terça-feira, 11 de setembro de 2018

Bicicletas, biritas, celulares, mídias sociais e outros vícios

Outro dia um amigo que adora ficção científica chamou atenção para que em praticamente todos os filmes do gênero que estão apoiados na realidade têm bicicletas em alguma cena, mesmo que quase invisíveis. Deu no que pensar, mesmo que não me lembre deste detalhe em particular. O fato é que no meio deste maluco salto da sociedade para um futuro de inteligência artificial a bicicleta, uma máquina que continua praticamente igual a um projeto de 1889, está cada dia mais firme e forte presente em todas as sociedades, principalmente nas mais desenvolvidas. Independente dos perigos de trânsito que um celular traz para ciclistas e pedestres.
Agora a pouquinho passei por uma situação que se não fosse gravíssima seria risível. Estava dirigindo numa rua estreita de mão dupla quando uma senhora que dirigia uma SUV enfiou o nariz no celular (era noite e eu pode ver pela luz que iluminava seu rosto) e simplesmente passou sem se dar conta para a contramão rodando solta a uns 40 km/h. Rodou direto em minha direção por mais de 30 metros numa trajetória de colisão frontal. Quando ela estava próxima felizmente tirou os olhos do celular e desviou da colisão frontal como se absolutamente nada anormal estivesse acontecendo; e não foi por causa de meus faróis piscando desesperadamente, mas por pura sorte minha. Fiquei tão pasmo com a situação que não tive a reação de tirar o pequeno Fit da trajetória de colisão; só consegui ver aquele rosto abaixado iluminado pelo celular. 
Já passei por situação semelhante pedalando, com motoristas, ciclistas e pedestres enfiados na realidade virtual e cagando para a realidade. Quem não passou? Ouvi várias histórias de ciclista quebrado por outro que pedalava no celular. Todo mundo sabe e todo mundo acha natural. Eu não. Passei uma semana sem celular e me senti maravilhosamente vivo.
Entrou em vigor a lei que proíbe celulares nos colégios da França. Bravo! Estudante tem que estudar! E na semana passada a Royal Society for Public Health (RSPH) lançou uma campanha para estimular as pessoas a ficar 30 dias sem entrar nas redes sociais. Deveria ser uma campanha internacional, tipo Dia Mundial sem Carro. Melhor: Mês Mundial Sem Celular. Loucura? O Dia Mundial Sem Carro não foi considerado coisa de imbecil? Celular e rede social é considerado como problema prioritário de saúde pública.
Outro dia estive com um integrante da Cruz Vermelha que trabalha com segurança no trânsito. Foi uma grata surpreza saber que um organismo tão importante ligado à medicina atue na segurança no trânsito. Faz todo sentido e demorou muito.

Quando mudei do ecologismo para o ambientalismo o fiz por que acreditei piamente que com a bicicleta as pessoas ficariam mais calmas e mais sensatas, prestariam mais atenção no meio ambiente, e com isto chegaríamos a uma sociedade melhor, socialmente mais justa e segura. Hoje tenho certeza absoluta que neste país ciclista continua sendo igual ao que ele era antes da bicicleta. Pouco ou nada fez diferença. Todos que me cercam brincam com esta minha inocência, mas para mim é uma profunda tristeza ver que aquele sonho deu nisto.
Esta reação europeia contra uso doentio do celular me fez pensar: Como já vivi e convivi com vários alcoólatras sei bem que num determinado ponto a bebida deforma o caráter da pessoa, fazendo aflorar uma pesada agressividade. Bebida é tida como o mais grave problema de saúde pública de nossa civilização. Agora é acompanhada de um novo e devastador vício.
Será que o comportamento pouco civilizado de boa parte de nossos ciclistas (e do brasileiro em geral) não terá alguma relação com dois vícios que no Brasil estão praticamente fora de controle: redes sociais e bebida? Aqui a bicicleta é só mais um reflexo deste porre chamado Brasil.

Não sou contra bebida, não sou contra redes sociais. Sou contra, mais ainda, estou farto de excessos, o que a nós, brasileiros, nos sobra.  

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