Não é novidade que as bicicletarias NÃO vão bem das pernas. O negócio em si não é para iniciantes, sempre foi difícil, muito trabalhoso, cheio de manhas, para abnegado ou apaixonado por bicicletas. Mas passar dois meses sem vender uma bicicleta sequer e quase não ter movimento na oficina é uma reclamação que nunca tinha ouvido nestes mais de 40 anos de convívio com bicicletas e afins. A saber, a ancora de sobrevivência das bicicletarias está na oficina que via de regra representa mais de 70% dos lucros.
Reflexo de um país que vai de mal a pior das pernas? Também, mas não só. Reflexo das bicicletas comunitárias por aplicativo afirmam alguns donos de bicicletarias. Podem até estar certos, afinal se cidadão que só se transportar não faz sentido pedalar a própria bicicleta, um belo investimento que pode ser facilmente roubado. Tem bicicleta própria quem gosta de bicicletas, gosta de pedalar, corre o risco em nome do prazer, e até gosta de passear na bicicletaria só para xeretear.
Eu não tenho dúvida que o pico de paixão pelas bicicletas que agora arrefece teve um tanto de moda. Nossa! Como foi chique sair pedalando! Nem todos que experimentaram bicicleta acharam tão bacana assim e deixaram de pedalar. Num dos países nórdicos, Dinamarca, se não me falha a memória, uma pesquisa entre usuários da bicicleta apontou que 27% só pedala porque não tem outra opção. É doce ilusão de apaixonado achar que quem experimenta gosta. Nem com sexo é assim, porque seria com a biciclea? Um amigo ponderou que bicicletas por aplicativos que não formam ciclistas e isto afeta vendas. Pode ser, pode não ser, vai lá saber.
O fato é o seguinte, um dia todas estas maravilhas disponíveis por aplicativos vão ficar mais caras, provavelmente bem mais caras. É óbvio que tudo está subsidiado para ganhar escala. Pegue as Yellow Bikes aqui de São Paulo, pense no preço da bicicleta, da operação, da estrutura de funcionamento, na depredação, será que o preço por viagem cobre? Tem um tempo previsto para zerar a operação e começar a dar lucro, mas com um preço tão baixo quanto tempo levará? Quem aguenta financeiramente um tranco destes? Qual é o cálculo, qual é a ideia? Se é tão importante para a questão de mobilidade das cidades por que nós, população, não sabemos como funciona de fato? Não se trata de transporte público? Com tudo que acontece nos transportes de massa, caixa de pandora na vida da cidade, agora vamos ter mais uma caixa de pandora gerada por aplicativos? É transporte público e deveria ter números públicos. Afinal, fora as vendas de bicicletas, quanto está custando para a população estas bicicletas públicas.
Uma matéria da revista Time sobre o aumento do custo para os usuários das bicicletas elétricas públicas em São Francisco, Califórnia, dá o sinal de alerta, ou de partida, para esta mudança de precificação destes serviços de aplicativos. Bem-vindos a realidade.
É óbvio que quando estas mobilidades por aplicativos alcançarem um nível que se tornem indispensáveis o preço vai mudar. Fez, faz e fará parte de qualquer negócio, pela eternidade, amém. A era digital não escapa desta lógica. A quase gratuidade viciante começou a desaparecer. Aliás, não só a gratuidade, a privacidade também, mas esta é outra história.
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