quarta-feira, 19 de junho de 2019

"obra de arte" brasileiro


O sonho de todo brasileiro é ter um ponte estaiada na sua cidade. São José dos Campos é o exemplo mais recente deste desejo tupiniquim e terá a sua em breve no meio da área rica da cidade, justo ao lado do mais chic shopping center. Bingo! São Paulo é muito importante e tem duas pontes estaiadas, a mais famosa e publicitada, o grande X da questão na Marginal Pinheiros com av. Roberto Marinho, ex Águas Espraiadas, e outra bem menor e mais simples, mas ainda assim estaiada, na Marginal Tiete com av. do Estado, pertinho da ponte das Bandeiras. 
Não gosto de pontes estaiadas, prefiro ver o horizonte, o que as pontes tradicionais permitem por serem baixas, ao contrário das estaiadas. A vista de cima das tradicionais é livre, roda-se o corpo e é possível ver em 360º, horizonte completo.
Dá para entender esta paixão nacional estaiada. As ditas obras de arte, seja lá o que isto queria dizer, incluem pontes, e convenhamos que as pontes tradicionais que temos por aqui só podem ser arte para engenheiros de prancheta. Provavelmente sonharam em fazer arquitetura, voar livre, virar artista plástico famoso formado pela FAU, mas acabaram bons artistas em cálculos e desenhos pranchetas. Nada contra, mas falta ousadia, mas muita ousadia mesmo, desbunde. Os projetos de engenharia brasileiros são muito respeitados lá fora, mas aqui falta muito para poderem ser chamados de interessantes, agradáveis. Talvez a Lei de Licitação , a famosa 8.666, a lei do infinito apocalipse, como diz seu número, atrapalhe um tanto, mas de resto estamos a um ano luz para nossa engenharia produzir "obra de arte". Mas como eles são os donos da bola, nós cá ou chamamos de obra de arte ou não tem jogo. E concluída a obra de arte, leia-se ponte, esquece manutenção, palavra inexistente no dicionário da administração pública. Aí algumas "obras de arte" que até são bacanas, bem projetadas, delicadas, esteticamente equilibradas, com um que de arte, mas de tão descuidadas que só podem ser chamadas de engenharia. 

E nesta toada, a dos donos da bola, agora outros, os da bicicleta, foram pintados caminhos no asfalto ou no cimento que um dia cobriu jardins e gramados. Eu quero pedalar, o resto que se dane. A ironia é que são ambientalistas, mesmo quando o canteiro central verde dá lugar ao cimento vermelho da ciclovia. 
Não era para ser assim. Teve gente por aqui que sonhou. 
O link acima, na primeira linha, é sobre a Bienal de Arquitetura para Bicicletas (tradução porca). Não custa sonhar. Ou ficar com raiva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário