quarta-feira, 14 de março de 2018

Caminho da Fé outra vez - primeira etapa, asfalto.


Mais uma vez no Caminho da Fé, desta vez para terminar o que não fiz, o trecho entre Borda da Mata e Aparecida do Norte. 
Fui direto para Porto Ferreira em ônibus. Como sempre na bilheteria fui avisado que a bicicleta precisaria estar desmontada e embalada. Como sempre a tensão até chegar o motorista e liberar, sempre com a mesma conversa: "ordens da empresa. Um ciclista se comportou mal em Ribeirão Preto...". Bem, bicicleta embarcada, 4 horas de viagem, paisagem conhecida, algumas sonecas, pinga-pinga em rodoviárias, e finalmente Porto Ferreira às 13:00. Almoço rápido e pedal na estrada com um sol de rachar coco rumo a Casa Branca, 44 km de estrada asfaltada e paisagem linda. 
Gostaria de refazer o Caminho da Fé pelo trajeto original, nas estradinhas de terra, e tinha me programado para refaze-lo até que entrou um trabalho, o que encurtou o tempo. Tive pouco tempo e fui pelo asfalto até Andradas, de onde entrei na terra original e no sobe sobe desce sobe do Caminho da Fé. 
Primeiro dia: Confesso que cheguei arrebentado em Casa Branca. Que calor! Fui pela sombra da estrada, pedalando no acostamento da contramão onde tinha sombra. Só havia passado por Casa Branca. É muito mais simpática do que imaginava. Muita construção preservada, vida pacata. Sanduíche de interior - grande, divino - sentado numa mesinha na rua vendo o povo passar e debaixo de um fim de tarde inesquecível onde os dois arcos íris passaram quase desapercebidos num céu de tons avermelhados fortes e sobreposições de nuvens de bordas brilhantes que raramente acontece. 
Casario no centro de Casa Branca
Dormi num hotel que originalmente é da virada do século XIX para o XX, com configuração de pousada de tropeiros, um corredor longo, vários quartos e um único banheiro. Foi reformado, foram tiradas as janelas originais, grandes, com venezianas de madeira, e foram instaladas janelas de pobre, aquelas de metal, pequenas, que abrem para a luz só um pedacinho, metade ou um terço. Foi construído um anexo, com certeza sem projeto, coisa de empreiteiro, mais provavelmente de pedreiro, que tem uma escadaria luxuosa (?) que se estreita para as colunas... A vista dos quartos é maravilhosa porque o hotel fica no topo do morro, mas só é possível aprecia-la de verdade passando a cabeça para fora da estreita janelinha. Eles acham que sabem o que é hotelaria e o brasileiro imagina que aquilo seja um hotel. Triste. 
No dia seguinte só pedalei até Vargem Grande do Sul, trecho curto, de novo pelo asfalto, de novo maravilhado com a beleza da paisagem. Como desperdiçamos oportunidades! Se tivéssemos infraestrutura decente provavelmente teríamos turismo para valer, incluindo de estrangeiros, traduzido em alguns bilhões de Reais. 
Andradas próxima parada e de lá entrei no Caminho da Fé original, pela terra. de Porto Ferreira até lá foram aproximadamente 130 km de asfalto com uma paisagem preciosa. No trecho do Estado de São Paulo a estrada é pedagiada e impecável. Entrou em Minas Gerais, minha amada Minas Gerais, e acostamento, asfalto, placas de sinalização, pintura de solo, tudo fica precário. A diferença é gritante. 
Como vinha pelo asfalto almocei num ótimo restaurante que fica a 2 km Andradas. Fica junto a um posto de gasolina; está integrado a um showroom e vendas de vinhos e outro de móveis, é novo, limpo, moderno, bem construído, com bom atendimento e boa comida. Estão terminando um hotel anexo. Um pouco antes da cidade um outro hotel está em construção. Andradas vai enfim receber dignamente seus visitantes. 
Pelas duas experiências que tive Andradas é uma cidade que se pudesse teria evitado. Pernoitar no Andradas Palace Hotel foi ruim. O Andradas Palace se vê de longe, um grande e alto edifício no meio da cidade, até pouco tempo uma espécie de monopólio da hotelaria andradense. Desagradável. Velho, mau cuidado, quartos mofados, banheiro feio, lençóis velhos... Felizmente abriram um outro hotel, pequeno, bem cuidado, que recebe bem os hóspedes e tem quartos bons, limpos, com ótimo banheiro, tudo novo. E um jantar delicioso. Nas outras vezes que passei por Andradas foi difícil achar onde comer. 
Confesso que a experiência de pedalar nas estradas paulistas daquela área me dá vontade de repetir a dose. A paisagem é linda, o trânsito é pouco, o acostamento seguro. Vale a pena. É deprimente ver tanta beleza e saber que o turismo no Brasil inexiste. Desperdiçamos mais uma riqueza, como sempre.
Casa Branca

Casa Branca

Casa Branca, praça central

Casa Branca
Vargem Grande do Sul

Vargem Grande do Sul
Vargem Grande do Sul

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