segunda-feira, 3 de março de 2025

País que não se fala si trumbica

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O Estado de São Paulo

Está nas primeiras páginas: os ministérios não se falam e atrapalham projetos importantes para o Brasil, as polícias não se falam e prejudicam a segurança da população, a família não se conversa olho no olho e a educação vai mal, com celular os namorados não se falam... e arrisco dizer, com bom e longo conhecimento de causa, que os departamentos das empresas também mal se conversam e que se dane o consumidor. Os casos são muitos e frequentes. Agora fiquei sem internet por 6 dias. Como brasileiro sei que o normal é esperar que problemas demorem para serem resolvidos, quando os são. Custo Brasil, com muita frequência é destaque nas primeiras páginas de todos jornais. Bom aplicativo, excelente atendimento (realmente) das meninas do 1058 (Vivo), bom atendimento na loja, técnico rápido, educadíssimo e eficiente, que veio no último minuto da prorrogação do sexto dia por boa vontade própria. E a certeza que minha espera vem de um precário relacionamento entre departamentos. Típico de grandes empresas. No terceiro dia ligou da Vivo uma senhora, que pela voz e forma de falar é gente grande dentro da empresa; pediu mil desculpas e jurou a solução no dia seguinte, mas nada, óbvio. Mandaram, e obedeci, fiquei 4 dias em casa esperando. O problema que tive com a Vivo é muito simbólico do Brasil disfuncional que vivemos: com medo de perder o emprego, boa parte se esforça e faz bem seus trabalhos entre a cruz e a espada, sem que suas vozes sejam de fato ouvidas por superiores e ou outro departamento. Por sua vez, seus superiores, que costumeiramente dizem conhecer tudo e mais um pouco, não tiram a bunda da cadeira para entender o que realmente acontece no fronte. Num outro caso, com uma outra empresa, subi o tom, inclusive com carta para o Estadão, e consegui que alguém do primeiro escalão tirasse a bunda da cadeira e fosse sentir o problema como cidadão comum. Quando voltei ao hotel fui recebido (sem exagero) em festa e agradecimentos pelos funcionários. O problema foi aos poucos sendo resolvido em todos os hoteis da rede. Muito do custo Brasil, que é muito alto, se deve ao silêncio da imensa maioria dos brasileiros consumidores e cidadãos. Ou cala ou tem chilique. Cristina mudou-se para Londres faz 36 anos. Ela desabafou que a maior diferença entre cá e lá é que lá, por pior que seja a situação, se vai atrás de uma saída na conversa. Aqui, por mais banal que seja a questão, descamba para a gritaria generalizada. Mentira? Sabe com quem está falando?

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