Mais uma vez no Caminho da Fé, desta
vez para terminar o que não fiz, o trecho entre Borda da Mata e Aparecida do
Norte.
Fui direto para Porto Ferreira em
ônibus. Como sempre na bilheteria fui avisado que a bicicleta precisaria estar
desmontada e embalada. Como sempre a tensão até chegar o motorista e liberar,
sempre com a mesma conversa: "ordens da empresa. Um ciclista se comportou
mal em Ribeirão Preto...". Bem, bicicleta embarcada, 4 horas de viagem,
paisagem conhecida, algumas sonecas, pinga-pinga em rodoviárias, e finalmente
Porto Ferreira às 13:00. Almoço rápido e pedal na estrada com um sol de rachar
coco rumo a Casa Branca, 44 km de estrada asfaltada e paisagem linda.
Gostaria de refazer o Caminho da Fé
pelo trajeto original, nas estradinhas de terra, e tinha me programado para
refaze-lo até que entrou um trabalho, o que encurtou o tempo. Tive pouco tempo
e fui pelo asfalto até Andradas, de onde entrei na terra original e no sobe
sobe desce sobe do Caminho da Fé.
Primeiro dia: Confesso que cheguei
arrebentado em Casa Branca. Que calor! Fui pela sombra da estrada, pedalando no
acostamento da contramão onde tinha sombra. Só havia passado por Casa Branca. É
muito mais simpática do que imaginava. Muita construção preservada, vida
pacata. Sanduíche de interior - grande, divino - sentado numa mesinha na rua
vendo o povo passar e debaixo de um fim de tarde inesquecível onde os dois
arcos íris passaram quase desapercebidos num céu de tons avermelhados fortes e
sobreposições de nuvens de bordas brilhantes que raramente acontece.
Casario no centro de Casa Branca |
Dormi num hotel que originalmente é da
virada do século XIX para o XX, com configuração de pousada de tropeiros, um
corredor longo, vários quartos e um único banheiro. Foi reformado, foram
tiradas as janelas originais, grandes, com venezianas de madeira, e foram
instaladas janelas de pobre, aquelas de metal, pequenas, que abrem para a luz
só um pedacinho, metade ou um terço. Foi construído um anexo, com certeza sem
projeto, coisa de empreiteiro, mais provavelmente de pedreiro, que tem uma
escadaria luxuosa (?) que se estreita para as colunas... A vista dos quartos é
maravilhosa porque o hotel fica no topo do morro, mas só é possível aprecia-la
de verdade passando a cabeça para fora da estreita janelinha. Eles acham
que sabem o que é hotelaria e o brasileiro imagina que aquilo seja um hotel.
Triste.
No dia seguinte só pedalei até Vargem
Grande do Sul, trecho curto, de novo pelo asfalto, de novo maravilhado com a
beleza da paisagem. Como desperdiçamos oportunidades! Se tivéssemos
infraestrutura decente provavelmente teríamos turismo para valer, incluindo de
estrangeiros, traduzido em alguns bilhões de Reais.
Andradas próxima parada e de lá
entrei no Caminho da Fé original, pela terra. de Porto Ferreira até lá
foram aproximadamente 130 km de asfalto com uma paisagem preciosa. No trecho do
Estado de São Paulo a estrada é pedagiada e impecável. Entrou em
Minas Gerais, minha amada Minas Gerais, e acostamento, asfalto,
placas de sinalização, pintura de solo, tudo fica precário. A
diferença é gritante.
Como vinha pelo asfalto almocei num
ótimo restaurante que fica a 2 km Andradas. Fica junto a um posto de gasolina; está
integrado a um showroom e vendas de vinhos e outro de móveis, é novo, limpo, moderno,
bem construído, com bom atendimento e boa comida. Estão terminando um hotel
anexo. Um pouco antes da cidade um outro hotel está em construção.
Andradas vai enfim receber dignamente seus visitantes.
Pelas duas experiências que tive
Andradas é uma cidade que se pudesse teria evitado. Pernoitar no Andradas
Palace Hotel foi ruim. O Andradas Palace se vê de longe, um grande e alto edifício no
meio da cidade, até pouco tempo uma espécie de monopólio da hotelaria
andradense. Desagradável. Velho, mau cuidado, quartos mofados, banheiro feio,
lençóis velhos... Felizmente abriram um outro hotel, pequeno, bem cuidado, que
recebe bem os hóspedes e tem quartos bons, limpos, com ótimo banheiro,
tudo novo. E um jantar delicioso. Nas outras vezes que passei por Andradas foi
difícil achar onde comer.
Confesso que a experiência de pedalar
nas estradas paulistas daquela área me dá vontade de repetir a dose. A paisagem
é linda, o trânsito é pouco, o acostamento seguro. Vale a pena. É deprimente
ver tanta beleza e saber que o turismo no Brasil inexiste. Desperdiçamos mais
uma riqueza, como sempre.
Casa Branca |
Casa Branca |
Casa Branca, praça central |
Casa Branca |
Vargem Grande do Sul |
Vargem Grande do Sul |
Carai, que inveja :-)
ResponderExcluirabraços meu caro
eric