"Aqui há muito trabalho por fazer" disse meu caro amigo sobre a segurança de quem pedala por Roma, repetindo o discurso universalizado. "Faltam ciclovias" e quase ponto final na linha de pensamento dele.
Outra hora, outra conversa, outra história...
"Esquece, você está em Roma", a frase me foi dita depois de uma aberração da qual já não me lembro mais para que eu visse com olhos mais positivos a estupidez que acabara de presenciar, e me irritar, como se o fato de estar fora de São Paulo e em Roma resolvesse todos os problemas. Definitivamente não é assim que acontece pela vida. Assim como definitivamente não é porque Amsterdam é tida como o paraíso dos ciclistas que todas as cidades do planeta resolveriam seus problemas quanto tiverem uma estrutura cicloviária como a de Amsterdam. Roma é Roma, Amsterdam é Amsterdam, não é óbvio? Não se engane, não, não é óbvio.
No noticiário italiano da TV na manhã seguinte à boa conversa e cerveja com meu amigo romano Fábio mostram o portão de entrada de uma casa fechado por um novíssimo guard-rail instalado ali e em toda a estreita estrada, pensado em nome da segurança de todos. Esqueceram o pequeno detalhe que o portão abre e fecha para entrada e saída dos carros da família que ali reside. Genial! Brilhante! Parecido com discurso pronto.
Ainda não peguei uma bicicleta aqui em Roma, mas tudo me diz que é fácil pedalar pelo menos no centro histórico que é a parte que conheço. Como cheguei a esta conclusão? Biscoito: olhando o comportamento de todos, dos motoristas aos pedestres. Há uma cultura de respeito geral, um vamos nos ajeitando, seguindo em frente. "Os motoristas correm..." já ouvi de montes. Sim, talvez andem mais rápido que em outras capitais europeias, mas param para qualquer pedestre que comece a cruzar na faixa de pedestre. A princípio é meio estranho e se tem a sensação que motoristas, motociclistas, lambretistas e scooters não vão parar, mas depois se acostuma com uma freada mais em cima, o parar e o esperar que você termine o cruzar a rua sem pressa.
Diferente de Paris onde as scooters pilotadas por adolescentes que vem de todos lados são um problema real para a segurança de pedestres, e ciclistas, aqui em Roma vez ou outra se tem um patinete na calçada, mas via de regra é "pilotado" por um turista.
Nestes quatro dias que tenho como pedestre aqui em Roma o primeiro susto que tomei foi com dois adolescentes do leste europeu com patinetes que chegaram na esquina a milhão e fritara pneu na minha canela. O segundo foi não ter visto um ciclista entregador descendo a rua a milhão. Fábio avisou quase no grito e escapei por pouco.
Roma tem muita bicicleta elétrica, bicicletas movidas a pizza e macarrão, muito patinete elétrico. Definitivamente não é uma Amsterdam, muito pelo contrário. Circulam junto com Vespas (Lambrettas), scooters, motos, carros e mais carros, um número notável de elétricos que chegam, passam e se vão em absoluto silêncio, estranho contraste com as barulhentas motos. Trânsito todas horas do dia. Vale dizer que estou hospedado na borda da zona de restrição, o que faz diferença na carga de veículos. Nos pontos turísticos montanhas de turistas. Aliás, dizem que são pequenas montanhas de turistas e que no verão a quantidade de turista pelas ruas é absurda. Basta o que vi, parece carnaval de Salvador.
Lembro que Roma Antiga foi a primeira cidade da história a ter rodízio de veículos, na época de carroças e bigas, ou o que fosse puxado a cavalo.
"Roma, cidade eterna". Você realmente acredita que uma mudança na estrutura viária vai mudar o espírito de uma "cidade eterna"? Você realmente acredita que se pode mudar uma cidade e o mundo do dia para noite com um passe de mágica?" Fábio concordou.
"Roma, cidade eterna" vem me ensinando algo novo e reafirmando algumas convicções que tenho. Não é a minha cidade. Amsterdam é, e não por causa do seu tão elogiado sistema cicloviário, mas pelo que oferece como cidade.
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