Viajar é bom, opa! como é, mas...
A viagem que fiz ano passado num navio cruzeiro de Santos para Gênova foi um crime ambiental. O voo que fiz agora de Guarulhos para Roma foi outro crime ambiental. E assim vai.
Qual deles foi o pior? Não sei, mas posso imaginar pelo número de passageiros X consumo energético X tempo de viagem. Fui procurar informação e fiquei pasmado com os dados publicados; o cruzeiro é muito pior. Avião é um desastre, mas cruzeiro é algo como 7 vezes mais poluente.
Estes dois exemplos de crime ambiental são bem estudados, conhecidos e cada vez mais divulgados, mas viajar é bom, não é?
Empresas de cruzeiro estão fazendo propaganda dos avanços que tem feito para diminuir o impacto ambiental de seus cada vez maiores navios. No cruzeiro que viajei disseram que toda a água é reciclada e reutilizada, opa, ótimo, mas basta? Os fabricantes de avião têm buscado soluções para melhorar a eficiência geral de seus produtos. Novos projetos de motores estão sendo testados de forma a diminuir o consumo de combustível e aumentar a potência. Um destes projetos, uma turbina com grandes hélices externas, tem apresentado resultados muito promissores nos dois quesitos, mas peca muito no quesito poluição sonora. Não podem ser usados porque infringem as leis de emissão sonora internacionais.
Em 05 de março de 2023 foi aprovado depois de 40 anos de discussões e pressão um documento com assinatura de inúmeros países que pretende proteger 30% dos mares (...até 2030...). Ou seja, todo transporte marítimo, incluindo seus cruzeiros, vão ter melhorar e muito seus protocolos ambientais.
Não falei sobre trens, que não temos no Brasil, mas transportam uma barbaridade de pessoas mundo afora, não só turistas. Desconheço o custo ambiental, mas com certeza algum deve ter. Não existe atividade humana sem pegada ambiental. Deve ser baixo, pelo menos no direto.
Nesta viagem, tomando café da manhã, caiu a ficha de outros custos ambientais óbvios que nunca tinha avaliado como fiz agora. Exemplos no dia a dia é que não faltam, começando no café da manhã. A manteiga para uma única torrada vem embrulhada num papelzinho, a geleia para duas ou três torradas vem num gracioso vidrinho com tampa metálica, o yogurt vem num copinho plástico, a toalhinha da mesa é descartável, o guardanapo... Todo este material será reciclado? Duvido.
O quarto é arrumado e limpo todos dias, toalhas trocadas por limpas, sabonetes um pouco usados trocados por fechados em saquinhos, lençóis e fronhas passados, desinfetante passado no vaso sanitário e chão... Produtos químicos, como os de limpeza, são altamente tóxicos e não importa como são usados, por mais cuidado que se tenha terminam no meio ambiente. Rio Tiete cheio de espuma branca que o diga.
Turismo corresponde a algo em torno de 10% do PIB da Itália, gera algo em torno de 2.7 milhões de empregos diretos. Definitivamente não são números desprezíveis, muito pelo contrário. Os números da França não são muito diferentes. Dependendo do país ou cidade mais alto, igual ou um pouco mais baixo, não importa, turismo é uma fonte de renda preciosa até para países ou cidades muito ricas.
Aí entra a sazonalidade. Tem cidade que só funciona para valer na época da alta do turismo, entre abril e outubro, depois fecha praticamente tudo. Como exemplo, o dono do pequeno café tem ganhar em 8 meses o suficiente para sustentar os 12 meses do ano. Como viajo fora de temporada fico em hotéis praticamente vazios. Mesmo vazio no café da manhã é servido o que se serve normalmente quando o hotel está com com boa lotação, resultando em muito desperdício. Uma vez tive o cuidado de pedir para que me servissem só o que estou habituado a comer no café da manhã, ou seja, nada de bolos, doces, salsichas, presuntos, queijos... Foi um custo o gerente entender que eu não queria gerar desperdício. Por incrível que pareça é no desperdício, no farto visual da opulência, é que está a propaganda dos benefícios que o hotel oferece aos seus futuros clientes. Eles não podem correr o risco de vazar uma foto com um café da manhã pobre.
Se o setor do turismo tem e continuará tendo problemas para diminuir sua pegada ambiental, o monumental problema continuará porque a ideia de fazer turismo, viajar, mudar de ares definitivamente não vai sair da lista de desejos do povão. Turismo é status garantido, ponto final. Precisa dizer mais?
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