não existe, mas o que nossa longa história, como espécie viva, ensina.


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