sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O Brasil nesta crise mundial do setor de bicicletas

Eu li o artigo em inglês sem saber que a Revista Bicicleta já tinha publicado em português. Parabéns!
Em qualquer língua o artigo é leitura obrigatória não só para quem gosta de bicicletas, mas todo e qualquer cidadão que queira entender o tamanho da encrenca que estamos metidos. Já saíram artigos e comentários sobre os problemas que a pandemia criou para a cadeia produtiva de tudo e as consequências para os setores de vendas e serviços, o efeito em nossas vidas, e o que nos espera para o futuro próximo, mas não me lembro de nenhum artigo que tenha sido tão esclarecedor.

O Brasil nesta?
Como qualquer outro país deste planeta com um mínimo de normalidade estamos globalizados, portanto estamos no meio da onda do tsunami. Talvez tivéssemos em situação melhor caso nosso setor industrial não estivesse na situação que está, relegado a sei lá que plano, o que em termos de macro economia é uma puta irresponsabilidade.
Ainda temos um volumoso setor de bicicletas, mas faz muito que não somos mais global players. A principal razão é falta de competitividade na escala, nos preços e na qualidade. Não podemos tirar proveito desta enorme confusão que o setor global vive e que deve ir longe.

O que me deixa profundamente triste é saber que o setor de bicicletas do Brasil foi o 3º maior do planeta e praticamente desaparecemos do cenário mundial. Falo da época do oligopólio Monark e Caloi e não se pode deixar de responsabilizá-los por nossa derrocada. A qualidade do que foi fabricado antes da abertura da importação e entrada no mountain bike no Brasil era de chorar. OK, não foi exclusividade do setor da bicicleta, mesmo assim o pessoal caprichou. Bicicleta era coisa de pobre e como dizia Chico Anízio num de seus personagens da época "eu quero que pobre se exploda". Tudo indica que pensaram assim e no final quem se explodiu foi o oligopólio. Triste.

Depois de tantos anos acompanhando tenho dúvidas que o setor consiga mudar de direção para entrar na guerra comercial global. Que se diga, não é exclusividade do setor da bicicleta; praticamente todo setor produtivo brasileiro hoje o são. Gostaria de saber como está de verdade o setor industrial brasileiro, qual o tamanho do desastre que se diz.

Me ocorre um exemplo: visitei antes da pandemia uma pequena fábrica de peças para motos e bicicletas que trabalha com maquinário já de uma geração que os coloca competitivos no mercado internacional. Eles têm qualidade, não têm escala, muito menos estímulo de uma política nacional racional. Melhor, não conseguem ter escala e crescer pelos “n” custos brasil. Suas máquinas computadorizadas têm que funcionar com energia elétrica estável, sem variações ou, pior, sem apagões. Preciso continuar?


Cadeia produtiva que pretenda ser global player tem que funcionar perfeitamente azeitada, como bem mostra o artigo acima. A nossa não é, começando pela burocracia e terminando na falta de uma política industrial de longo prazo. Aliás, o Brasil não tem um projeto de longo prazo, o que é básico do básico do básico.

Tenho uma vontade de continuar escrevendo e falar sobre a política de crescimento dos chineses, sobre a estupidez de nossa política internacional, sobre a imbecilidade de colocar toda produção de ovos numa única cesta, sobre as perspectivas de nosso agronegócio, África, para terminar com o tiro no pé que é não ter um setor industrial sólido dominando a América do Sul, ficar discutindo miudezas políticas que não levam a nada, mas o que adianta?

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