quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A burrice de comprar de produtos muito baratos sem procedência

Eu nunca fiz a burrice de comprar algo que tinha consciência que era produto ilegal? Claro que sim. Mas, se arrependimento matasse eu estaria morto e enterrado. Aliás, algumas das besteiras que fiz não consigo me perdoar, nada fora do trivial de todos nós fazemos pela vida, besteiras comuns à juventude, mesmo assim não consigo me perdoar. 
Meu sonho, como de tantos, é um país melhor, mais justo com todos, sem exceção, e a construção deste ou de qualquer país, como de qualquer outra coisa, passa por não cruzar algumas linhas. Pelo que se está vendo, passamos direto e sem remorsos, pior, com frequência e com sérias consequências.

Minha cabeça começou a mudar lá pelos anos 90 quando foi publicado um artigo sobre o problema da informalidade da economia Italiana, muito alta, e suas consequências sociais, as mais diversas.

Há momentos que você se vê sem saída. Protecionismo é um destes fortes geradores de informalidade ou ilegalidade, que estão muito próximas, mas tem lá suas diferenças. A maioria das bicicletarias deste país teriam fechado as portas se não trabalhassem na informalidade, disto não se tem dúvida. Ciclismo de estrada profissional não teria existido durante a ditadura não fosse pela "ajudinha" da alfandega que fazia vistas grossas para a entrada das bicicletas.

Por imposição do setor de bicicletas, então oligopólio Caloi - Monark, principalmente Caloi, tudo era difícil e não raro comprávamos peças que sabíamos que eram contrabando nos primeiros anos do mountain bike. Produto de roubo era inaceitável. Esta linha, pelo menos o pessoal com quem convivi não cruzava mesmo, até porque naqueles anos, 80 e 90, sabíamos muito bem a diferença entre bandidagem e ilegalidades necessárias. Ilegalidades necessárias? Sim, ilegalidades que eram fruto de legalidades irracionais, ou, caixinha, obrigado. Ou, criar dificuldades para vender facilidades. É ridículo, mas ainda estamos margeando esta realidade.

Que se diga, naquele fim de anos 80 e início de 90, praticamente tudo dentro do mundo da biciclceta era 'por fora'. Quem estava dentro do mundo da bicicleta tinha notícias, de fontes confiáveis, de que até os oficiais, os bonzinhos, também sonegavam, quando não compravam 'por fora' para valer. (Não, você jura!?) Vivíamos por parte de alguns um "eu faço o que quero", traduzido para um "sabe com quem está falando?" feroz, ameaçador, malvado, e toca malvado nisto.

Não funcionou! Não funciona! O setor de bicicletas no Brasil desintegrou, literalmente, como tantos outros setores que desintegraram pelos mesmos motivos. E, óbvio, o país como um todo. Este desvio não é exclusividade do Brasil, mas como sempre nós caprichamos na dose. Tivemos o terceiro maior parque industrial ligado às bicicletas do planeta. Hoje não somos nada, simples assim. Fruto de proteção de mercado e bandalheira vestida de boazinha. Ou, "sabe com quem está falando?"

Dá para fazer dentro das regras? Claro que dá. Aliás, precisa! O início da Specialized no Brasil sob comando dos Dranger (1988 - 1992) foi nos conformes da lei. A Curtlo, marca tradicional de mochilas, bolsas, roupas e outros equipamentos esportivos, também. São Inúmeras as empresas que preferem jogar o jogo correto. Isto para citar dois que conheci a história, mas poderia citar muitos outros.

Fato é que o criar dificuldades para vender facilidades está aí porque este jogo de perde-perde tem aceitação geral. É o famoso "eu sou esperto". O que dizer de bebidas com metanol, veneno baratinho? "Bebida falsificada sempre teve", não é isto que dizem os entendidos? Eu não bebo, mesmo assim sabia da história.

Injusto dizer que é de aceitação geral? Como justificar aquele tempo que o "bom negócio" eram as lojinhas de 1,99? Como justificar as atuais bets digitais que trabalham na completa informalidade, inclusive patrocinando time de futebol grande. 

Da barraquinha vendendo bugiganga à entrada dos fuzis do tráfego. No final, qual a diferença? Sim, a diferença é que as bugigangas e outras besteirinhas armaram os bandidos do país. 

De grão em grão o bandidão enche a munição  


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