segunda-feira, 3 de julho de 2017

despolitizar, negociar

Andei ouvindo mais algumas conversas sobre o que fazer com o "sistema cicloviário" de São Paulo. Todos perdidos no espaço. O que fazer? Que passos dar daqui para frente? Como abrir espaços na Prefeitura? Muitas reclamações, muitos comentários, poucas respostas práticas. É de se esperar que no meio de toda esta baderna generalizada que vivemos no Brasil o pessoal esteja um tanto desorientado. Pelo menos tenho ouvido que "precisa despartidarizar", o que para o que tínhamos até ontem parece ser uma mudança de posição inacreditável de um pessoal que até pouco tempo não conseguia sequer ser objetivo e confundia ciclovia com Brasília. Uns ainda confundem.
Diz a sabedoria milenar que para sair de uma situação confusa é preciso dar um primeiro passo. Despolitizar é sem dúvida um belo passo rumo à luz do túnel.
Tive uma breve e superficial experiência com a coisa pública e aprendi que lá dentro as coisas fogem um pouquinho, só um pouquinho, da lógica e bom senso esperados. Tipo assim: em 2005 numa vistoria em Interlagos \ Grajaú dei de cara com a Ponte Vitorino Goulard da Silva, em Jurubatuba, paralela a barragem da represa Billings, já em estado avançado de obras. Ninguém do projeto GEF Banco Mundial para bicicletas na periferia, que reunia mais de 10 Secretarias da Prefeitura e Estado, mais CET e outros, inclusive sociedade civil, sabia da existência sequer do projeto da bendita ponte. Olharam com cara de espanto para mim, como se eu estivesse surtando, e só acreditaram quando mostrei as fotos, pior, quando foram ver pessoalmente. É uma burocracia e corporativismo infernal, um jogo de esconde-esconde ridículo. Até o diabo em pessoa deve achar aquilo fora do controle, coisa de maluco. É obvio que foi projetada e concluída com uma calçada acanhada para receber o trânsito partilhado de pedestres e ciclistas, mesmo sendo uma das áreas com maior número de ciclistas da cidade. 
Ouvi num passado não muito distante de muitos cicloativistas que "dar um passo atrás é inaceitável". Negociar, uau, estão falando em negociar, tem um pessoal falando em conversar, negociar. Bravo!
O escritor israelense Amos Oz em sua palestra para o Fronteiras do Pensamento disse 'Fanáticos sempre esperam respostas simples' e completou o pensamento com a esperança que o cansaço de conflitos vai abrir espaço para diálogo e acordos. Citou a história da humanidade como base para suas ideias. E assim é porque assim sempre foi.
Mais incrível ainda é que já ouvi aqui e ali vozes de ciclistas falando que “a cidade existe” e que “o sistema cicloviário deve estar integrado a cidade”. Um não exclui o outro, muito pelo contrário. Ainda vão chegar lá, calma que vão chegar lá. 

Sistema cicloviário não é o fim, é o meio. 

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