O Estado de São Paulo
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Esta é a primeira vez que entro no Cemitério da Consolação e tem um segurança na porta. Agradeço a quem tomou a providência, mas ou chegou tarde ou não foi capaz de evitar o roubo de placas, detalhes e esculturas de bronze. Olhando em volta do túmulo de minha família descubro que fizeram uma rapa completa. O belo baixo relevo redondo num dos túmulos foi-se e todo resto que puderam encontrar. É simplesmente inacreditável que ninguém ouça o barulho de uma talhadeira. Deprimente.
Incrível que, mesmo sendo crime continuado, e faz muito, não se tem uma notícia sobre investigação, sobre os receptadores, e nem onde vai parar a barbaridade de material já roubado dos cemitérios ou de fiação elétrica, entre outros.
Sobre o pedaço da escultura de 400 kg de bronze do monumento histórico a Carlos Gomes, nem palavra. Ninguém viu, ninguém sabe, tudo indica que já foi esquecido. A histórica escultura sem um importante pedaço virou arte moderna devem pensar as autoridades.
Tal qual o monumento a Carlos Gomes, talvez a próxima peça de bronze a ser roubada seja uma das belíssimas esculturas que decoram túmulos, mais ou menos do mesmo peso da peça roubada da homenagem ao genial músico.
Ou talvez alguém já tenha descoberto que as escuturas maravilhosas de Victor Brecheret que ornam alguns túmulos, peças em pedra bruta de algumas toneladas, podem ser vendidas no mercado paralelo. Basta parar um caminhão com um guindaste dentro do cemitério que ninguém vai perceber.
Um dia saiu uma matéria que afirmava que numa noite tinham sido roubados 4 km de fios de cobre de uma das linhas da CPTM. Como assim? Sobre as investigações, ninguém sabe, ninguém viu. Roubar túmulos deve ser muito mais seguro que pendurar-se em torres eletrificadas para roubar fios eletrificados.
O túmulo em questão é de ninguém mais que do Educador, Sociólogo Fernando de Azevedo, que também poucos sabem quem foi, o que fez. Mesmo antes de morto o cidadão que fez história desaparece neste país. Morto então é um igual a qualquer um que nos cemitérios estão, não faz diferença nenhuma, não importa se teve ou não relevância para este Brasil.
A beleza e a qualidade cultural de nossos cemitérios foi impressionante. Foi, há muito. Quem se importa? Vários cemitérios italianos são patrimônio histórico e alguns, como o de Gênova, geram boa receita com turismo. Os nossos estão mortos.
Outro dia inauguraram mais um museu em São Paulo, dos o dos Livros Esquecidos. Não pude peder a oportunidade de perguntar quando vai pegar fogo. Faz todo sentido. Museu Nacional, Museu da Lingua Portuguesa, outro dia o Museu da Casa Brasileira, dentre outros tantos que desapareceram pelo fogo, roubo, por cair aos pedaços, por não ter espaço para seus acervos, pelo simples e completo desprezo, que o digam.
Bronze de cemitério? Já ouvi que só serve para dar um prato de comida aos desabrigados que pulam o muro. Pelo preço do bronze deve ser no Casserole. Boa definição do que pensam alguns sobre como corrigir nosso desastre social.
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