terça-feira, 23 de julho de 2019

Depois dos motoboys, agora os entregadores por aplicativos.

Painel do Leitor
Folha de São Paulo

A telefonia era cara e ineficiente, a internet não existia, demorou para chegar e chegou cara, lenta e imprevisível; a eterna burocracia e seus documentos sem sentido necessitando despacho urgente que ficavam parados no trânsito paulistano sem previsão de recebimento; tudo acabou gerando o fenômeno dos motoboys. Foram fundamentais para manter São Paulo caminhando, mesmo demonizados por buscar a rapidez que lhes era exigida ou xingados e acusados de irresponsáveis quando acabavam estendidos no asfalto parando mais ainda a cidade. O número de acidentados e os consequentes custos de parar a cidade e do atendimento nos hospitais foram e continuam sendo absurdos, mas nunca foram seriamente olhados pela simples falta de opção. Que suas famílias e amigos chorem seus acidentados e mortos, pouco importa; o povo, todo ele, quer agora, já, imediatamente.
Boa parte dos entregadores de aplicativos é menor de idade, portanto não tem sequer a formação básica para o trânsito que a CNH dá. Pela impetuosidade típica da adolescência e por realizarem suas entregas em bicicletas (ou qualquer coisa que sirva para transporta-los) sentem-se e de fato estão livres de qualquer regra, das básicas de cidadania às leis vigentes. Leis estas que ainda estão sendo estabelecidas para aplicativos e seus entregadores, que só querem trabalhar, mesmo que completamente desprotegidos. São entregadores autônomos, responsáveis pelos seus ônus. Que suas famílias e amigos chorem seus acidentados e mortos, pouco importa; o povo, todo ele, quer agora, já, imediatamente, hoje muito mais rápido que antigamente, afinal o tempo do celular não mente.

Quem já acompanhou vida de bike courier, opção mais barata que motoboys, sabe que a maioria acha que sabe pedalar, pedala em bicicleta errada, prejudicial para músculos e articulações, faz longas e insanas quilometragens diárias, se alimenta e hidrata mal, se tem tempo e dinheiro para isto. Boa parte deles acaba machucado ou doente, isto quando não se acidenta em colisão ou caindo num buraco. Muitos são autônomos, quando são; precisam trabalhar, o resto é resto. Quem se importou? Quem se importa?
Bicicleta é um dos veículos mais práticos e inteligentes criados pelo homem. Com bom uso oferece inúmeras vantagens, da rapidez para trajetos curtos e médios ao bem estar, a qualidade de vida. Como tudo que diz respeito a cultura no Brasil, a da bicicleta e do pedalar corretos é insipiente, muitas vezes cheio de conceitos básicos errados. O que está acontecendo com estes meninos é um absurdo, mas quem se importa?


Artigo na Folha de São Paulo sobre a situação sobre os entregadores autônomos que estão por todos lados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário