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O Estado de São Paulo
O Estado de São Paulo
É impressionante a quantidade
de ciclistas passando pela contramão e na estreita calçada na av. Cidade Jardim
esquina com a rua Dr. Mário Ferraz, a maioria trabalhadores de baixa renda
voltando para casa. Moram do outro lado do rio e só conseguem ter acesso ao
Centro Expandido, onde está a maioria dos empregos, por ai e assim. A enorme
ponte estaiada, orgulho paulistano, está exatamente em frente a grande favela
Real Parque, poderia dar acesso ao corredor de ônibus e ciclovia Berrini, mas
simplesmente não permite a passagem de pedestres e ciclistas. A ciclovia do rio
Pinheiros que passa sob a ponte também é inacessível ai. O número de ciclistas
indo ao trabalho pela contramão da Marginal Pinheiros entre a favela e ponte
Cidade Jardim também impressiona. Para os pedestres resta ou longa caminhada
até a ponte mais próxima que está longe ou encarar lotados ônibus. CPTM também
está do outro lado do rio. É assim para boa parte dos moradores do lado de lá
do rio Pinheiros. O problema é mais ou menos igual em todo São Paulo, mas quem
se interessa? A mobilidade paulistana é tratada pontualmente, como no caso
recente dos patinetes, e não com uma visão séria, realista, para todos,
que vise resolver problemas macro que são ou vão se tornar crônicos.
A ciclovia rio Pinheiros não
só poderia, como deveria, ter acessos em todas as pontes para evitar que
ciclistas se lancem ao perigo da Marginal, o que fazem hoje e é fácil de
comprovar. Várias questões dificultam a instalação destes acessos: custo e
falta de espaço talvez sejam os principais O poder decisório olha qualquer projeto
pelo lado custo / benefício. Não temos ainda a cultura do custo hoje / benefício
futuro no que diz respeito a mobilidade. As demandas imediatas são enormes,
como a dos transportes de massa, e no meio da crise brutal que vivemos a decisão
cai sobre o prioritário urgentíssimo e nada mais. Acessos e pontes para
ciclistas custam muito e são difíceis de justificar para o povão. "Vão
gastar com bicicleta e não vão consertar buracos no corredor de ônibus",
para citar um mínimo exemplo.
Alguns acessos poderiam ser
resolvidos de maneira não convencionais, sem grandes gastos ou obras, o que o
poder público não costuma aceitar por razões legais e outras mais. Infelizmente
há um forte corporativismo em torno da mesmice, e bota mesmice nisso. Bom
exemplo pode ser do acesso a ponte e avenida João Dias, hoje uma realidade
criada pelos ciclistas. Eles abriram um buraco na cerca, passam por estreito
espaço entre as paredes da ponte, pulam esta parede e cruzam dois acessos de
alta velocidade da marginal para bairros de baixa renda: Jardim São Luís,
Jardim Ângela, Capão Redondo, Campo Limpo, Taboão... O número de ciclistas aí
só faz crescer. Houvesse flexibilidade por parte do poder público seria
possível oficializar este acesso com obras e ações de engenharia de trânsito,
mas não há, e estamos a um ano luz disto. Os ciclistas continuarão a se
arriscar muito neste local para seguir viagem com segurança e rapidez pela
ciclovia, que é a maior parte de seus trajetos, num cálculo próprio de custo / benefício
bem sensato. Situações como esta se repetem por toda cidade, com diversos graus
de periculosidade.
Na outra ponta da ciclovia do
rio Pinheiros, ao lado da ponte Jaguaré, uma passarela que ligaria ao Parque
Villa Lobos e ao Jaguaré e Osasco, caminho de vários trabalhadores, permanece
desmontada e jogada ao relento faz muito. Está debaixo do viaduto que cedeu faz
uns meses, em frente ao Parque Villa Lobos, por onde acessariam os ciclistas. Talvez
quando for consumida pela ferrugem digam que não serve mais e abram uma nova
licitação para um novo acesso, o que não seria o primeiro caso do gênero.
"Todos somos
pedestres", sempre diz Reginaldo Paiva
Mesmo todos sendo pedestres o
poder público não foi e continua não sendo capaz de resolver problemas crônicos
dos pedestres, que são inúmeros, dos mais diversos tipos, alguns graves.
As calçadas que ligam a
Estação Vila Olímpia CPTM, que está na Marginal Pinheiros, ao interior do bairro
são muito estreitas e obrigam os pedestres trabalhadores a caminhar no meio das
também estreitas ruas. Em horário de pico o que se vê é um absurdo que
demandaria medidas urgentes, mas nada. Ao lado da estação há um acesso à
ciclovia do rio Pinheiros por meio de uma perigosa escada que já causou vários
acidentes com ciclistas usando sapatilha com taco. Também é óbvio que os
ciclistas entram em conflito com os pedestres. O detalhe é que a rua é indicada
como um dos acessos dos carros à marginal. Enfim, viva o caos. Que se dane os
pedestres.
Pedestres e ciclistas têm seus
caminhos naturais que na medida do possível devem ser respeitados. Normalmente
é o caminho mais curto e sensato. As cidades onde a mobilidade ativa está sendo
construída com bons resultados dá prioridade a pedestres e ciclistas, nesta ordem.
Aqui não. O fato é que nossa engenharia de trânsito ainda é obsoleta,
rodoviarista, muitas vezes perigosa, muito perigosa. E estou sendo bonzinho.
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