sexta-feira, 19 de abril de 2019

Uma bicicleta entre nós

Não nos desligamos de um amor assim com tanta facilidade. Ou de amores. Não vou ser processado por amar várias bicicletas. Separar me de uma bicicleta não tem nenhuma das implicações de largar a bruxa com quem a gente se casa - ela me mata pela sutileza do comentário! É fato que quis lhe comprar uma vassoura, ela ficou ofendida, mesmo que isto lhe desse a garantia de sair voando por aí.  Até abri a janela para ela sentir o frescor da noite de lua cheia, mas só para contrariar ela queria pedalar. E ela tanto fez, deve saber que mulher quando insiste até o diabo desiste, que acabou sendo mais uma destas ciclistas fanáticas com o apartamento cheio das malditas bicicletas. 
Valter Busto um dia encontrou uma piaçava perfeita, madeira torta tirada de um galho de árvore de madeira amarga, das que não dá cupim, escova de palha dura amarrada com cordinha, péssima para varrer, maravilhosa como voa quando os gatos brigam no meio da noite, bruxaria de Santa Catarina. Pronta para sair voando, mas acabei eu ficando com a dita vassoura. E daqui de casa não sai. Nunca tentei voa-la porque não sou muito chegado a pau no meio do rabo. Basta o que ele sofre quando eu, velho idiota, saio para dar uma voltinha fora da cidade sentado no selim da bicicleta de estrada. Torce o rabo para um lado, torce para o outro, para frente, para trás, e não tem jeito, é incomodo sem fim. Ciclista que é ciclista sabe que é no selim que treinamos o que depois fazemos com elas trancados no quarto. Imagine o que deve ser voar sentado no pau da piaçava? Já perguntei para a mulher: meu pau tem ficar em cima do pau da piaçava, para a direita ou para esquerda? mas o feminismo desenfreado dela se enfureceu. 
Já que nesta sociedade maluca quem sai dando vassouradas são elas em nós, não importa que você jure de pés juntos que foi para estrada (Fazer o que? Com quem?) pedalar (ela está surda e entende pelada - Quem estava pelada?) e toca vassourada, e você com cara de coitado ainda é estúpido suficiente para virar as costas e dizer resmungando que vai tomar uma banho porque depois de horas pedalando está com o saco completamente adormecido. Toma vassourada, mas de vassoura comprada no mercadinho da esquina. Na minha piaçava ninguém toda. Nem que ela queira sair voando pela janela do 15º andar. Aí disse que emprestava minha piaçava amada. E não saiu, nem foi até a janela dar uma olhadinha como estava o tempo. Pior! Pegou a bicicleta e foi pedalar para aliviar. Diz que esta com tesão pela bicicleta - ou pelo selim da bicicleta. Foda-se! se ela quiser ficar com a periquita adormecida problema dela. Ela ouviu o comentário. Pura bruxaria, o gato passou voando perto de minha orelha. Gatos voam?
Aliás, bicicleta estaciono na porta da igreja? Duvido que o padre permita que eu me ajoelhe no altar agarrado na bicicleta. 
Na minha relação com a bicicleta a única que tenho que fazer é de vez em quando colocar umas gotas de óleo SAE 40. Muito mais barato que KY! Depois de umas gotas de óleo a bicicleta roda quietinha, macia, deliciosa. Já a mulher começa perguntando se a data de validade está legal, cuidado para não derrubar no lençol, vai, vai, vai, vai, vai... quando você foi ela reclama - já foi? e quando você sai de cima ai é que ela não para de falar. - Ok! eu te dou uma bicicleta melhor!

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