terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Lixo e civilidade



O rascunho deste texto começou depois que vi esta matéria da Globo News: Fechamento do lixão estrutural de Barasília. No mesmo dia havia saído para pedalar e quando parei para tomar café vi a funcionária da doceira pegar uma bandeja cheia de doces do dia anterior e joga-los no lixo. Ainda gritei "NÃO!", mas a lei manda. Assim uma barbaridade de alimentos é desperdiçado neste país pobre e de muita fome. Não vou colocar links aqui, mas fala-se em até 30% de desperdício de alimentos, o que é um crime. Deprimente. Desperdiça-se tudo, despreza-se tudo. Lixo, lixo, lixo. Estou restaurando um lindo móvel de banheiro que estava jogado numa caçamba. Lá ainda estão um armário de cozinha e uma mesa de canto, os dois com madeira de ótima qualidade. Lixo e entulho para todo lado. A quantidade de resíduos que geramos no Brasil é uma vergonha pela qual não nos interessamos. Até onde vamos varrer esta vergonha para debaixo do tapete?

Na Alemanha as padarias, depois que fecham no fim do dia, estão dando o pão que sobra das vendas para não desperdiçar e também para não pagar multa. A produção tem que ser o mais justa possível, também porque a margem de lucros é baixa, civilizada. Aliás, a margem de lucro é civilizada porque tudo é civilizado, não porque os comerciantes sejam politicamente corretos ou socialmente justos. 
Os supermercados franceses estão vendendo frutas e legumes de segunda linha, aqueles que não são lindos de ver e que antes iam para o lixo. 
Leonardo conta que participou de um campeonato mundial de balonismo no Japão e que a organização avisou que no fim do evento todos deveriam juntaram-se no centro da imensa área de onde partiram os balões, para receber sacos de lixo, caminhar até as bordas do campo e voltar para o centro catando todo lixo. Só saíram de lá quando o campo estava absolutamente limpo. Leonardo conta com carinho a história.
A consciência sobre a importância da limpeza para os japoneses é tão clara e impregnada que não há lixeiras nas ruas. Se você tiver que descartar algo, gerar um lixo, você coloca no bolso e leva para casa onde faz a separação para a coleta seletiva.
Dani entrou numa doceira em uma pequena cidade da Suíça, pediu um doce, saiu pela rua comendo o doce e acabou ficando com papeis na mão. Na frente de um açougue encontrou uma pequena lixeira e lá depositou os papeis. O açougueiro viu, parou o trabalho, saiu atrás e deu uma bronca em Dani. Em países civilizados a geração lixo é cobrado muito caro e cada um deve que pagar pelo descarta.

Uma das mais agradáveis recordações de minha vida foi o dia seguinte à passagem de um ano novo que passei em Ilha Bela, litoral norte de São Paulo. Tivemos que sair cedo para comprar pão e leite para a criançada, lá pelas 8:00 h, e demos com um centro de cidade completamente limpo. A única coisa que se via da festa animada da noite anterior eram os imensos sacos de lixo ordenados pela rua à espera do caminhão de coleta. Emocionante! 
Há um grupo de jovens de Vila Madalena que sai pelas ruas catando lixo. Sei que há entidades que fazem excursões para limpar locais sujos. São meus heróis! Interessante ver o espanto de muitos quando veem alguém que não lixeiro ou varredor limpando a rua. 

Pedalar na ciclovia do rio Pinheiros é uma delícia e ao mesmo tempo muito triste. A quantidade de lixo de todo tipo flutuando ou que aparece quando o nível da água suja e fedida do rio está baixa é vergonhosa. Todo mundo acha um horror, mas pouquíssimos fazem alguma coisa para mudar a situação. O importante é treinar, ponto. O resto é responsabilidade das autoridades. Será?
O mais triste é que não dá para conversar com o povo para que tenham um pouco mais de consciência ambiental. Consciência sanitária então, nem pensar. Dizer para não jogar lixo na rua é chamar para a briga. Lixo é uma questão que vai muito além da saúde pública. Quanto mais limpo o ambiente, menor a possibilidade de risco de doenças, várias delas. Quem se importa? Você gosta de baratas? Ratos? Pois então.
Limpeza não é só ambiental, para proteger bichinhos, plantinhas, ficar tudo verdinho. O politicamente correto dos cuidados com o lixo ultrapassa muito o bom-mocismo. Limpeza foi e continua sendo um dos pilares da construção da civilização, um dos elementos básicos para ter um IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, descente, digno. 

Não gere lixo. E se gerar jogue o lixo no lixo.

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