O rascunho deste texto começou
depois que vi esta matéria da Globo
News: Fechamento do lixão estrutural de Barasília. No mesmo dia
havia saído para pedalar e quando parei para tomar café vi a funcionária da
doceira pegar uma bandeja cheia de doces do dia anterior e joga-los no lixo.
Ainda gritei "NÃO!", mas a lei manda. Assim uma barbaridade de
alimentos é desperdiçado neste país pobre e de muita fome. Não vou colocar
links aqui, mas fala-se em até 30% de desperdício de alimentos, o que é um
crime. Deprimente. Desperdiça-se tudo, despreza-se tudo. Lixo, lixo, lixo.
Estou restaurando um lindo móvel de banheiro que estava jogado numa caçamba. Lá
ainda estão um armário de cozinha e uma mesa de canto, os dois com madeira de
ótima qualidade. Lixo e entulho para todo lado. A quantidade de resíduos que
geramos no Brasil é uma vergonha pela qual não nos interessamos. Até onde vamos
varrer esta vergonha para debaixo do tapete?
Na Alemanha as padarias, depois que fecham no fim do dia, estão dando o pão que sobra das vendas para não desperdiçar e também para não pagar multa. A produção tem que ser o mais justa possível, também porque a margem de lucros é baixa, civilizada. Aliás, a margem de lucro é civilizada porque tudo é civilizado, não porque os comerciantes sejam politicamente corretos ou socialmente justos.
Os supermercados franceses
estão vendendo frutas e legumes de segunda linha, aqueles que não são lindos de
ver e que antes iam para o lixo.
Leonardo conta que participou
de um campeonato mundial de balonismo no Japão e que a organização avisou que
no fim do evento todos deveriam juntaram-se no centro da imensa área de onde
partiram os balões, para receber sacos de lixo, caminhar até as bordas do campo
e voltar para o centro catando todo lixo. Só saíram de lá quando o campo estava
absolutamente limpo. Leonardo conta com carinho a história.
A consciência sobre a
importância da limpeza para os japoneses é tão clara e impregnada que não há
lixeiras nas ruas. Se você tiver que descartar algo, gerar um lixo, você coloca
no bolso e leva para casa onde faz a separação para a coleta seletiva.
Dani entrou numa doceira em
uma pequena cidade da Suíça, pediu um doce, saiu pela rua comendo o doce e
acabou ficando com papeis na mão. Na frente de um açougue encontrou uma pequena
lixeira e lá depositou os papeis. O açougueiro viu, parou o trabalho, saiu
atrás e deu uma bronca em Dani. Em países civilizados a geração lixo
é cobrado muito caro e cada um deve que pagar pelo descarta.
Uma das mais agradáveis
recordações de minha vida foi o dia seguinte à passagem de um ano novo que
passei em Ilha Bela, litoral norte de São Paulo. Tivemos que sair cedo para
comprar pão e leite para a criançada, lá pelas 8:00 h, e demos com um centro de
cidade completamente limpo. A única coisa que se via da festa animada da noite
anterior eram os imensos sacos de lixo ordenados pela rua à espera do caminhão
de coleta. Emocionante!
Há um grupo de jovens de Vila
Madalena que sai pelas ruas catando lixo. Sei que há entidades que fazem
excursões para limpar locais sujos. São meus heróis! Interessante ver o espanto
de muitos quando veem alguém que não lixeiro ou varredor limpando a rua.
Pedalar na ciclovia do rio
Pinheiros é uma delícia e ao mesmo tempo muito triste. A quantidade de lixo de
todo tipo flutuando ou que aparece quando o nível da água suja e fedida do rio
está baixa é vergonhosa. Todo mundo acha um horror, mas pouquíssimos fazem
alguma coisa para mudar a situação. O importante é treinar, ponto. O resto é
responsabilidade das autoridades. Será?
O mais triste é que não dá
para conversar com o povo para que tenham um pouco mais de consciência
ambiental. Consciência sanitária então, nem pensar. Dizer para não jogar lixo
na rua é chamar para a briga. Lixo é uma questão que vai muito além da saúde
pública. Quanto mais limpo o ambiente, menor a possibilidade de risco de
doenças, várias delas. Quem se importa? Você gosta de baratas? Ratos? Pois
então.
Limpeza não é só ambiental,
para proteger bichinhos, plantinhas, ficar tudo verdinho. O politicamente
correto dos cuidados com o lixo ultrapassa muito o bom-mocismo. Limpeza foi e
continua sendo um dos pilares da construção da civilização, um dos elementos
básicos para ter um IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, descente,
digno.
Não gere lixo. E se gerar jogue o lixo no lixo.
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