quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Subir pedalando de Penedo a Visconde de Mauá

A primeira vez que subi a serra para Visconde de Mauá, em 1982, aprendi, na veia, que numa subida longa nunca se deve pensar que aquela curva a frente é a última antes do fim da subida. A serra, estrada de terra, nunca acabava. Tenha certeza: a subida só acaba quando acaba. Naquela vez quando cheguei ao topo da montanha - definitiva e finalmente - foi a única vez que me senti o Super Homem (exausto e com as nuvens passavam voando abaixo dos meus pés). Não, não tinha fumado um, mas a vista da paisagem era uma viagem. 

Ontem, 38 anos depois, subi novamente, agora numa Groove Riff 70 29, 2018, com uma relação 22 na frente e 34 atrás, uma moleza para meus 65 anos; ou quase. Em 1982, na minha flor da idade dos 37 anos, subi pedalando uma Caloi 10 que tinha relação 42 / 28, pedaladas pesadas, lentas, carregadas, bicicleta pesada, cheia de alforjes e mochilas, e um selim inominável. Hoje, com a mesma situação, mata o velho. Oh! bela e forte juventude! Quem a tem que a bem aproveite.
Dá para dividir esta subida de 973 m, 1.280 m de altimetria, em três: 10 km de Penedo até a o início da serra, 15 km de subida, e 5 km de descida até a pequena vila de Visconde de Mauá. Fiz numa terça-feira e o movimento de carros era pequeno, com o pessoal respeitando os ciclistas como está recomendado nas placas de sinalização. Os primeiros 10 km são um sobe e desce sem grandes dificuldades com a belíssima vista da serra em frente. Uma placa sinaliza o início dos 15 km em subida, que tem inclinação quase constante, um pouco mais inclinada aqui e ali, nada que uma marcha mais reduzida não resolva. Vai sinuosa por dentro da mata com direito a alguns pontos de vista aberta para o Vale do Paraíba e a pequena cidade de Resende. São poucos os pontos de parada e não estão bem cuidados. A majestosa vista merecia muito mais. A última destas paradas com vista para o Vale do Paraíba fica um pouco antes do topo. 
Cruzando o topo da montanha tem uma muito acanhada parada com vista para Visconde de Mauá, um punhado de casinhas lá em baixo no meio de um apertado vale, e começa aí a uma forte descida dos 5 km finais. A vila mudou pouco, felizmente, ainda me faz lembrar 1982. "Bem-vindo ao passado".
Cheguei muito mais inteiro que imaginava, em 2:32:10 h para 31.03 km, média de 12.2 km/h, para meu espanto melhor até que o que o Google Maps prevê.

Velhice tem destas coisas, você sobe com muito mais sabedoria, pedalando com uma técnica muito mais refinada, uma imensa vantagem sobre a força dos 34. A verdade é que subir pedalando é um exercício de autocontrole. Boa parte dos que conheço teriam subido se começassem com calma, sem a piração de pegar embalo, erro básico e comum, controlando as próprias ansiedades, o que mata qualquer um.
Eu subi! (Tu sobes, ele sobe.) Muito por conta de pedalar metro a metro mantendo a calma, e principalmente sem ansiedade. Cheguei e bem, como já disse e repito: com orgulho.

Meu próximo sonho é subir para Campos do Jordão, que dizem ser bem mais fácil que para Visconde de Mauá. Talvez consiga fazer ainda este ano. Agora, sonho mesmo é subir a Serra de Ubatuba, uma parede que faz até carro pequeno gemer. Tem um livro on line com as 100 subidas mais difíceis do Brasil que vira e mexe xereteio babando. Ótimo trabalho dos garotos do Aventrilha. Infelizmente não tenho 30 anos menos para fazer todas, mas algumas...

Tenho uma curiosidade. Raramente uso ciclocomputador, desta vez usei. Não me lembro se está acertado para uma bicicleta 29 ou 26.  O fato é que no meio da subida me veio a dúvida e comecei a comparar o odômetro com as marcações de km da estrada e dava uma diferença exata de 120 metros a cada km. Puxei da memória que o acerto tinha sido feito para uma 26 e daí a diferença, mas não confio na minha memória. Quando puxei as distâncias do Maps.Google deu exatamente o que está no ciclocomputador, 31.04 km, o que publiquei acima. Quem estará errado, a marcação da estrada ou o Google?  
Fiz de carro e confirmo que a marcação da estrada está errada, pelo menos a da serra: 31.04 na mosca.

3 comentários:

  1. Parabéns mais uma!Sonhe quanto quiser mas faça logo. Beijos

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  2. Ao terminar de ler, me senti desafiado. Sempre subi o caminho de carro pensando em subir um dia de bike. Coloquei as desculpas de lado e resolvi encarar o desafio.
    E neste sábado (19/12/2000) tive o prazer de subir a serra pedalando em uma oggi 18 marchas.
    Parabéns!
    Quem sabe não nos esbarramos subindo Campos do Jordão.

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